Fortalecimento da agricultura familiar passa por eleição de Lula, avalia fórum de gestores do Nordeste
Natal, RN 20 de abr 2024

Fortalecimento da agricultura familiar passa por eleição de Lula, avalia fórum de gestores do Nordeste

23 de junho de 2022
11min
Fortalecimento da agricultura familiar passa por eleição de Lula, avalia fórum de gestores do Nordeste

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É indispensável pensar o Brasil romper com o atual ciclo de retrocessos e construir um ambiente político que favoreça o projeto de desenvolvimento econômico e social com a eleição do Presidente Lula”. A afirmativa está expressa em carta do Fórum Eugênio Peixoto de Gestores e Gestoras da Agricultura Familiar dos Estados do Nordeste, elaborada por representantes governamentais e da sociedade civil vinculados ao desenvolvimento agrário e à agricultura familiar da região durante a realização em Natal, entre os dias 15 e 19 de junho, da I Feira da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Nordeste (Fenafes).

O Fórum, criado em 2015, denuncia a falta de investimento do governo de Jair Bolsonaro na agricultura familiar do Brasil, um setor que já ajudou o país a sair do mapa da fome e que é capaz de assegurar a segurança e a soberania alimentar da população, sendo responsável hoje por 70% dos alimentos que são consumidos pela população brasileira.

Apesar de sua dimensão e importância na produção de alimentos, nos últimos 06 (seis) anos sofre um processo continuado e intencional de extinção, desinvestimento e desestruturação das políticas públicas de apoio a este segmento econômico, a partir da extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), reduzido a uma Secretaria Especial, agregada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), cuja visão predominante indica haver uma única agricultura. Em atos subsequentes, programas e políticas públicas foram extintos, esvaziados em seus orçamentos ou tiveram baixa execução. Os espaços públicos nacionais de concertação das políticas, como o CONDRAF, foram extintos, fechando as portas de diálogo com a sociedade civil”, afirmam os gestores em carta.

Falta de apoio político adequado na forma de crédito, assistência técnica e acesso a mercados que, para os gestores da Agricultura Familiar do Nordeste, levou o aumento da miséria no país e a repetição do cenário social da fome, que já havia sido vencido. Em 2022, mais da metade da população brasileira – 58,7% – vive com algum tipo de insegurança alimentar e pelo menos 33 milhões de pessoas não tem o que comer durante um dia inteiro (24h). Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), e revelam nem mesmo quem produz alimentos escapou.

Nas áreas rurais do Brasil, a insegurança alimentar é vivida em 60% das casas. Destas, 18,6% estão em situação grave. A fome atingiu 21,8% dos domicílios de agricultores familiares e pequenos produtores. “Diante deste cenário de retrocessos, este Fórum se posiciona por um projeto nacional que garanta a reconstrução de políticas públicas condizentes com a importância econômica e social da agricultura familiar e camponesa com a retomada das relações federativas para a promoção de avanços na melhoria de qualidade de vida e sustentabilidade ambiental”, avaliam.

Dados do Censo Agropecuário 2017-2018, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que 76,8% dos 5,073 milhões de estabelecimentos rurais do Brasil foram caracterizados como pertencentes à agricultura familiar. Somente a região Nordeste representa 47,2% do total de unidades familiares no país. São 1.838.846 estabelecimentos, totalizando 73,8% das pessoas ocupadas nas atividades agropecuárias no Nordeste brasileiro.

A importância do setor para a região levou o Consórcio Nordeste, formado em 2019 para que os governadores e governadoras da região pudessem ampliara ainda mais as capacidades de articulação, à criação das Câmaras Temáticas, sendo a da Agricultura Familiar, a primeira a ser constituída em fevereiro de 2021. Em parceria com o Fórum, os Estado consorciados implementaram o Programa de Alimentos Saudáveis do Nordeste (PAS-NE), Sistema de Informações da Agricultura Familiar (SIRAF), Sistemas Estaduais de Defesa, Inspeção e Fiscalização Agropecuária (SUASA), entre outras inciativas.

A realização da I Feira da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Nordeste é a representação desse momento de colheita das mais fecundas semeaduras promovidas por esse conjunto de cooperativas, associações e redes que partilham do desejo de um país com inclusão econômica e social”, consideram os gestores.

