Petrobras continua líder na produção terrestre, apesar dos desinvestimentos
Natal, RN 24 de abr 2024

Petrobras continua líder na produção terrestre, apesar dos desinvestimentos

23 de maio de 2022
7min
Petrobras continua líder na produção terrestre, apesar dos desinvestimentos

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Como se pode falar em "maior produtor em terra, sem a Petrobras no RN" se a empresa ainda é responsável pela maior parte da produção do Estado, mesmo após seis anos do início dos desinvestimentos capitaneados pelo governo federal, através das gestões da estatal após o governo Temer? Esse é o questionamento que o Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras do RN traz ao debate, logo após uma matéria publicada no último domingo, no jornal de maior tradição da capital, afirmar a retomada do aumento de produção com a chegada de novas produtoras independentes na Bacia Potiguar.

Segundo o secretário geral do SINDIPETRO-RN, Pedro Lúcio Góis, as empresas privadas, que inauguraram recentemente suas atividades no RN, estão apenas operando campos de petróleo da estatal. “Essas empresas não compraram novos blocos exploratórios e nenhum novo campo foi descoberto por elas, até o momento. Assim, a elevação da produção dessas empresas se dá mais pela transferência da produção que era da Petrobras do que de novos ou vultosos investimentos, que ainda não chegaram”.

“Elas estão retomando a produção dos campos que nos últimos seis anos permaneceram sem as devidas manutenções em decorrência da decisão equivocada do Governo Federal de retirar a Petrobrás no RN. Assim, bastam pequenas intervenções nos poços para alavancar um pouco a produção, mas ainda estão muito distantes do padrão de investimentos da Petrobras até 2015, antes de decidir vender os ativos, e mais distante ainda das promessas feitas pelos entusiastas da privatização”, complementou Pedro.

O certo é que entre 2016 e 2021, o RN deixou de produzir 8 milhões e 600 mil barris de óleo equivalente de produção por ano, transferiu 2200 empregos concursados na Petrobrás para outros estados e eliminou cerca de 10000 empregos terceirizados - já descontando os remanescentes de emprego nos atuais ‘produtores independentes’. Portanto, a aventura, até aqui, tem um saldo muito negativo.

Luta em Defesa da Petrobras

A Petrobras ainda está no RN, ou melhor, ainda opera os campos e garante mais da metade da produção de Petróleo e LGN do nosso Estado. No ano de 2021, a Petrobrás foi responsável por aproximadamente 60% de toda a produção e petróleo em solo potiguar. Esses são os dados disponibilizados publicamente pela ANP.

Não foi quando descobrimos o pré-sal (2006) ou quando começamos a explorá-lo que a Petrobrás reduziu seus investimentos no RN, mas sim quando os governos federais pós-2016 definiram que a Petrobras deveria sair da bacia Potiguar, e das demais bacias terrestres brasileiras, sendo que 75% delas estão localizadas no nordeste.

A partir de 2016 a estatal vem realizando esse plano, e a produção do nosso Estado passou a cair drasticamente desde então. Como mostra o gráfico abaixo, gerado a partir dos dados da produção entre 2011 e 2021, divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, que faz um comparativo entre os diversos estados produtores:

As mudanças na estratégia de negócio da Petrobras, especialmente a partir de 2015, baseadas em lucro a curto prazo, à custa de venda de ativos, redução de investimentos e aumento no preço de combustíveis, mostram que o Governo Federal, com Temer e Bolsonaro, passou a transferir grande parte da produção da estatal para as mãos da iniciativa privada, o que vem permitindo aumentar fortemente a remuneração dos seus acionistas privados.

Na opinião do Coordenador Geral do SINDIPETRO-RN, Ivis Corsino, esses negócios vêm sendo feitos da pior forma. “Estão fazendo como na venda das refinarias. Primeiro sucateiam para dizer que os ativos não prestam, depois vendem barato e criam uma falsa demanda de importação de derivados pelo PPI – Preço de Paridade Internacional (baseado no valor do Dólar)”.

