CULTURA

Documentário “Quem Tem Medo?” mostra censura que ator potiguar José Neto Barbosa sofreu

A violência e a censura que o ator potiguar José Neto Barbosa sofreu com o monólogo “A Mulher Monstro”, em que é ator, diretor e dramaturgo, estão no documentário “Quem Tem Medo?”, dirigido por Dellani Lima, Henrique Zanoni e Ricardo Alves Jr.

O filme estreou neste final de semana, em São Paulo, no 27º É Tudo Verdade It’s All True 2022 – Festival Internacional de Documentários, considerado um dos maiores do gênero na América Latina, e tem exibições presenciais e online, das 17h do domingo (10) até as 5h da terça (12).

O longa-metragem de 1h11 narra a ascensão da extrema direita no Brasil sob a ótica de artistas que tiveram suas obras censuradas. Além de José Neto Barbosa, aparecem os casos de Wagner Schwartz (SP), Renata Carvalho (SP), Maikon K (PR) e das montagens de “Caranguejo Overdrive” (Aquela Cia de Teatro, RJ) e “RES PUBLICA 2023 (A Motosserra Perfumada, SP).

Em “A Mulher Monstro”, da S.E.M. Cia de Teatro, a personagem expõe a monstruosidade que existe por trás do discurso um fascista e preconceituoso, a partir de falas produzidas por políticos, personalidades famosas e pessoas que José Neto conhece. É inspirado na Mulher Monga dos circos e tem como referência o conto Creme de Alface, de Caio Fernando Abreu, escrito em 1975 durante a ditadura militar e lançado em 1994.

No documentário, ele conta que um grupo bolsonarista chegou a jogar uma pedra em um momento de luz baixa. Por sorte, a jaula da cena o protegeu, mas não do medo e do estresse pós-traumático.

“Foi bom porque o espetáculo aconteceu e incomodou eles, sabe? Quando sai gente da plateia é quando eu atinjo a minha excelência de trabalho, a minha verdade. Eu faço pra o povo sair do espetáculo”, disse. “Um deles levantou e disse: – Isso é teatro ou é política? Aí outra menina disse: – Isso é teatro e política! Eles começaram a discutir no meio da plateia”, conta na entrevista realizada no começo de 2020, pouco antes da pandemia, para entrar no filme que começou a ser filmado em 2017.

José Neto descreve que esse não foi o único caso. Passou ainda por censuras institucionalizadas, foi proibido de se apresentar em alguns lugares no Brasil e perdeu patrocinadores por falar de política. No Paraná, a programação seria no Memorial de Curitiba e, às vésperas, foi informado do cancelamento, apresentando-se posteriormente nas Ruínas de São Francisco.

“É muito significativo ter a minha trajetória e o meu trabalho eternizados no cinema nacional. Principalmente por ser um filme que documenta a luta dos artistas brasileiros contra toda a violência envolvida por trás da palavra censura, contra o crescimento do fascismo e, até mesmo, dos movimentos neonazistas”, avalia, lembrando que o documentário inclui cenas do espetáculo, que existe desde 2016 e ganha novas cenas, performances e falas a cada nova apresentação: “Todos os dias aparecem monstruosidades nos jornais e a gente lida com isso na cena”.

A primeira de uma longa sequência promovida pelo governo Bolsonaro foi a extinção do Ministério da Cultura, lembra o artista.

“Um país sem cultura é um país doente. Hoje vivemos num Brasil onde não há vergonha de ser preconceituoso, intolerante ou violento. Banalizaram a violência. O filme fala de tudo isso. Alegro o coração em saber que esse registro, como denúncia, como manifesto, é mais um passo da nossa história por um país mais livre, artístico e democrático”, conclui o responsável pelo sucesso de “A Mulher Monstro”, premiado Melhor Monólogo (2017) do Teatro Nacional pela Academia de Artes no Teatro do Brasil. Recentemente, venceu os Prêmios Copergás de Melhor Ator e Melhor Espetáculo do Festival Internacional Janeiro de Grandes Espetáculos de Pernambuco (2022). A S.E.M. Cia de Teatro totaliza 25 premiações, menções honrosas e indicações como Melhor Ator e de Direção, entre festivais de teatro e cinema, por esse trabalho.

Confira o trailer de “Quem tem medo?”:

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Isabela Santos é jornalista e repórter da agência Saiba Mais