Irmã de vítima da ditadura sobre ausência de Justiça de Transição no Brasil: “Nem os governos democráticos mexeram com os militares”
Natal, RN 24 de abr 2024

Irmã de vítima da ditadura sobre ausência de Justiça de Transição no Brasil: “Nem os governos democráticos mexeram com os militares”

2 de abril de 2022
4min
Irmã de vítima da ditadura sobre ausência de Justiça de Transição no Brasil: “Nem os governos democráticos mexeram com os militares”

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Diva Santana luta há 50 anos pela memória da irmã Dinaelza Santana, executada pelos militares durante a Guerrilha da Araguaia, principal ação de luta armada no campo contra a ditadura. E mesmo com tanto tempo de busca pela reparação do Estado brasileiro, a ativista ainda se emociona ouvindo histórias semelhantes às da família dela. Ao lado de Marcelo Santa Cruz, filho do militante político Fernando Santa Cruz, também executado pelo regime de exceção, Diva chorou:

 - É uma ferida aberta. Todos os familiares vítimas da ditadura carregam essa dor e é nessas horas que eu sei que a luta dos nossos não foi em vão. Esse país um dia vai se livrar a da tirania. Discutindo justiça, respeito aos direitos humanos, discutindo punição. Tiranos têm que ser punidos”, disse.

O tema da mesa em que participaram Diva Santana e Marcelo Santa Cruz, com mediação de Inocêncio Uchôa, Lúcia Guedes e Francisco Leonam, todos ex-presos ou familiares de vítimas do regime militar, pedia uma resposta:

“O que impede a aplicação da Justiça de Transição no Brasil e a punição dos torturadores e aos golpistas de 1964; e quais as perspectivas ?”

A baiana Diva Santana procurou ser objetiva na tentativa de solucionar a questão:

- Desde a República temos processos de acordos e pactos. Passaram governos democráticos e comprometidos pela luta do povo brasileiro, mas nem eles mexeram com os militares. Não se mexeu com os militares”, disse.

Os dois participaram do 7º Encontro Norte-Nordeste de Comitês e Comissões por Memória, Verdade e Justiça, que começou sexta (1º) e segue até domingo (3), em Teresina (PI). O evento reúne ativistas e familiares de militantes vítimas da ditadura, trabalhadores e estudantes.

A cobertura do evento está sendo realizada em parceria e de forma colaborativa por quatro veículos de mídia independente do país, a Agência Saiba Mais e a Pós-TV DHnet, ambas de Natal (RN); a TV Pororoca Cabana, de Belém (PA); e a Teia TV, sediada em Vitória (ES).

Justiça de Transição

Para ser completa, a Justiça de Transição prevê a conclusão de quatro tarefas: a reforma das instituições, a preservação da memória, a reparação histórica, além do julgamento e punição dos culpados por crimes políticos e violações de direitos humanos. Para estudiosos e pesquisadores, quando um país não completa a justiça de transição fica sujeito ao avanço de governos autoritários. Nesse sentido, o governo Bolsonaro seria fruto, em parte, da falta de punição dos responsáveis pelas violações dos direitos humanos entre 1964 e 1985.

Marcelo Santa Cruz fez um histórico da luta contra a ditadura em Pernambuco, a partir da morte de dois estudantes - Jonas José de Albuquerque Barros e Ivan Aguiar, metralhados numa passeata em apoio ao governador Miguel Arraes – e lembrou o episódio em que Jair Bolsonaro debochou da morte do pai dele.

“Hoje temos mais passado do que futuro”, disse, citando diversos casos de militantes desaparecidos ou mortos na região Nordeste.

Diva e Santa Cruz admitiram que a força que os move está na luta pela memória, na busca por justiça e na esperança da continuidade pela juventude, com novos protagonistas da história.

- Enquanto houver uma pessoa desaparecida nesse país pelos crimes da ditadura não vamos descansar”, filho de Fernando Santa Cruz, preso em 1974 e desaparecido até os dias de hoje.

Confirma a programação do 7º Encontro Norte-Nordeste de Comitês e Comissões por Memória, Verdade e Justiça segue até domingo em Teresina (PI)

Sábado (2)

20h – Ato Político-Cultural e Homenagens

Lançamentos de livros e músicas de resistência à ditadura em homenagem aos nossos heróis e heroínas indicados por cada estado, pelos quais homenagearemos à todos e todas

Domingo (3)

8h – Rebatismo da avenida Marechal Castelo Branco para Avenida Esperança Garcia

10h – Visita ao porão onde eram encarcerados os presos políticos da ditadura e lançamento da pedra fundamental do Memorial da Resistência, no Centro de Artesanato Mestre Desinho.

Presença de Maria Marighela, vereadora do PT (Salvador – BA), e de Maria Regina Sousa (governadora em exercício do Piauí).Coordenação do ato: Pedro Laurentino e Lúcia Alencar.

12h – Encerramento com almoço de confraternização

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