Investimentos em Agricultura Familiar

Para os gestores e gestoras que compõem o Fórum da Agricultura Familiar, o ex-presidente Lula “já demonstrou em mandatos anteriores a seu compromisso com a agricultura familiar ao criar os principais programas e políticas para o segmento”.

Uma das grandes marcas das gestões petistas foi o investimento na agricultura familiar. Em 2003, no âmbito do Fome Zero, foi criado o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com o objetivo principal de garantir segurança alimentar e nutricional por meio da compra e doação de alimentos produzidos por agricultores familiares.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) executava o projeto, junto com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O ministério, por meio de repasses a estados e municípios, e a Conab, por meio de acordos com associações e cooperativas, compravam alimentos de agricultores familiares e distribuíam gratuitamente para creches, escolas, programas sociais e famílias que recebiam o Bolsa Família.

De 2003 a 2016, mais de 400 mil agricultores participaram do programa e foram adquiridas mais de 4 milhões de toneladas de alimentos de pequenos produtores.  Em julho de 2010, a Conab chegou a ter mais de 5,5 milhões de toneladas de milho armazenadas. Em 2012, eram 1,5 milhão de toneladas de arroz. Só em 2010, o presidente Lula investiu R$ 1 bilhão em compras do PAA.

I Fenafes

A I FENAFES foi uma co-realização entre Governo do Estado Rio Grande do Norte e a União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária do RN – UNICAFES, voltada ao fomento e à valorização da agricultura familiar nordestina.

A iniciativa partiu da Câmara Temática da Agricultura Familiar do Consórcio Nordeste, coordenada pela governadora Fátima Bezerra. O objetivo principal foi fortalecer iniciativas de integração de políticas públicas em torno do Programa de Alimentos Saudáveis do Nordeste, principal bandeira do Consórcio.

Em uma “Grande Festa da Colheita”, o evento superou as expectativas e reuniu 1.200 agricultores e agricultoras, 778 expositores do Nordeste organizados em 273 entidades, dentre as quais 90 cooperativas, com o objetivo de potencializar a integração regional, refletir sobre os desafios comuns dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e construir ações articuladas entre os nove estados.

A primeira edição da Fenafes atraiu um público de mais de 10 mil visitantes durante cinco dias de programação. O evento viabilizou importantes debates, sobre o fortalecimento da agricultura familiar através de políticas públicas, em uma maratona de encontros, fóruns, painéis e exposições de alimentos saudáveis.

Leia a carta do Fórum na íntegra

CARTA DE NATAL

Em defesa do protagonismo econômico e social da agricultura familiar

O Fórum Eugênio Peixoto de Gestores e Gestoras da Agricultura Familiar do Nordeste reunido em Natal, no dia 15 de junho de 2022, vem de público expressar o compromisso com o fortalecimento da agricultura familiar e camponesa, compreendendo-a como protagonista do desenvolvimento rural sustentável e solidário, das iniciativas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, das políticas de convivência com o semiárido e da produção agroecológica.

Criado em 2015, o Fórum de Gestores e Gestoras da Agricultura Familiar dos Estados do Nordeste, reúne representantes governamentais e da sociedade civil vinculados ao desenvolvimento agrário e agricultura familiar, e tem a finalidade de incidir na integração regional, refletir sobre os desafios comuns aos partícipes e construir ações articuladas entre os estados. Ainda que o governo federal tenha virado as costas para a agricultura familiar, os governos dos estados seguiram no cuidado e na implementação de políticas e programas.

A agricultura familiar, produtora de alimentos saudáveis, gera receitas para as unidades federativas, gera emprego, trabalho e renda. É indiscutível sua relevância para a região Nordeste: segundo o Censo Agropecuário de 2017 (IBGE) são 1.838.846 estabelecimentos de um total de 3.897.408 no país. Isso representa 47,2% do total de unidades familiares no Brasil, que ocupam 4.708.670 de pessoas, totalizando 73,8% das pessoas ocupadas nas atividades agropecuárias no Nordeste brasileiro. Em proporções reais, o quantitativo de estabelecimentos da agricultura familiar chega a 55%, considerando a falta de regularização dos assentamentos da reforma agrária.

