Notícias de portais do RN violaram direitos humanos de pessoas trans, expõe pesquisa de mestrado
Natal, RN 29 de mar 2024

Notícias de portais do RN violaram direitos humanos de pessoas trans, expõe pesquisa de mestrado

31 de março de 2022
3min
Notícias de portais do RN violaram direitos humanos de pessoas trans, expõe pesquisa de mestrado

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Uma pesquisa acadêmica constatou que, entre os anos de 2014 e 2018, as principais notícias em que apareceram travestis e transexuais nos portais de notícias do Rio Grande do Norte selecionados violaram direitos humanos dessas pessoas. Os textos se encaixavam em quatro categorias: envolvimento com o crime ou pessoas criminosas; relação com a prostituição ou com drogas; suspeita de cometer crime; e vítima de transfobia: violência de gênero e assassinato.

A dissertação de mestrado “Violações de Direitos Humanos pela Mídia: uma análise sobre a transfobia nos portais de notícias online do RN e sua representação social”, da jornalista Janaína Lima, estudante do Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPgEM-UFRN), foi apresentada na tarde desta quinta-feira (31) em plataforma online.

O trabalho de análise do discurso investigou 10 notícias publicadas pelos portais Agora RN, Nominuto.com, G1 RN, VNT e Blog do BG. O desrespeito ao nome social ocorreu em 7 das 10 e o desrespeito à presunção de inocência em duas delas. A pesquisa revela que a exposição do nome de nascimento não é vista como um "problema" pelos produtores de conteúdo. Ao contrário, o nome é usado como "verdadeiro".

Janaína é mulher transexual e atualmente coordenadora estadual de Diversidade Sexual de Gênero da Secretaria de Estado das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (Semjidh).

“Assumir esse problema e enfrentá-lo não é uma tarefa fácil, mas necessária. Discutir que a mídia faz parte de uma rede de violências simbólicas e consequentemente social é compreender que esta sociedade e suas relações precisam ser transformadas”, relata nas considerações finais do trabalho, que contou com os professores doutores Daniel Dantas Lemos (orientador-UFRN), Adriano Charles da Silva Cruz (UFRN) e Amanda Cavalcante de Oliveira Lêdo (UFPE) na banca examinadora.

O estudo cita pesquisadores como Berenice Bento, Almeida, Jaqueline de Jesus, Guacira Lopes Louro, Judith Butler, Marilena Chauí e Van Dijk.

De acordo com Janaína Lima, a reprodução discursiva da transfobia nas notícias contribui para a desvalorização da vida dessa população e amplia a exclusão e marginalização na sociedade. Ela conclui que a produção de conteúdo na mídia precisa ser revista, seja na formação profissional nas universidades, seja em capacitações junto às empresas de comunicação. Também destaca a necessidade de fiscalização dos meios de comunicação quanto à violação dos direitos humanos.

“Nosso esforço em refletir sobre o modelo de discurso transfóbico é antes de tudo um compromisso com a comunicação e com a vida desta população que é diariamente ceifada e estigmatizada”, ressalta a pesquisadora.

O orientador classificou o momento como histórico. “Você não representa só você”, disse ele a Janaína, primeira mestra trans em Estudos da Mídia pela UFRN.

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