Para celebrar o Dia Internacional da Língua Portuguesa, comemorado a 5 de maio, um consórcio de instituições culturais, universidades e festivais literários dos países falantes de língua portuguesa e dos países não falantes de português como língua materna, vai realizar pela primeira vez, entre os dias 2 a 6 de maio, um ciclo de debates virtuais, sob o lema “Diversidade, mobilidade e criatividade”, dirigido a um público diversificado e com transmissão on-line para todo mundo, com participação de pessoas importantes da literatura lusófona, como a escritora angolana Cremilda de Lima, em plena atividade aos 82 anos, com reconhecida obra para crianças e jovens. E também Eurídice Monteiro (Cabo Verde) Benita Prieto (Brasil), Kátia Casimiro (Guiné Bissau), Sónia Sultuane (Moçambique) Paulo Mirás (Galiza/Espanha) e João Fernando André (Angola).
A professora e poeta potiguar Elizabeth Olegário, participa do encontro, mediando uma mesa nesta terça-feira, 3, com o tema “A imprensa como tribuna dos intelectuais nos países de língua portuguesa”. A mesa acontecerá às 11h de Brasília e 15h de Lisboa, e terá participação de Leonel Matusse (jornalista de Moçambique), Patrícia Noronha (jornalista e escritora de Portugal), Gociante Patissa (escritor de Angola) e Francisco Conduto Pina (jornalista e poeta de Guiné Bissau).
”A imprensa é objeto e fonte da minha pesquisa de doutoramento, que está sendo desenvolvida na Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH) e que conta com o financiamento da Fundação para Ciência e a Tecnologia, de Portugal (FCT/PT)”, explica Elizabeth, que reside em Lisboa desde 2017 e prepara a defesa da sua tese intitulada “Os suplementos literários em meados do século 20: representações no campo da produção cultural no Brasil e em Portugal” para o início de 2023. “Tenho trabalhado com jornais, revistas e suplementos literários do século 20. Sabemos que o espaço destinado a literatura nos jornais tem diminuído sistematicamente e sabemos também que estas instâncias são fundamentais para a divulgação e legitimação da literatura. Lugar que vincula outros lugares. Estes espaços podem aproximar artistas, antecipar discussões, revelar autores, iluminar e projetar obras e fomentar redes de relações. A imprensa como um espaço de sociabilidade é a tónica dessa mesa. A imprensa como uma grande rede de encontros e de circulação da cultura letrada”, opina.
“Esse seminário comemorativo visa valorizar, promover e estimular o debate em torno da língua portuguesa, bem como ressaltar a diversidade da língua como um fator de enriquecimento. E quero ressaltar que nessa mesa falaremos também da importância das novas mídias como ferramentas de democratização da comunicação. Um exemplo é Mbenga Artes e Reflexões, portal moçambicano que se dedica às artes e cultura. O projeto mereceu, em reconhecimento do seu potencial, um financiamento da União Europeia que permitiu a criação de um aplicativo, o Mbenga Artes e Reflexões e do site (Www.mbenga.mz.co), além de um estúdio que está a produzir o programa Cinema em Foco que passa na RDP África”, explica Elizabeth.
Perguntada sobre a perspectiva de sair do Nordeste e residindo em Lisboa participar de encontros internacionais, a doutoranda afirma que “essa pergunta é um duplo, pois ao mesmo tempo que solicita uma resposta de contentamento por estar a ocupar um espaço, também sinaliza para a ideia de que uma mulher nordestina dificilmente consegue circular nos espaços de arte e de produção de conhecimento. O poder é uma ficção, assim como a ideia de centro e periferia. Por isso enxergo com tranquilidade o mover das margens – Da margem que sou. O Nordeste não é periférico é periferizado. Se olho para o passado recordo que foi a literatura produzida pelos escritores nordestinos que influenciou os escritores portugueses nos anos 30 e 40 no século 20, e os escritores africanos, nos anos 50 do século 20. Recordo frase do escritor baiano Itamar Vieira Júnior: ´Eu falo a partir do meu centro“, finaliza.
O EVENTO
O seminário comemorativo é uma coorganização da Feira do Livro de Maputo e da União Internacional dos Escritores de Língua Portuguesa, UELP, que também contará com uma programação sobre a literatura infanto-juvenil. Segundo a organização “a Semana tem como principal objetivo a promoção, a valorização da identidade, da diversidade cultural, da produção literária contemporânea, em particular, a circulação dos escritores, a mobilidade editorial, a acessibilidade da produção literária produzida nos países de língua portuguesa”. Este ciclo de debates estimula o multilateralismo e a cooperação cultural, pratica, defende e estima a contribuição de cada nação que fala a língua portuguesa. E abre espaço para reflexão sobre relações entre diversidade cultural, autoafirmação, construção de identidade e legitimação das nações que integram a comunidade dos países falantes da língua portuguesa, CPLP.
A curadoria, dirigida pelo poeta e curador moçambicano, Amosse Mucavele, traz à mesa para discussão e reflexão assuntos atinentes a partilha de registos de vivências pessoais e experiências coletivas em torno da produção literária e suas adversidades em cada território onde a língua portuguesa, assume-se como um espaço de reencontros e projeção de futuro. Oferecendo oportunidades para um maior diálogo entre os escritores, editores, pesquisadores, tradutores, leitores, gestores, professores e desafios para a procura de meios alternativos de celebração das culturas unidas na diversidade e na sua dimensão estética a escala global. Portanto, refletir sobre o acima exposto é dar a voz à multiplicidade de vozes que compõe as culturas e a língua portuguesa e que constitui um dos seus traços fundamentais, observou Mucavele.
A data de 5 de Maio foi oficialmente estabelecida em 2009 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – uma organização intergovernamental, parceira oficial da UNESCO desde 2000, que reúne os povos que têm a língua portuguesa como um dos fundamentos da sua identidade específica – para celebrar a língua portuguesa e as culturas lusófonas. Em 2019, a 40ª sessão da Conferência Geral da UNESCO decidiu proclamar o dia 5 de Maio de cada ano como “Dia Mundial da Língua Portuguesa”.
A língua portuguesa é não só uma das línguas mais difundidas no mundo, com mais de 265 milhões de falantes espalhados por todos os continentes, como é também a língua mais falada no hemisfério sul. O português continua a ser, hoje, uma das principais línguas de comunicação internacional, e uma língua com uma forte extensão geográfica, destinada a aumentar.
Para saber mais sobre o evento e assistir as mesas, aqui: https://escritores.utopia.org.br