Oficinas, cinema e revitalização de fachadas com arte movimentam comunidade periférica de Natal
Natal, RN 19 de abr 2024

Oficinas, cinema e revitalização de fachadas com arte movimentam comunidade periférica de Natal

6 de maio de 2022
Oficinas, cinema e revitalização de fachadas com arte movimentam comunidade periférica de Natal

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Dezenas de famílias estão sendo beneficiadas com ações educativas gratuitas e intervenções de arte nas fachadas de suas casas na comunidade Alto do Monte Belo, no bairro de Neópolis, em Natal-RN. É lá o campo de atuação do II Festival de Arte Urbana Cores do Beco, do coletivo Flor de Milho Quilombo de Artes.

As atividades começaram em fevereiro e seguem até o final de maio, transformando não só a paisagem, mas também moradores e voluntários. Para as crianças: oficinas de capoeira e de autonomia leitora, que inclui o tema das relações étnico-raciais. Essas são realizadas no parceiro Sebo Potiguar. Também há oficinas de artes visuais, para jovens e adultos, com diálogos abertos, apresentação de imagens e abordagem em diferentes técnicas e suportes, principalmente com a técnica do stencil.

E ainda tem sessões de cineclube, mutirões de limpeza, e a ação mais visível: o grupo fez o reboco da fachada de 16 casas, oito integralmente e oito fazendo ajustes e reparos; pintura em 23 imóveis e sete murais, somando uma em que a própria moradora produziu as artes com o material das oficinas.

A moradora Adriene Freitas teve as grades de casa pintadas, já que tem cerâmica nas paredes externas, e conta que foram realizadas reuniões para discutir com a comunidade o que seria levado. “Faz 12 anos que moro aqui e nunca chegou nenhum político pra fazer o que esse pessoal fez. Essa equipe é maravilhosa. Tudo isso pra nós é um grande incentivo pra tirar as crianças das ruas e ocupar o tempo delas transformando em sonhos”, elogiou, com gratidão.

“Só assim a comunidade é vista com outros olhos. As pessoas da comunidade são muito discriminadas. Aqui é considerado favela, mas todo mundo trabalha. São pessoas de bem. Quem não trabalha fora, trabalha em casa. Não temos preocupação com assalto, temos segurança. Toda hora que você quiser sair na calçada, senta conversa, brinca, se no final de semana quiser fazer uma farra faz”, completa Adriene.

A fala da moradora mostra que os objetivos do projeto estão sendo alcançados. “Acreditamos que foi muito valoroso todo o processo tanto para fortalecimento do grupo quanto da proposta do festival. Sentimos que quem se engajou o fez de uma forma muito intensa e de bastante acolhimento com a proposta, mas sentimos que a integração que a gente busca prescinde de mais tempo de trabalho. Foi uma rua inteira em 3 meses de ação, julgamos que foi muito promissor. Nós visamos o fortalecimento territorial. E trabalhamos de dentro para dentro nos nossos territórios”, avalia o artista Judson Andrade, performer, estudante de Teatro, na UFRN, e empreendedor do Ateliê Araká.

Sobre o Flor de Milho Quilombo de Artes

Ao lado de Judson Andrade compõem também o coletivo as fundadoras, as antropólogas e pesquisadoras artistas Stephanie Moreira e Inajara Diz, os arte-educadores Claudia Moreira e João Pedro Tavares; a arquiteta e urbanista Sarah Esli, a comunicadora Lisandra Bernardino; o estudante de Teatro Maxwel Pablo; e os capoeiristas Omim D'funfun e Tito Mariano, também artista, de apenas oito anos de idade. Segundo Judson, a compreensão é romper com a perspectiva adultocêntrica da construção do conhecimento: “As crianças podem ensinar e a gente faz trocas nesse sentido com o Tito”.

Stéphanie e Cláudia, que é coordenadora de artes do grupo, são irmãs e vizinhas na comunidade. A sede do Flor de Milho Quilombo de Artes é a “casa coletiva e criativa”, onde vive Stéphanie, que cede a garagem para as oficinas de capoeira e eventualmente as de pintura, que costumam ser na garagem de Cláudia.

Alguns também integram a Casa Afro Poty, um hub de empreendedorismo negro potiguar do campo da Economia Criativa, cujas as bases são geração de renda, formação profissional e criação.

Os artistas convidados para o II Festival de Arte Urbana Cores do Beco são Cris (Pincelada Nômade), Martin Onirismo, Lucas Mds, Leila Lua e Catarina Catão e a pedagoga Marília Xavier. No I Festival Cores do Beco contamos com a presença do Coletivo 08, Clara Felix, Jess, Blue, CJ e FB. Entre as duas edições Paulo Victor, que assina como “Pazciencia420” também colaborou com pintura em duas casas.

“O coletivo foi formado em 2017 na cidade de Salvador atuando na comunidade de São Lázaro no bairro da Federação pela parceria de duas vizinhas, Stephanie Moreira e Inajara Diz. Em 2019 Stephanie, que é potiguar e estava em Salvador fazendo o doutorado, voltou e trouxe junto o projeto”, contou Judson.

Desde então o Quilombo tem desenvolvido suas ações tanto em São Lázaro quanto no Alto do Monte Belo, em Natal. Inajara é baiana e continua em Salvador, atualmente como coordenadora da Cinemateca do Estado da Bahia.

Ainda de acordo com Judson, por seis meses o grupo atuou na Colômbia, entre 2018 e 2019, em parceria com coletivos afrocolombianos e com uma passagem pela Universidade de Antioquia, onde ministraram curso sobre o pensamento de mulheres afrolatinoamericanas, em parceria com o Cadeafro - Colectivo Ampliado de Estudios Afrodiasporicos.

Recursos financeiros

A segunda edição do projeto recebe patrocínio do Neoenergia Cosern, uma iniciativa do Instituto Neoenergia por meio da Lei Estadual Câmara Cascudo, Fundação José Augusto, Governo do Estado do Rio Grande do Norte.

O coletivo pretende dar continuidade às atividades infantis. A capoeira vai continuar. Os facilitadores Omim d'funfun e Stephanie Moreira são da comunidade e se dispuseram. A oficina de autonomia leitora terá que fazer uma pausa.

“A gente precisa de apoio para manter nossas oficinas. Temos tentado editais e apoiadores diretos. E seguiremos na busca. Sentimos falta ainda de engajamento de apoiadores externos, que colem com a gente nos mutirões colaborando com trabalho, com doação de material, de tempo criativo e educativo com as crianças daqui. Mas isso é tempo e foco. E suporte financeiro para tudo isso. Apoio para captação de recursos. Mas foi sucesso. Estamos felizes!”, conta Judson Andrade.

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