Apesar de já ter o projeto pronto para a construção de uma trincheira na Avenida Alexandrino de Alencar, no cruzamento com a Avenida Salgado Filho, a Prefeitura de Natal afirma não saber quantas árvores serão derrubadas por causa da obra, que está programada para começar no final de junho.
De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), só será possível saber o número de árvores derrubadas, depois que elas forem tombadas. A falta de informação reforça a denúncia que vem sendo feita por moradores e comerciantes da região, a de que não há estudo de impacto para a execução do projeto.
“São cerca de 100 árvores que devem ser abatidas! É um número muito significativo e a prefeitura não apresenta qualquer proposta de replantio dessas árvores. A gente fica muito preocupado porque quando há projetos vultosos como esse, nós teríamos que plantar, no mínimo, o triplo dessas árvores. Numa época em que o mundo se preocupa com as mudanças climáticas, com as temperaturas altíssimas por causa da emissão de gases, isso nos preocupa bastante”, critica o ambientalista Haroldo Mota.
A justificativa da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) para a obra é a de reduzir os engarrafamentos no local. No entanto, o especialista em trânsito e professor de engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Rubens Ramos, a obra é desnecessária porque a via ainda tem um fluxo diário de veículos abaixo de sua capacidade.
“Em cada faixa de rolamento da Salgado Filho passam 800 carros por hora, são três faixas em cada sentido, num total de seis. Assim, naquele cruzamento podem passar 4.800 veículos por hora, sendo 2.400 de cada lado. A STTU apresentou uma contagem que, no pior horário, deu um tráfego de 3.600 veículos! Ou seja, 1.200 carros abaixo da capacidade! Não há uma razão objetiva para essa obra”, contestou Rubens Ramos, que em entrevista anterior à Agência Saiba Mais, explicou que as árvores num raio de 400 metros no entorno da obra devem ser derrubadas.
O orçamento para a construção da trincheira na Alexandrino de Alencar é de R$ 25 milhões do Ministério do Desenvolvimento Regional com contrapartida de R$ 88 mil da Prefeitura de Natal. Desde a última sexta (27) nós entramos em contato com a STTU pedindo acesso ao projeto, mas até hoje não obtivemos resposta.
“O bom de tudo isso é que a população está se mobilizando contra esse projeto e isso é fantástico. É um volume de recursos muito grande que poderia ser utilizado de outra forma. A Zona Norte, por exemplo, tem uma necessidade grande de infraestrutura. Quais os benefícios que essa obra vai trazer? Quantas árvores tombadas serão replantadas? Fica esse questionamento porque nunca é feita essa equalização. Vamos causar um transtorno gigante à população que transita por lá. É um projeto que deveria ser muito bem pensado quando nossa cidade precisa de outro tipo de investimento em outras áreas”, avalia Mota.

