Exagero da política do “mete um atestado” cansa até o eleitor de Bolsonaro
Natal, RN 25 de abr 2024

Exagero da política do "mete um atestado" cansa até o eleitor de Bolsonaro

29 de março de 2022
Exagero da política do

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Exagero da cultura do "mete um atestado" cansa até o eleitor de Bolsonaro

Todo mundo já trabalhou com alguém que seguidamente apresentava um atestado médico para não trabalhar ou fugir de uma demanda importante. Da mesma forma que conhecemos todos quem "adoece" de repente para não ir a um compromisso de relevância ou uma tarefa espinhosa, como pintar uma casa ou subir uma geladeira três andares.

Essa cultura do "mete um atestado" é comum na vida brasileira cotidiana que em muito se pautou na "lei do Gerson", aquela na qual o importante é "levar vantagem em tudo". Escapar das dificuldades estando doente, acamado ou indo parar em um hospital, se não for realmente grave ou uma emergência, é uma forma de se levar vantagem.

Todas essas elucubrações ao ler a notícia de que o despresidente Bolsonaro bateu novamente no hospital na noite de ontem, segunda-feira, por suposta indisposição intestinal. Quem sou eu para duvidar das dores alheias? Mas este texto foi motivado não pela internação no Messias em si, mas sim pela repercussão na mídia e redes sociais.

Resolvi por curiosidade jornalística (e maldosa, admito) acessar a notícia da internação em três portais com tendências conservadoras/direitistas (que atraem justamente leitores deste espectro ideológico, logo, com tendência a apoiar Bolsonaro) e li com atenção os comentários. Muitos, na verdade quase todos, ridicularizando o ocorrido. "Toda vez que estoura uma crise Bolsonaro para no hospital", escreveu um. "Espera só quando chegar os debates se ele não mete outros atestados", sentenciou outro. "Já está cansando isso dele bater no hospital toda hora", apontou um terceiro. E por aí vai.

A percepção é que parte do eleitorado não-fanático de Bolsonaro já assimilou as idas e vindas ao hospital como parte da cultura do "mete um atestado". Muito disso por causa da espetacularização. Com fartura de fotos de Jair acamado ou andando de bata de paciente hospitalar pelos corredores, o efeito em vez de sensibilizar, gera o oposto: cansaço e pilhéria. Parte da população lembra que tanto Lula como Dilma lutaram contra o câncer de maneira discreta e sem explorar politicamente seus casos clínicos.

A campanha promete ser acirrada. Lula lidera as pesquisas, mas Bolsonaro mantém seu núcleo duro no patamar de 25% do eleitorado que impede o surgimento da tal "segunda via". O problema - para ele - é que para além deste 25% que acredita em absolutamente tudo que ele disser, numa relação de seita religiosa mesmo, os demais que votaram nele ou apoiam timidamente, gostariam de ver mais trabalho e gestão. São eleitores que odeiam Lula e o PT e tendem a votar em Bolsonaro, mas estão se cansando do teatro das internações e sentindo que estão sendo vítimas da política do "mete um atestado".

O bolsonarismo vem cometendo alguns tiros no pé. A má gestão diante do escândalo com o recém demitido ministro da Educação Milton Ribeiro, que irritou até pastores aliados, somado à tentativa de censurar o festival de música Lollapalooza desgastaram o Jair ainda mais. A, digamos coincidência de sofrer uma indisposição intestinal justamente após esses dois acontecimentos também pegou mal. Bolsonaro está exagerando nos mesmos truques. Tanto que nas redes sociais uma pessoa, que aparentemente votou em Jair em 2018, comentou: "Já sei que teremos outra facada nas vésperas dos debates e da eleição". É preciso lembrar que o bolsonarismo também maximizou a facada e até hoje faz ilações políticas sobre o crime, devidamente investigado pela Polícia Federal que constatou a ação solitária de Adélio e o perfil de insanidade dele. Minha avó já dizia que tudo que é demais é muito. E o bolsonarismo está exagerando demais nos "atestados".

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