Esperança Garcia: ato simbólico no Piauí troca nome de ditador em avenida por lutadora negra
Natal, RN 29 de mar 2024

Esperança Garcia: ato simbólico no Piauí troca nome de ditador em avenida por lutadora negra

4 de abril de 2022
5min
Esperança Garcia: ato simbólico no Piauí troca nome de ditador em avenida por lutadora negra

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Vítimas da violência do Estado brasileiro nos 21 anos do regime militar (1964-1985), ex-presos políticos e parentes de mortos e desaparecidos, além de militantes marcadamente jovens que integram as siglas partidárias perseguidas pela ditadura, ocuparam um trecho de uma das principais avenidas do Piauí nas primeiras horas do último domingo, 3. Em ato simbólico, rebatizaram a avenida Presidente Castello Branco com o nome de uma piauiense, negra, que conseguiu vencer a escravidão lhe imposta e se tornou a primeira mulher advogada do estado, Esperança Garcia.

A ação realizada pelos Comitês e Comissões pela Verdade, Memória e Justiça do Norte e Nordeste, além de representações do Rio de Janeiro e São Paulo, que estiveram reunidos no último fim de semana em Teresina, integra uma disputa no Brasil pelos espaços de memória, com a alteração de nomes de logradouros públicos que homenageiam figuras ligadas ao regime ditatorial. Para os presentes, uma medida simbólica de rompimento com o passado autoritário e combate ao esquecimento.

Pedro Laurentino Reis Pereira, presidente do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Teresina
Pedro Laurentino Reis Pereira, presidente do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Teresina

Não podemos mais conviver diariamente com homenagens aos responsáveis pelos anos mais obscuros da sua história e aos seus crimes”, afirmou Pedro Laurentino Reis Pereira, presidente do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Teresina. Ex-preso político na ditadura, ele foi vereador da capital pernambucana (Recife) e piauiense (Teresina).

Ele assinala que esse é o caso da Avenida Presidente Castello Branco, no Piauí. Ela foi batizada em referência ao general que tomou o poder no Golpe de 1964 – iniciando um período de autoritarismo que censurou a imprensa, fechou o Congresso, prendeu, sequestrou, torturou e matou aqueles que se opuseram ao regime.

De forma pedagógica, Adriano Diogo, que presidiu a Comissão da Verdade de São Paulo, foi vereador da capital paulista e deputado estadual, se dirigiu aos artesões que expunham seus produtos no local do ato, e à população que passava e observava o movimento, para falar da importância de superar os entulhos autoritários no país. “Pode parecer estranho que um grupo de pessoas de todo o país venham aqui, neste domingo pela manhã, para reivindicar a troca do nome do Marechal Castello Branco pelo nome de uma senhora aqui de Teresina, chamada Esperança Garcia. Mas estamos nos primeiros dias de abril, que marca o início de um dos períodos mais terríveis da história do Brasil. E foi esse marechal que deu início a esse processo”, pontuou.

Está chegando a hora do Brasil passar seu passado a limpo, começar a remover essas marcas terríveis da escravidão, da ditadura, dos assassinatos”, ressaltou Adriano Diogo.

Em todo o país, são muitas ruas nomeadas em homenagem a violadores de direitos humanos de nossa história – incluindo aqueles que estão entre os 377 apontados como responsáveis por torturas e mortes pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), que investigou os crimes do Estado no período de 18 de setembro de 1946 a 5 de outubro de 1988, principalmente aqueles ocorridos durante a ditadura militar.

Um mapeamento feito pela Agência Pública, através de uma plataforma colaborativa em que cada usuário pode adicionar e atualizar informações sobre localizações geográficas e endereços, a OpenStreetMap, aponta que no Brasil são aproximadamente 160 km de extensão de vias homenageando os mortos pelo Estado durante o regime contra mais de 2000 km que fazem referência aos violadores. Só no Piauí, são 16,3 km de extensão com nomes de ditadores.

É muito importante que o Rio Grande do Norte consiga avançar nesse debate da Memória, Verdade e Justiça na construção das Comissões que lutem pela justiça da memória daqueles que foram torturados durante o regime, pela punição dos agentes da ditadura e contra qualquer falsificação histórica”, assinalou Lorran Silva, coordenador geral do DCE da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Além do Comitê Memória, Verdade, Memória e Justiça do Rio Grande do Norte, representado por Roberto Monte, e do Diretório Central dos Estudantes José Silton Pinheiro, movimentos, entidades e a imprensa alternativa do Estado participaram do 7º Encontro Norte-Nordeste de Comitês e Comissões por Memória, Verdade e Justiça José Carlos Zanetti, realizado na capital do Piauí entre os dias 1 e 2 de abril. Estiveram presentes também o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular, a Pós TV DHNET e a Agência de Notícias Saiba Mais.

As mais quentes do dia

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.