O Partido Liberal (PL) realizou neste domingo (31) sua convenção partidária estadual, em que homologou as 23 candidaturas da sigla para deputado estadual e nove para federal. Dentre os concorrentes a uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, está Wendel Fagner Cortez de Almeida, o Wendel Lagartixa, preso acusado de participação em um triplo homicídio. No evento, o partido ainda confirmou a candidatura de Rogério Marinho para o Senado, além de ratificar o apoio a Fábio Dantas (SD) e Ivan Jr. (UB) para governador e vice do Rio Grande do Norte.
O grande nome da convenção foi o do ex-ministro Rogério Marinho, lançado como candidato ao Senado pelo PL. Ele chegou no Palácio dos Esportes, local do evento, por volta das 11h e foi aclamado pelo público. O candidato foi saudado pelo prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), que disse que Rogério Marinho “ajudou muito o Rio Grande do Norte e a cidade de Natal”. Para ele, Marinho “foi um grande ministro e será um grande senador”.
O prefeito natalense ainda se comprometeu a atuar firmemente na campanha. “Vamos participar dessa campanha como se fosse candidato fôssemos, ao lado de Rogério, percorrendo os municípios do Rio Grande do Norte”.
Ao contrário de Rogério Marinho, Robinson Faria, que é ex-governador e pai do ministro das Comunicações, Fábio Faria, não teve a mesma recepção. Filiado ao PL, Robinson será candidato a uma vaga na Câmara Federal. Mesmo sendo anunciado com pompas pelo locutor, o público não se animou com sua chegada, e ele não foi aplaudido. Em outro momento, recebeu vaias de um pequeno grupo.
O político ficou marcado por seu período à frente do Executivo estadual. Governador do RN entre 2014 e 2018, sua gestão ficou marcada por alta rejeição e folhas atrasadas aos servidores públicos, que só vieram ser concluídas em maio deste ano.
Enquanto comandava o Rio Grande do Norte, Robinson tinha como vice o agora candidato a governador Fábio Dantas, que rompeu tecendo críticas pesadas e minimizando o papel de um vice frente à impopularidade do governador. Agora, se unem novamente.
Monarquia, aborto, armas e urnas
A convenção do PL foi típica de um evento conservador. Entre as diversas falas, houve discurso que apontava desconfiança sobre a votação eletrônica e pedia para “fiscalizar as urnas”, feita pelo candidato a deputado estadual Dr. Januncio Rocha. Ele ainda aproveitou para fazer um discurso anticomunista que associava o Brasil à Venezuela.
Já Luciana Monteiro, outra aspirante a ALRN, disse que os potiguares são obrigados “a inocular um experimento com o nome de ‘vacina’, que foi testada em rato, macaco e gente ao mesmo tempo. Todos os animais morreram, e mesmo assim enviaram para a população”, alegou. No primeiro ano de imunização, entretanto, as vacinas evitaram 19,8 milhões de mortes por Covid-19 no primeiro ano das campanhas de imunização, de acordo com um estudo publicado na revista Lancet Infectious Diseases.
Chamava atenção também a presença de algumas bandeiras monarquistas, da época do Brasil Império. Quem as balançava eram membros do Círculo Monárquico do RN, uma organização que defende o retorno à monarquia, e sob um regime parlamentarista. O grupo lançou a candidatura a deputado estadual de Thomas Medeiros, advogado que é ativista conservador e liderança do Círculo.
Na fala de Rogério Marinho, o ex-deputado federal também adotou uma retórica conservadora e discursou contra o aborto e a favor das armas. Marinho ainda aproveitou para tecer críticas à imprensa, a quem chamou de “militante”.
PL não vê constrangimento em lançar Lagartixa, que está preso, diz João Maia
Wendel Lagartixa foi preso no dia 20 deste mês na chamada Operação Aquaronte. Para a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil (DHPP), Wendel foi um dos executores de um triplo homicídio que ocorreu em 29 de abril, em um bar da Redinha. Além dos três mortos, mais três pessoas sofreram tentativa de homicídio e conseguiram escapar.
Junto com Lagartixa, também foi preso o sargento Francisco Rogério da Cruz, comandante da viatura da Força Tática do 4º Batalhão. De acordo com uma entrevista coletiva concedida pela DHPP, os indícios apontam que os acusados são participantes de um grupo de extermínio.
A candidatura de Wendel Lagartixa foi confirmada mesmo com ele estando preso. Quem o representou na convenção foi a esposa dele. O deputado federal e presidente estadual do PL, João Maia, também referendou a manutenção do nome de Lagartixa na nominata.
