Às vésperas das eleições, pesquisa revela percepção dos potiguares sobre Democracia
Natal, RN 19 de abr 2024

Às vésperas das eleições, pesquisa revela percepção dos potiguares sobre Democracia

24 de maio de 2022
5min
Às vésperas das eleições, pesquisa revela percepção dos potiguares sobre Democracia

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A Democracia é sempre melhor do que qualquer forma de governo? Para 67,4 % da população norte-rio-grandense, sim. É o que aponta pesquisa divulgada pelo Observatório da Democracia no Rio Grande do Norte (ObDemRN). Entre os dias 30 de abril e 2 de maio, o centro de estudos vinculado à pró-reitoria de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) realizou 1.500 entrevistas em 51 municípios das 19 microrregiões do Estado. O levantamento traz um mapeamento da percepção dos potiguares acerca dos valores democráticos.

Mas no que pese a ampla maioria dos entrevistados desejar o regime democrático em detrimento de um número significativamente menor que quer a volta de regimes autoritários, os números revelam um preocupante grau de indiferença da população aos fenômenos que marcam a atual realidade política do Brasil. “Uma coisa que é preocupante é a existência de uma parcela significativa em todas as perguntas que não acham essa pauta relevante, no sentido de não terem uma opinião formada, de se mostrarem indiferentes em relação a esse tema”, avalia o professor da UFRN, Daniel Menezes, que coordena o projeto com o colega estatístico Carlos Freitas.

Apesar do Brasil ter vivenciado uma das mais violentas ditaduras do ciclo latino-americano, quase 40% dos potiguares não sabem dizer se esse período de 21 anos de regime militar deixou mais realizações positivas do que negativas. Mesmo menor que o grau de percepção negativa do legado deixado pelo regime, de 48,1%, um número alto para um Estado que tem listado nomes reconhecidos como vítimas da ditadura militar pela Comissão Nacional da Verdade. Entre eles, Emmanuel Bezerra dos Santos, José Silton Pinheiro e Luiz Ignácio Maranhão. Eles foram desaparecidos e mortos nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo entre 1972 e 1974. Depoimentos do relatório da Comissão registram ainda o assassinato pelo aparato do regime militar do estudante potiguar Zoé Carlos de Brito, natural de São João do Sabugi.

Esse percentual de pessoas que não têm opinião formada é o mais alto quando questionado se há alguma chance do país voltar a viver uma ditadura, com 32,6%, e se mantém elevado em questões que se relacionam com o funcionamento do regime democrático como: o direito à proibição de greves (28,4%), de intervir em sindicatos (31,2%), de proibir a existência de algum partido (34%), de censurar veículos de comunicação (27,3%), de fechar o Congresso Nacional (29,7%), de realizar prisões sem autorização da justiça (25,4%), da prática de tortura para obter informações (26%), de controlar suspeitos nas redes sociais (28,7%), e de fechar o Supremo Tribunal Federal (31,5%).

E, ainda que em todas elas, a maioria dos potiguares discordem de alternativas autoritárias, Daniel Menezes chama a atenção para existência sempre de “um grupo significativo que que tem uma visão restritiva de direitos, visão fechada de participação na sociedade, quer seja através de partidos, sindicatos ou movimentos sociais”.

É o mesmo grupo que ainda nega as práticas de tortura, sequestro, prisão, desaparecimento, tortura, morte e censura por agentes do Estado brasileiro durante o regime militar. Segundo o levantamento, 11,1% dos entrevistados não acreditam que o Brasil vivenciou uma ditadura entre os anos de 1964 e 1985. E no que pese a maioria da população sustentar ter se tratado de um regime de exceção (45,7%), mais uma vez o número de pessoas que não compreendem esse período histórico chama a atenção: 43,2% não sabe dizer se houve ditadura no Brasil.

Um retrato do legado deixado pelo regime militar na estrutura jurídica, nas práticas políticas, na literatura, na violência institucionalizada e em outras esferas da vida social”, avalia uma vítima desse período, Fátima Sá, anistiada política e companheira do ex-guerrilheiro do Araguaia Glênio Sá.

Estudos demonstram que ferramentas de repressão se mantiveram e se fortaleceram sob a democracia reinstaurada em 1985 e, principalmente, mesmo após várias experiências de governos federais e estaduais de esquerda e centro-esquerda. Ao contrário do que aconteceu em outros países da América Latina, as práticas de tortura em prisões brasileiras aumentaram em relação aos casos de tortura na ditadura militar.

A indiferença reflete um sentimento de que é preciso ouvir mais os cidadãos para tomar decisões (59,5%) e o voto como instrumento de mudança que deve ser utilizado por “qualquer pessoa, independente de ser analfabeto”, segundo 71,4% dos entrevistados.

Do ponto de vista metodológico, nos baseamos na pesquisa latino-barômetro que já é tradicional e é feita com esse propósito em âmbito nacional, e no levantamento do Instituto Datafolha, que também faz em âmbito nacional. A latino-barômetro tem um viés mais acadêmico, e a do Datafolha se volta mais para o âmbito jornalístico”, explica Daniel Menezes.

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