Professores de quatro povos indígenas lançam livros didáticos bilíngues
Natal, RN 29 de mar 2024

Professores de quatro povos indígenas lançam livros didáticos bilíngues

10 de maio de 2022
3min
Professores de quatro povos indígenas lançam livros didáticos bilíngues

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Por Rede Brasil Atual 

Quatro livros produzidos por professores indígenas dos povos originários Jamamadi, Apurinã, Jarawara e Paumari, no Amazonas, foram transformados em material didático bilíngue. O objetivo é atender a uma das principais necessidades educacionais e de fortalecimento das culturas indígenas que vivem na região do Médio Purus. O projeto foi viabilizado a partir de um “ajuri”, termo com origem na palavra Tupi “Aiurí”, que significa mobilização, ajuntamento ou mutirão de conhecimentos. Em outras palavras, uma parceria da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (Focimp) e Instituto Mpumalanga com o Instituto Federal do Amazonas (IFAM), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Lábrea (SEMEC) e o Programa Sou Bilíngue Intercultural (PSBI) da Funai.

Intitulado “Saberes Indígenas na Escola”, os livros lançados no final de abril visam favorecer o desenvolvimento e a compreensão das produções orais e escritas nos processos de letramento e numeramento, definida no processo formativo do programa Saberes Indígenas na Escola do IFAM para professores indígenas.

Segundo o diretor do IFAM campus Lábrea, Marcelo Rodrigues, é uma oportunidade ímpar para os educadores trabalharem em sala de aula o cotidiano da vida dos estudantes indígenas nas aldeias, considerando as atividades que são pautadas no cotidiano da identidade desses alunos, como pesca, caça e desmatamento. E para os alunos indígenas, o fato de os livros serem bilíngues ajuda a preservar da extinção a língua materna desses povos.

Saber e resistência indígena

“O fato de o livro estar na língua dos povos torna-se de relevância imensurável, por não permitir que essa língua materna se extinga. Observa-se que, gradativamente, a língua está sendo menos presente em alguns povos, uma vez que os jovens não a utilizam com frequência. Mesmo com a morte dos mais velhos, no livro ficará o registro dessa escrita e de sua cultura, propiciando a eles a oportunidade de manter vivo esse saber indígena”, disse Rodrigues, ressaltando que pode ser instrutivo inclusive para os professores que lecionam em escolas de outras etnias ou até mesmo em escolas não indígenas.

Missionário do Cimi equipe Lábrea, Daniel Lima lembrou que a educação brasileira e os povos indígenas são atacados sistematicamente pelo governo de Jair Bolsonaro, “que pretende levar a cabo aquele projeto de integração que iniciou na década de 70, no auge da ditadura”. “Esse processo de integração volta com muita força neste atual governo e tem como objetivo principal a desconstitucionalização e a deslegitimação dos direitos dos povos indígenas”, disse, indicando que os livros bilíngues configuram uma ação de resistência a esse plano político.

“Lançar essas obras nas línguas Apurinã, Jamamadi, Jarawara e Paumari, nesse contexto tão sombrio e tão desesperançoso, é um sinal de resistência diante de tantos ataques aos povos indígenas, às suas culturas, às suas línguas e à educação indígena que constitucionalmente lhes é garantido o direito de que ela seja diferenciada.”

Marcelli Damasceno
Livros bilingues enriquecem a formação docente e mantêm viva a língua ameaçada. Foto: Marcelli Damasceno
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