O horror empoderado (e autorizado)
Natal, RN 24 de abr 2024

O horror empoderado (e autorizado)

12 de julho de 2022
3min
O horror empoderado (e autorizado)

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Esses dias têm sido de horror para quem vive a infelicidade de morar no Brasil em 2022. Soubemos de um médico anestesista que estuprou uma mulher sedada no momento do parto. Um dia antes, lemos sobre o militante do PT que foi assassinado por um bolsonarista que sequer o conhecia, porque este não gostou de sua festa de aniversário de celebrava Lula.

Há pouco mais de um mês acompanhamos o desaparecimento e morte do indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Philips. E o assédio de uma juíza e uma promotora a uma menina de 11 anos grávida após estupro que tentava fazer aborto legal. E depois da morte de Genivaldo por agentes da PRF numa viatura em plena luz do dia. Entre tantos horrores, somos brindados diariamente com as notícias de violência doméstica, assédio, feminicídio, LGBTcídio, racismo, tudo quase sempre proporcionado por "cidadãos de bem", conservadores e religiosos, e cujo voto para presidente em 2018 sabemos muito bem em quem foi.

Lendo sobre tanta coisa terrível no Twitter, deparei com o comentário de um jornalista "passando pano", como dizem os jovens, neste cenário atual, de que todas essas tragédias sempre aconteceram no Brasil. Não deixa de também ser verdade. Em um país construído sobre uma colonização extrativista, matança de povos nativos, escravidão e manutenção de abismos sociais, sempre vimos no Brasil horrores diversos.

A questão é que estávamos, ou parecia que sim, em um lento processo civilizatório. A eleição de um ex-metalúrgico oriundo de família pobre do interior pernambucano e depois de uma mulher divorciada que havia sido torturada pela ditadura militar nos colocaram em um aparente processo de exorcizar nossos fantasmas e de nos moldarmos como uma sociedade minimamente civilizada.

Mas percebemos hoje que os monstros sempre estiveram conosco mesmo nesses períodos citados. E, sim, havia casos de estupro, feminicídio, homofobia, racismo etc. O problema é que essas monstruosidades eram encaradas como uma aberração, uma excrescência. Mesmo atitudes menos danosas, como uma piada machista ou racista, uma ofensa homofóbica, eram feitas, evidentemente, mas as pessoas que as faziam não mostravam orgulho em faze-las e nem eram acolhidas ao fazer isso. Enfim, o mal era ou tentava ser discreto.

No Brasil pós-eleição de 2018 o cenário é o oposto. O horror foi empoderado por um despresidente e um desgoverno que fazem propaganda da violência e do armamento. Os assassinos, abusadores, racistas, machistas, misóginos que sempre estiveram entre nós, ganharam poder e espaço, muitas vezes tem apoio (ou benevolência, o que dá no mesmo) de parte da mídia e do poder judiciário. Na verdade, os horrores hoje são autorizados pelo desgoverno.

A liderança absoluta de Lula nas pesquisas indica uma possível (e necessária) vitória no primeiro turno. Será o primeiro passo para reverter essa cenário do empoderamento dos horrores. Eles continuarão a existir, claro, como sempre, mas sem a tutela do Estado. Aí o passo seguinte será tentar a volta ao processo civilizatório do Brasil enquanto sociedade. Difícil, mas, não impossível.

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