Para onde caminha Ezequiel?
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Para onde caminha Ezequiel?

17 de março de 2022
5min
Para onde caminha Ezequiel?

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À exceção dos partidos que tem uma estrutura ideológica mais visível, no caso o PCdoB, o PT e o PSOL, a história tem demonstrado que os partidos políticos no Rio Grande do Norte são estruturados a partir de grupos de interesse, principalmente familiares, o que nos remete ao nascimento do estado, forjado em fazendas e que, por sua condição autônoma de sobrevivência dessas unidades, os laços familiares e o compadrio são a marca central da dominância política que vem desde os Capitães Mores, passando pelos presidentes de província e governadores.

O legislativo potiguar, criado em 1835, é a própria essência dessa estruturação política, que tem como base a economia e ao longo do tempo, sua formatação obedeceu a essa lógica de preenchimento. Foram as lideranças locais, principalmente as interior, que construíram esse edifício do poder local. Pode parece assustador, mas essa é a lógica que prevalece até os dias de hoje.

O troca-troca de partidos, sem nenhuma justificativa ideológica, mas antes de tudo pautada pelos interesses de grupos e de indivíduos que querem se posicionar no campo da luta política, foi normalizada e não assusta mais os eleitores, eles próprios forjados nessa “cultura política” de “um voto por um favor”, o que torna mais fácil a cooptação do voto, algo visto em todas as eleições, mesmo que estejamos em pleno século XXI.

Dito isto, a movimentação para a formação das chapas majoritárias, para governo e Senado, continua a todo vapor e, tal qual ocorria no Império, as “lideranças nacionais” exercem um “poder de fato” sobre os que já detém cargos públicos e isso interfere nas decisões pessoais deste sobre onde e como se posicionar no processo eleitoral que efetivamente está em curso. No momento a “liderança nacional” é ministro Rogério Marinho cuja força está ancorada na dinheirama despejada por ele para prefeitos e nas promessas para aqueles que se coloquem sob sua liderança, no caso o atual presidente da Assembleia Legislativa, hoje no PSDB, mesmo partido de Marinho, o algoz dos trabalhadores brasileiros. Há, portanto, um compromisso entre Ezequiel e Marinho.

Ocorre que enquanto Ezequiel, como uma liderança política que segue a lógica histórica de que os compromissos políticos são movidos a interesses próprios e do seu grupo, apoia, até agora, a governadora Fátima Bezerra e o seu governo de caráter progressista, enquanto Marinho se move pelo ódio ao PT, um ressentimento que o fez abraçar as teses fascistas do bolsonarismo, tornando-se um verdadeiro “cão de guarda” do Mandrião em terras potiguares. Mas essa visão diferente nunca foi e certamente não será empecilho para as movimentações de Ezequiel.

Os “balões de ensaio” são lançados praticamente todos os dias e convergem para um possível rompimento entre Ezequiel e Fátima. Vejam que estou falando de nomes, já que, em nível nacional, PSDB e PT são hoje arqui-inimigos, o que corrobora com a nossa “cultura política” local.

A dança das cadeiras, comum por essas paragens, certamente mudará a composição política da Assembleia Legislativa, uma imoralidade política pois mostra que os deputados estaduais não qualquer relação com qualquer tipo de compromisso partidário e usa e abusa do eleitorado para ter seus votos como “capital político” para futuras negociações.

O que, de fato, impressiona é o cinismo dos políticos locais, nas mais estapafúrdias desculpas para mudarem de partido ou, como se diz a boca comum, “mudar de lado”. Muda-se como o vento muda de direção e esse rearranjo é meramente eleitoreiro, garantindo, caso tenha sucesso, cotas de nomeação de seus apadrinhados; ligações com os chefetes locais, os prefeitos, criando seu pequeno exército de apoiadores permanentes; e literalmente “vendendo” seu apoio a candidatos ao Senado e ao governo do estado.

O fato é que Ezequiel, e o seu grupo, apostam no fortalecimento do PSDB, para que este tenha boas cartas nas negociações, que certamente estão ocorrendo e Marinho, seu “mentor”, deve estar trabalhando para a candidatura do presidente da Assembleia Legislativa, certamente forrado de recursos governamentais que sem dúvida virão, nas barbas dos órgãos de controle.

Mas o próprio Ezequiel, tornado a “noiva” da ocasião, sabe que esse xadrez comporta as manobras do grupo dos Alves, em franca decadência devido ao envelhecimento dos seus membros, assim como as pendengas familiares, mas que ainda tem muita força política, a ponto de fazer com que Fátima faça acenos para uma aliança que, se ocorrer, encerra toda e qualquer tentativa da oposição em bater de frente com a governadora.

Não teremos nada de novo nesse processo eleitoral e as movimentações políticas seguem essa “cultura política” histórica e, portanto, não devemos nos surpreender com qualquer tipo de aliança feita, geralmente nas cúpulas partidárias e que seguem uma lógica própria na luta pelo poder.

Na luta política não há espaço para mudanças profundas no modus operandis, visto que, para que isso ocorra, deveria haver uma transformação radical da base que a sustenta e isso certamente não está na ordem do dia.

Aguardemos.

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