Uma pesquisa acadêmica constatou que, entre os anos de 2014 e 2018, as principais notícias em que apareceram travestis e transexuais nos portais de notícias do Rio Grande do Norte selecionados violaram direitos humanos dessas pessoas. Os textos se encaixavam em quatro categorias: envolvimento com o crime ou pessoas criminosas; relação com a prostituição ou com drogas; suspeita de cometer crime; e vítima de transfobia: violência de gênero e assassinato.
A dissertação de mestrado “Violações de Direitos Humanos pela Mídia: uma análise sobre a transfobia nos portais de notícias online do RN e sua representação social”, da jornalista Janaína Lima, estudante do Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPgEM-UFRN), foi apresentada na tarde desta quinta-feira (31) em plataforma online.
O trabalho de análise do discurso investigou 10 notícias publicadas pelos portais Agora RN, Nominuto.com, G1 RN, VNT e Blog do BG. O desrespeito ao nome social ocorreu em 7 das 10 e o desrespeito à presunção de inocência em duas delas. A pesquisa revela que a exposição do nome de nascimento não é vista como um “problema” pelos produtores de conteúdo. Ao contrário, o nome é usado como “verdadeiro”.
Janaína é mulher transexual e atualmente coordenadora estadual de Diversidade Sexual de Gênero da Secretaria de Estado das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (Semjidh).
“Assumir esse problema e enfrentá-lo não é uma tarefa fácil, mas necessária. Discutir que a mídia faz parte de uma rede de violências simbólicas e consequentemente social é compreender que esta sociedade e suas relações precisam ser transformadas”, relata nas considerações finais do trabalho, que contou com os professores doutores Daniel Dantas Lemos (orientador-UFRN), Adriano Charles da Silva Cruz (UFRN) e Amanda Cavalcante de Oliveira Lêdo (UFPE) na banca examinadora.
O estudo cita pesquisadores como Berenice Bento, Almeida, Jaqueline de Jesus, Guacira Lopes Louro, Judith Butler, Marilena Chauí e Van Dijk.
De acordo com Janaína Lima, a reprodução discursiva da transfobia nas notícias contribui para a desvalorização da vida dessa população e amplia a exclusão e marginalização na sociedade. Ela conclui que a produção de conteúdo na mídia precisa ser revista, seja na formação profissional nas universidades, seja em capacitações junto às empresas de comunicação. Também destaca a necessidade de fiscalização dos meios de comunicação quanto à violação dos direitos humanos.
“Nosso esforço em refletir sobre o modelo de discurso transfóbico é antes de tudo um compromisso com a comunicação e com a vida desta população que é diariamente ceifada e estigmatizada”, ressalta a pesquisadora.
O orientador classificou o momento como histórico. “Você não representa só você”, disse ele a Janaína, primeira mestra trans em Estudos da Mídia pela UFRN.