Jornalista potiguar relata, em encontro entre vítimas da ditadura, história do pai, comunista morto em acidente ainda hoje não esclarecido
Natal, RN 28 de mar 2024

Jornalista potiguar relata, em encontro entre vítimas da ditadura, história do pai, comunista morto em acidente ainda hoje não esclarecido

2 de abril de 2022
3min
Jornalista potiguar relata, em encontro entre vítimas da ditadura, história do pai, comunista morto em acidente ainda hoje não esclarecido

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“A Lei da Anistia não pode ser um instrumento para estabelecer a amnésia, o esquecimento”. A reflexão é da pesquisadora e jornalista potiguar Jana Sá, diretora do documentário “Não foi acidente: mataram meu pai”, com lançamento previsto para 2022 em data ainda a ser divulgada. O filme revela vários pontos ainda não esclarecidos sobre a morte do militante comunista Glênio Sá, único norte-rio-grandense a lutar na mítica guerrilha do Araguaia.

Preso e torturado, sobreviveu à barbárie e morreu em 1990 num acidente automobilístico ainda cercado de mistério quando voltava de uma atividade de campanha.

Jana falou sobre a perda do pai e a produção do documentário ao público neste sábado (2), durante o 7º Encontro Norte-Nordeste de Comitês e Comissões por Memória, Verdade e Justiça, evento realizado entre 1º e 3 de abril, em Teresina (PI).

- Foi difícil rever as histórias e revisitar os arquivos. Costumo dizer que esse filme não é sobre a história do meu pai, é sobre a história do Brasil que, infelizmente, ainda precisa ser disputada para não ser contada à moda dos opressores. A morte de painho se soma à morte dos que tombaram pós-período de democratização e que não estão contabilizadas ainda”.

Jana Sá, pesquisadora, jornalista e diretora do documentário "Não foi acidente: mataram meu pai"

Pré-candidato ao Senado, Glênio voltava para Natal a bordo de um fusca com outros três companheiros do PCdoB quando bateu de frente em uma Opala, de placa fria, no interior do Rio Grande do Norte. A família nunca teve acesso ao laudo técnico do acidente, mas encontrou nos arquivos oficiais do Estado brasileiro – abertos por força da Comissão Nacional da Verdade - uma série de indícios que reforçam a tese de que a tragédia que abateu a família Sá não foi um acidente.

De acordo com informações do próprio Exército brasileiro, Glênio Sá foi monitorado pelos militares por pelo menos 10 anos após a promulgação da lei de Anistia, em 1979. Outro mistério está relacionado a um assalto na casa da família Sá, após a morte dele, em que apenas documentos e fotografias foram roubados. Pouco antes de morrer, Glênio também recebeu ameaças por jornais da cidade ou através de bilhetes deixados no portão de casa.

O documentário de Jana também revê o pai amoroso que ela perdeu quando tinha apenas 6 anos de idade:

- O melhor que um comunista sabe fazer na vida é amar. E meu primeiro artigo escrito sobre meu pai foi sobre isso e teve como título “Comunista por opção, pai por amor”. É assim que eu ainda o vejo”, declarou.

Bastante aplaudida pelo público do encontro, Jana Sá terminou o relato pedindo uma reflexão sobre a vida e a luta por mudanças na sociedade:

- Nossa luta é por outro modelo, é para derrotar o capitalismo, é pelo socialismo. Não podemos ter vergonha ou medo dos nossos símbolos, como o da união que é a foice e o martelo. Não podemos aceitar o comunismo como forma de xingamento. Esse encontro deve reforçar a  necessidade da gente fortalecer nossas instituições pela democracia”, disse.

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