Apesar de sua dimensão e importância na produção de alimentos, nos últimos 06 (seis) anos sofre um processo continuado e intencional de extinção, desinvestimento e desestruturação das políticas públicas de apoio a este segmento econômico, a partir da extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), reduzido a uma Secretaria Especial, agregada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), cuja visão predominante indica haver uma única agricultura. Em atos subsequentes, programas e políticas públicas foram extintos, esvaziados em seus orçamentos ou tiveram baixa execução. Os espaços públicos nacionais de concertação das políticas, como o CONDRAF, foram extintos, fechando as portas de diálogo com a sociedade civil.

Nesse momento de grave crise, resultante de desestruturações de todo tipo, o país viu 668 mil vidas sucumbirem ao negacionismo, à irresponsabilidade e à má gestão no enfrentamento à pandemia do Covid 19. A população empobrecida se viu empurrada novamente para o mapa da fome. São 125 milhões de brasileiros e brasileiras em condições de Insegurança Alimentar, e entre essas pessoas, 33 milhões em estágio grave.

Diante deste cenário de retrocessos, este Fórum se posiciona por um projeto nacional que garanta a reconstrução de políticas públicas condizentes com a importância econômica e social da agricultura familiar e camponesa com a retomada das relações federativas para a promoção de avanços na melhoria de qualidade de vida e sustentabilidade ambiental. É preciso ampliar as capacidades produtivas da agricultura familiar para a produção de alimentos saudáveis e responder às demandas imediatas voltadas para a população que mais precisa.

Promover ações focalizadas para estimular o protagonismo das mulheres, populações tradicionais e jovens, compreendendo especificidades e particularidades que as (os) colocam em uma situação ainda mais vulnerável, impossibilitando-lhes viver dignamente no meio rural.

As políticas públicas estruturantes devem abrir portas para a conquista e a consolidação da autonomia econômica dos homens e mulheres que vivem e produzem nas comunidades rurais, assegurando-lhes o acesso a água, à terra, ao crédito, à assistência técnica e extensão rural. Devem impulsionar o desenvolvimento territorial sustentável, ampliar a capacidade de produção e de comercialização, investir em pesquisas voltadas para aplicação de tecnologias adaptadas à produção da agricultura familiar.

A partir da criação do Consórcio Nordeste, em 2019, os(a) governadores(a) nordestinos(a) ampliaram ainda mais as capacidades de articulação. Em 2020 seguiu com as seguintes ações em parceria com o Fórum: criação do Programa de Alimentos Saudáveis do Nordeste (PAS-NE), Sistema de Informações da Agricultura Familiar (SIRAF), Sistemas Estaduais de Defesa, Inspeção e Fiscalização Agropecuária (SUASA), entre outras inciativas. Nesse mesmo ano, o Consorcio Nordeste definiu pela criação das Câmaras Temáticas, sendo a da Agricultura Familiar, a primeira a ser constituída em fevereiro de 2021, atuando desde o nascedouro de forma imbricada com o Fórum.

A realização da I Feira da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Nordeste é a representação desse momento de colheita das mais fecundas semeaduras promovidas por esse conjunto de cooperativas, associações e redes que partilham do desejo de um país com inclusão econômica e social. As experiências exitosas presentes nesse espaço, representam o dinamismo do rural e precisam chegar a um número maior de agricultores e agricultoras demandantes de políticas para produzir, de crédito, assistência técnica e extensão rural, fomento produtivo, apoio na estruturação das agroindústrias e na comercialização.

O momento é de construir as bases do futuro que permitam dar concretude aos propósitos aqui assumidos. É indispensável pensar o Brasil romper com o atual ciclo de retrocessos e construir um ambiente político que favoreça o projeto de desenvolvimento econômico e social com a eleição do Presidente Lula, que já demonstrou em mandatos anteriores a seu compromisso com a agricultura familiar ao criar os principais programas e políticas para o segmento.

É preciso reestabelecer o diálogo para potencializar os esforços pela superação da crise, trabalhar na condução de esperanças coletivas e fortalecer o papel central do Estado Democrático de Direito.

Natal, 15 de junho de 2022.

Fórum Eugênio Peixoto de Gestores e Gestoras da Agricultura Familiar do Nordeste

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