Livro apresenta a história e a vida na Ribeira, bairro punido pelo abandono
Natal, RN 29 de mar 2024

Livro apresenta a história e a vida na Ribeira, bairro punido pelo abandono

26 de fevereiro de 2022
5min
Livro apresenta a história e a vida na Ribeira, bairro punido pelo abandono

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Memórias, imagens e um diagnóstico desfavorável - de abandono - sobre o bairro Ribeira, de Natal, Rio Grande do Norte, estão presentes no livro “Ribeira: beco, praça, travessas, ruas, avenidas históricas”, escrito por Cícero Oliveira, José Clewton do Nascimento e José Correia Torres Neto, e editado pelo Caravela Selo Cultural. O título foi contemplado pelo Edital Economia Criativa de 2021, apoiado pela Livraria Cooperativa Cultural e pelo Adurn Sindicato; deve ser lançado em março, mas já está à venda.

“Este livro é uma pequena mostra do que se esvai…”, diz a apresentação, mas não só isso. O trabalho é um recorte do bairro histórico da capital potiguar e de como as pessoas convivem com ele.

Cada autor contribuiu com sua própria relação com a cidade e experiência profissional. O jornalista e fotógrafo Cícero é quem assina os cliques em preto e branco que se estendem de capa a capa, contando com o auxílio dos textos, que têm aspectos históricos e foram escritos pelo engenheiro mecânico José Correia e pelo arquiteto e urbanista José Clewton.

Correia detalha a produção da obra: “Primeiro, eu e o fotógrafo fizemos um tour para fazer as fotos. Já tínhamos mapeado, com referências bibliográficas, e fomos até os prédios mais significativos. A gente listou umas 100 imagens. O arquiteto fez uma triagem e esse conjunto fechou o livro, que é dividido em duas partes: histórico arquitetônico e a segunda parte só fotografias”.

Uma das intenções do trio é apresentar a Ribeira de forma humanizada. Por isso, a bailarina da Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (Edtam) da capa; e nas páginas, o trabalhador na oficina, o senhor no restaurante, a mulher que cozinha, o pescador subindo as escadas, o malabarista no trânsito, os transeuntes, os ciclistas, o praticante de remo, o soldador, o gato que observa.

“Apesar do abandono, ainda tem gente lá, a população que ganha ainda a vida, mesmo em prédios depreciados, com profissões interessantes que a gente pensa que acabaram. Tem um cidadão na [rua] Frei Miguelinho, que conserta exclusivamente máquina de escrever; pessoas que têm lojinhas de material de pesca artesanal. A gente pensa que não tem mais”, relata admirado.

Correia comenta que um dos momentos mais interessantes foi quando encontraram na Rua Chile vestígios de uma ponte de ferro que atravessava a rua. “Tínhamos a informação de que, no século 19, uma ponte ligava um armazém de algodão ao outro lado da Rua Chile, que era muito movimentada, de carro e de trem. Ficava difícil os trabalhadores passarem com fardos de algodão. Essa ponte foi retirada, mas pelas pesquisas localizei os dois prédios e conseguimos identificar”.

Na paisagem, estão o Rio Potengi e construções que vão do tipo “porta e janela”, passando por galpões, até grandes sobrados. Apenas cerca de 30% estão sendo usados. Tudo hoje é marcado pelo tempo, aquele em que foram erguidas, e todos os que compõem a sua idade. A leitura dá detalhes sobre estilos e alterações.

Na rua 13 de Maio, por exemplo, é possível ver na mesma imagem o contraste com relação ao estado de conservação de edifícios que se destacam. “Enquanto um carece de ações de conservação, o outro, que recebe ações vinculadas à Casa da Ribeira, é um notável exemplo de que é possível se pensar de forma concreta em ações de valorização do patrimônio cultural - material e imaterial - da ‘Ribeira velha de guerra’”, aponta o texto.

Andar pelas centenárias ruas causam aos escritores nostalgia e angústia. José Correia lembra que o bairro esteve presente em diferentes momentos de sua vida, como em de tantas pessoas. “Quando criança, o lugar para onde meu pai me levava para passear era a Ribeira. Tinha aquela efervescência comercial. E na universidade descobri a Ribeira cultural, o Café Salão de Nalva Melo, a Casa da Ribeira, o Giradança, as viradas culturais…”.

A publicação está à venda na Livraria Cooperativa Cultural, que fica no Centro de Convivência da UFRN, número 8. A loja funciona das 8h às 17h, de segunda a sexta, presencial e delivery.

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