OPINIÃO

Os bastidores das eleições de 2018 e o enigma no horizonte

Olhando o mapa eleitoral de 2018, ano zero do bolsonarismo fascista, que trouxe, traz e trará um realinhamento partidário que poderá, ou não, fazer modificações no cenário político local e nacional, podemos arriscar alguma projeção?

Acho cedo e a introdução do mecanismo de Federação, que poucos conhecem, pode ter efeitos positivo ou negativo para as chamadas “forças progressistas”. Ainda estão se movimentando as forças políticas para a formatação de suas nominatas, tudo feito à revelia da sociedade, que se mantém alheia ao processo eleitoral.

Obviamente que as articulações de bastidores não romperam com a tradição vigente. Nominatas com os graúdos, que terão os recursos dos partidos focados neles, os bons “puxadores de votos”, que olham para o horizonte de 2024 e 2026, e os “operários eleitorais”, cabos eleitorais que, participando ou não da nominata, estão a serviço de uma ou outra candidatura.

Só poderemos ver o efeito das federações depois dos pleitos proporcionais, mas podemos arriscar em dizer que as candidaturas ao governo, as mais robustas pelo menos, estão fechando os acordos eleitorais, ou seja, até fins de julho, o ambiente político local está subordinado à lógica dos bastidores e das encenações.

Para as forças progressistas, o desafio, ao que tudo indica, será o de “furar” o bloqueio das forças conservadoras, muito bem instaladas em todos os aparelhos do estado (Executivo, Legislativo e Judiciário). Vale lembrar que em 2018 o Mandrião venceu em três das quatro principais cidades do RN no primeiro turno (Natal, Mossoró e Parnamirim) e em duas das quatro no segundo turno (Natal e Parnamirim), ou seja, em cidades-chave, o conservadorismo se expressou claramente.

Fátima Bezerra, por exemplo, foi derrotada em Natal (com folga) e Parnamirim, por Carlos Eduardo, e venceu em Mossoró, devido ao rompimento de parte dos Rosado com o agripinismo-emedebismo e em São Gonçalo do Amarante. No segundo turno, Fátima amargou uma grande derrota em Natal, quando teve apenas 39,2% dos votos enquanto o ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo, apoiador de Bolsonaro, cravou distantes 60,8%, resultado quase idêntico a Parnamirim (38,9% x 61,1%), e venceu em Mossoró (54,2% x 45,8%) e São Gonçalo do Amarante (53,2% x 46,8%). Deduz-se que o bom resultado de Fátima contra Carlos Eduardo, em todo o RN (57,6% x 42,4%) foi fruto da sua atuação como senadora, e disto não devemos ter nenhuma dúvida, mas passou pelas alianças com os prefeitos, vereadores e deputados, que inclusive faziam parte de outras alianças eleitorais, muitos deles conservadores.

Além do conservadorismo presente nas maiores cidades do RN, há que se entender quem é quem na política atual do nosso estado, e isso passa necessariamente pela ascensão do bolsonarismo fascista, que penetrou profundamente nas camadas sociais e que gerou aberrações políticas que pululam em várias Câmaras Municipais e na Assembleia Legislativa, sem falar nos ogros que tem cadeira na Câmara de Deputados e na representação grotesca que temos no Senado. É um bloco que hoje tem na figura do ministro Rogério Marinho seu baluarte e na medida que este elemento dispõe de recursos federais que usa descaradamente na cooptação de apoio de prefeitos e de um pequeno exército de puxas-saco, não se pode desprezar sua força eleitoral.

Há o bloco tradicional, formado por “políticos profissionais”, que são verdadeiros camaleões eleitorais e cujo foco é ser eleito e, para isso, se movimentam de acordo com os ventos que sopram. Basta olhar o mapa eleitoral das eleições de 2018 quanto à formação das coligações para o governo, deputados federais e estaduais, para verificar um caos em que o eleitorado se depara com candidatos que não tem nenhum compromisso programático ou partidário, dificultando a percepção acerca da qualidade do voto e, dessa forma, se vota sem critérios definidos, surgindo o “voto de ocasião”, fatal para o segmento progressista.

Das urnas de 2018, no caso da Câmara de Deputados e Assembleia Legislativa, saiu um mosaico partidário. O PSDB, em completa decadência no plano nacional, aqui emergiu como o maior portador de votos para a Assembleia Legislativa, com 17,5% dos votos, mas que no âmbito da Câmara de Deputados sequer aparece entre os 10 mais votados. Ocorre que o PSDB que saiu das urnas de 2018 tinha 5 deputados e desde que se associou a Rogério Marinho sua bancada ganhou, esse ano, mais 6 deputados, tornando-se a maior força política local e que tem na figura do presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira de Souza, que teve mais de 58 mil votos (o mais votado), um poderoso adversário para Fátima Bezerra, se não no campo do Executivo, mas principalmente no legislativo local.

Com o advento das federações, pode ser que em termos de representação política, ocorram algumas novidades, mas acredito que a espinha dorsal de uma estrutura política que está aí desde 1894, não vai desmoronar de uma hora para outra, ou seja, a “governança” de Fátima Bezerra, se ela for eleita, dependerá muito do que vai ser a Assembleia Legislativa da nova legislatura e de quem vai ser o presidente da República.

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