CIDADANIA

Cadeirante atropelado em faixa de pedestres morava no Viaduto do Baldo e foi vítima de 6 remoções da Prefeitura de Natal nos últimos 2 anos

Apesar da dificuldade de locomoção, o cadeirante João Maria Duarte Bonifácio, de 49 anos, atropelado no último sábado (12), quando atravessava uma faixa de pedestres a poucos metros do Viaduto do Baldo, onde morava, já tinha passado por seis processos de remoção pela prefeitura de Natal apenas nos últimos dois anos.

João Maria era uma pessoa com deficiência física em situação de rua. Sua condição deveria ter lhe colocado na lista de prioridades para concessão do aluguel social, benefício ao qual ele nunca chegou a ter acesso, de acordo com os membros do Movimento Nacional da População de Rua no Rio Grande do Norte (MNPR – RN).

Essa morte de João Maria nos faz pensar em muitas coisas, inclusive, na ausência de políticas públicas pra essa população. Se ele estava embaixo de um viaduto, era porque não tinha onde ficar, não há vagas no abrigo. São cerca de 50 vagas, mas 70 pessoas estão numa fila de espera. Essa é uma problemática antiga e o município não busca soluções, quando tenta fazer algo é na questão da higienização e da retirada de pertences. Essa morte significa muitas coisas, a ausência da Prefeitura de Natal e a desumanidade do município porque quando tem pessoas embaixo do Viaduto do Baldo e em outros locais, como no INSS da Ribeira e o ‘Suvaco da Cobra’, que é aquela extensão do Viaduto do Baldo, perto do Passo da Pátria, não há políticas que abarquem essas necessidades. Lutamos muito por isso, mas depende muito da gestão, da vontade política”, critica Vanilson Torres, integrante da Coordenação do Movimento Nacional da População de Rua no RN.

Foto: Carol Lopes I João Maria chegou a ter a cadeira de rodas jogada em caminhão de despejo

As “higienizações” às quais Vanilson se refere são as retiradas da população marginalizada da vista de quem passa por esses locais. As expulsões feitas pela prefeitura de Natal, comandada por Álvaro Dias (PSDB), acontecem sem qualquer aviso prévio.

No caso do Viaduto do Baldo, para retirar as pessoas do local, foram enviadas viaturas da Guarda Municipal, barracos foram derrubados e os objetos das pessoas, colocados em um caminhão. O próprio João Maria, em uma das remoções, chegou a ter a cadeira de rodas atirada no caminhão de despejo.

Enquanto muitos de nós renovávamos os planos de vida com a chegada do natal e réveillon do ano passado, João Maria enfrentava duas últimas expulsões feitas pela Prefeitura de Natal, sendo uma no Natal e outra na véspera do ano novo de 2021.

Pelo vídeo de monitoramento eletrônico do trânsito do município é possível ver que João Maria começa a atravessar a faixa depois que um casal de moto para na faixa. Mas, um carro surge logo na sequência, atropela o casal, bate em João Maria e ainda passa por cima dele. João Maria foi socorrido ao Hospital Walfredo Gurgel, mas acabou morrendo na manhã do dia seguinte.

Quantos João Maria, quantos Josés, quantas Marias, Francicos e Antônias precisarão ficar embaixo do Viaduto do Baldo ou em outros locais para que a prefeitura tome alguma providência? Quantas pessoas ainda morrerão pela negligência do município de Natal em criar políticas públicas que garantam de fato, de verdade, acolhimento ou a saída das ruas dessa população?”, questiona Vanilson Torres.

IMAGENS FORTES do atropelamento:

 

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