Fim da “novela”: sai PCdoB e entra MDB na chapa majoritária articulada pelo PT
Natal, RN 24 de abr 2024

Fim da "novela”: sai PCdoB e entra MDB na chapa majoritária articulada pelo PT

14 de abril de 2022
6min
Fim da

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Trocar a gestão vitoriosa da vice-governadoria, sob o comando de Antenor Roberto, por um acordo com o MDB, é parte da política. Não tenhamos dúvidas. A visão petista de colocar a federação emedebista no primeiro plano, tem sua lógica eleitoral, tem seu peso histórico e político. Não podemos criticar a decisão petista como sendo algo excepcional, mas dentro de um cenário eleitoral que se apresenta favorável à Fátima Bezerra, em nível local, mas que precisa se consolidar nacionalmente, posto que o Mandrião tem sim muita força política.

Trata-se, na prática, de trocar uma companhia que teve claríssimas demonstrações de lealdade, dado que historicamente o pequeno PCdoB tem sido leal nas suas alianças políticas, por uma aposta já que o MDB é a própria expressão do pragmatismo político, que alguns chamam de fisiologismo, na esperança de que essa nova aliança dê os votos necessários a Lula, talvez porque o peso político do RN na cesta de votos seja relevante.

Aos que afirmam estar o MDB enfraquecido e em vias de se tornar pequeno na política do RN, é necessário lembrar que a força dessa federação está na sua capacidade de articular e se organizar dentro e fora do aparelho estatal/público, mesmo que não tenha vasta quantidade de votos. E mesmo essa observação pode ser refutada.

Walter Alves, o escolhido para compor a chapa como vice-governador, obteve, em 2018, 79.333 votos, elegendo-se deputado federal e o MDB, na nominata de deputado federal, obteve 92.432 votos, e a crueldade dos números mostra o PCdoB com pouco mais de 25 mil votos. No caso de deputado estadual, o MDB teve mais de 118 mil votos e elegeu 2 deputados (Hermano Morais e Nélter Queiróz) que se bandearam para outros partidos, e Bernardo Amorim, que não foi eleito pelo MDB, mas fazia parte do partido, também deixou a federação e o MDB perdeu toda a bancada. Já o PCdoB chegou a pouco mais de 38 mil votos.

Isso significa que o MDB está em vias de desaparecimento e não tem força eleitoral? Se olharmos a quantidade de prefeitos e vereadores, que funcionam como cabos eleitorais nas eleições gerais, veremos que o MDB ainda detém um forte capital político e sua principal liderança, Garibaldi Alves Filho, tem uma longa tradição de articulações eleitorais. Esse é o MDB, quer gostemos ou não.

Obviamente que os dirigentes petistas dirão que está tudo em processo de negociação, mas a realidade ultrapassa o discurso, que na verdade parece ser apenas o preparatório para o anúncio, quando veremos Garibaldi Alves e Walter Alves se tornarem parceiros do PT na jornada para a vitória de Fátima Bezerra.

Posso arriscar em dizer que a política parece estar retornando ao seu curso normal, depois de ter sido arrasada em 2018, mas esse retorno se dá a partir das velhas tradições políticas espalhadas pela federação. Não houve rejuvenescimento progressista e novamente estamos tendo que recorrer à velha forma de fazer política, que é uma questão de sobrevivência para a combalida democracia representativa. Talvez a lógica dos dirigentes petistas potiguares parta dessa lógica, perfeitamente “entendível”, mas que tem seu preço, tem.

É claro que o tamanho do PCdoB deve ter sido um dos elementos fundamentais para a escolha do PT, aliado ao fato de que no Nordeste era necessário “fechar” o apoio do MDB a Lula, na esperança de que este partido marche com Lula contra o fascismo bolsonarista. Sabemos, de antemão, que não será bem assim. Sendo uma federação, o MDB, como sempre, terá um olho no gato e outro no peixe e lembremos que os antecedentes do Golpe e sua raiz econômica, foram expostos em outubro de 2015, no famigerado “Ponte para o Futuro”, elaborado pelo partido que desde então, oscila entre governo e oposição. Mas, no momento, o que vale é ampliar para derrotar Bolsonaro e sua horda fascista.

Os eleitores progressistas certamente irão cuspir maribondo e as redes sociais irão ferver, dado que a figura de Antenor Roberto, tornou um cargo opaco, geralmente ocupado por quem quer o cargo de governador, visível aos olhos da população, sendo propositivo e participante, principalmente na esfera da segurança pública. Antenor Roberto, por sua capacidade gestora e por sua FIDELIDADE à governadora, sai da vice-governadoria como uma liderança política gabaritada e pronta para trabalhar pelo RN.

Particularmente acho que essa troca não terá consequências agora, podendo até o quase morto MDB realmente consolidar a vitória de Fátima Bezerra, mas a história pregressa dessa federação “pragmática” aponta para uma incógnita e Fátima terá que conviver com ela e saberemos, caso ela seja eleita, se o futuro vice, que parece ser Walter Alves, terá a mesma grandeza política de um Antenor Roberto, ou cumprirá a rotina de mudar de lado, já que os emedebistas parecem mais à vontade com o chafurdo fisiológico, do que propriamente com compromissos políticos. Mas posso estar equivocado e Walter Alves se tornará um progressista (sic).

O papel cumprido por Antenor Roberto, e pelo PCdoB, na vice-governadoria, entra para a história. O pequeno PCdoB mais uma vez ajuda a governar o RN e mesmo que sua recompensa política momentânea não esteja à altura do que fez, reforçará a tese de que precisamos de um partido que enxergue a política como um espaço de contínua disputa política, mas nunca como uma mesa de negociações, que fulaniza a política e empurra o eleitorado para a não participação do processo eleitoral (abstenção/voto nulo/voto branco) ou esmorece sua convicção no progressismo potiguar.

Pelo que conheço do PCdoB ele lamberá as feridas e trabalhará para eleição de Fátima Bezerra, dando uma clara demonstração de que é um partido que, depois de 100 anos de história, continua a saber fazer a tal “boa política”. E quanto a Antenor Roberto, já deu mostras de sua personalidade ao encarar sua substituição como algo inerente ao processo político de amplitude eleitoral que o PT enxerga ser necessário.

Caberá agora saber que lugar terá o PCdoB nessa nova composição e eu espero que seja acomodado numa posição que faça jus à sua grandeza política.

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