A partir de 2016, o governo federal criou arcabouços legais para forçar a estatal a direcionar o seu planejamento estratégico, reduzindo seus investimentos e vem desintegrando suas cadeias produtivas de energia. Desta forma, reduziu seu portifólio, passado a atuar quase que exclusivamente na exploração e produção de petróleo e gás em águas profundas e ultra profundas, com concentração nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo e foco na exportação.

“Desde o início dos desinvestimentos, com agravamento após a pandemia, vários poços começaram a ser abandonados temporariamente (parados/fechados), e a produção caiu vertiginosamente. Depois, foram vendidas as instalações de produção a preço muito abaixo de mercado. Ou no mínimo discutíveis, sob o momento de venda (no meio de uma pandemia). Quem comprou já entrou ganhando muito dinheiro e só fez reabrir os poços. E tem gente que acredita que produção de petróleo, num piscar de olhos, aumentou 300%”, alertou Ivis Corsino.

Embasamento

O Diretor de Comunicação do SINDIPETRO-RN, Orildo Lima, complementa: “recentemente foi defendido na UFRN, o trabalho acadêmico do ex-diretor do Sindicato, Rodolpho Vasconcelos, intitulado  ‘Petrobras: reflexões sobre a mudança de estratégia de negócio a partir de 2015 e os impactos de sua saída do Rio Grande do Norte’ , que tem fortalecido o alicerce do SINDIPETRO-RN para discutir a atual situação da Petrobrás, aqui no Rio Grande do Norte”.

“Esse estudo teve como objetivo analisar as mudanças na estratégia de negócio da Petrobras, especialmente a partir de 2015, e discutir suas perspectivas futuras. Também analisamos a contribuição da Petrobras para a sociedade e economia do RN, e a decisão de sua saída do estado e consequências relacionadas”, afirma Rodolpho.

Segundo o trabalho, os impactos negativos na economia local, ao estado potiguar e aos municípios produtores, já são visíveis com a redução nas participações governamentais e sociais resultantes da atividade petrolífera e redução dos investimentos sociais, ambientais e no desenvolvimento científico-tecnológico nas universidades e institutos federais. Além desses pontos, a diminuição na oferta de empregos e no número de empresas prestadoras de serviços e fornecedores de bens à Petrobras, reflete a nova política de preço de paridade de importação imposta pelo Governo Federal à Petrobras, adotada à nível nacional, que vem resultando em aumentos sistemáticos nos preços dos combustíveis no país.

No território potiguar, os prejuízos gerados pelo processo de saída da estatal tornam-se explícitos pela redução da produção de petróleo, gás e derivados, e pela queda drástica de investimentos. Esse processo e as perdas consequentes serão ainda mais claramente nítidos, quando a venda da totalidade dos ativos no RN, for consolidada, pelo pagamento do bilhão de dólares que ainda não foi pago pelos “produtores independentes”, o qual está previsto para o primeiro trimestre de 2023.

Isso tudo mostra que as novas operadoras que vem adquirindo os ativos potiguares da estatal não conseguiram, até o momento, manter um padrão em seus investimentos privados anuais minimamente semelhantes àqueles implementados pela estatal nos últimos 20 anos. “Uma das formas de falsear tal realidade é plantar textos ufanistas na imprensa, construindo uma falsa realidade distante dos fatos e dos dados, como os aqui expostos, a partir das informações técnicas de produção publicadas mensalmente pela ANP”, afirma o diretor de Comunicação do SINDIPETRO-RN.

Essa estratégia de difundir informações sem fundamentação técnica, tem coerência com a retórica dos agentes políticos que atuam no governo federal, e que detém o poder diretivo na escolha dos gestores da Petrobras, que começam a apresentar como solução a pauta da privatização integral, e imoral, da companhia, colocando em xeque a relevância da maior empresa brasileira como sociedade de economia mista, cujo maior acionista é o Povo Brasileiro.

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