“Ele vai ser candidato. Legalmente, não tem problema nenhum, ele não tem nenhuma ponderação”. Perguntado se o partido se constrange ao lançar um militar preso, ele diz que não vê “nenhum” constrangimento. “Para nós, todo mundo é inocente até que se prove o contrário”, alegou.
Sobre a nominata formada pelo partido, Maia diz que ela é “muito competitiva e determinada”. Ele demonstrou “grande expectativa” pela atuação da sigla nas eleições potiguares de 2022.
A postulação Lagartixa ainda recebeu uma defesa enfática de Evandro Gonçalves Júnior, o Sargento Gonçalves. Candidato a deputado federal pelo PL, ele usou parte do tempo destinado aos discursos dos candidatos para defender Wendel, a quem chamou de “amigo”. Ele levou um banner com a imagem do colega e, num ato falho, afirmou que Wendel “é a voz da bandidagem”. Depois, se corrigiu: “é a voz contra a bandidagem”.
Para Gonçalves, Wendel Lagartixa e o Sargento Cruz “representam o combate à criminalidade no Rio Grande do Norte”. Ainda afirmou que os dois são vítimas e que “estão sendo injustiçados”. No discurso, disse que espera um julgamento correto.
“Que esses policiais possam ter a oportunidade de serem julgados dentro dos princípios dos Direitos Humanos. Que Deus possa abençoar Wendel Lagartixa, o sargento Cruz e todos os bons policiais desse Estado”.
A convenção do Partido Liberal foi realizada no Palácio dos Esportes, em Natal, e teve ainda a presença de políticos e dirigentes de outras siglas. Além de Fábio e Ivan, passaram por lá, por exemplo, os deputados Gustavo Carvalho, Tomba Farias, José Dias e Galeno Torquato, todos do PSDB. O forrozeiro Amazan, prefeito de Jardim do Seridó, também tocou e cantou uma música em homenagem a Rogério Marinho. Depois do músico, foi a vez do cerimonial abrir um momento para cantar o Hino Nacional. A canção veio em formato de axé.
O evento estava marcado para começar às 9h, mas iniciou por volta de uma hora depois. Na plateia, dezenas de bandeiras do Brasil e bandeirões que associavam o presidente Jair Bolsonaro (PL) à defesa da “democracia e liberdade”. Já às 13h, o número de pessoas presentes no Palácio dos Esportes diminuiu para cerca da metade. É que boa parte do público era formado por apoiadores da Grande Natal e do interior, que vieram até Natal em caravanas. Com o atraso na convenção, que estava programada para durar de 9h às 13h, e com discursos ainda pendentes na agenda, eles começaram a sair.
União Brasil potiguar se manterá alinhado a Bolsonaro mesmo se houver alianças com Lula nacionalmente, diz Ivan Jr
“Nós somos contra aliança com o PT. Isso é um fato concreto, e o partido não fica com o PT”. A afirmação é do candidato a vice-governador da oposição, Ivan Júnior. Filiado ao União Brasil, ele será o companheiro de chapa de Fábio Dantas (Solidariedade), que concorre a governador. Nos últimos dias, porém, o presidente nacional do UB, Luciano Bivar, ensaia uma aliança com Lula, rechaçada por Júnior e pelo presidente estadual da sigla, José Agripino.
Segundo a Rádio CBN, Bivar teria desistido de concorrer à presidência após reunião da Executiva Nacional do União Brasil que ocorreu nesta sexta-feira (29). A desistência do pernambucano vem também após a pesquisa Datafolha desta quinta (28), em que ele sequer pontuou. Agora, ele estaria buscando uma aliança com o PT.
Questionado se o diretório estadual vai passar a apoiar Lula caso o jogo vire e o partido realmente lance seu apoio ao petista, Júnior foi firme. “Nós estamos contra o PT e vamos seguir contra”.
Partido de Fábio Dantas apoia Lula para presidente, mas governadorável também mantém apoio a Bolsonaro
Não é só o candidato a vice da oposição que vive diferenças com o partido a nível nacional. Se, no caso do União Brasil, a aliança com Lula e PT não está consolidada, a questão já é certa para o Solidariedade de Fábio Dantas.
Já nesta terça-feira (26), a sigla realizou conferência partidária nacional em que ratificou a coligação e o apoio ao petista para a sucessão presidencial. A aliança nacional contrasta com o discurso anti-Fátima empregado por Dantas e o presidente estadual do Solidariedade, Kelps Lima.
Mas, para Fábio Dantas, isso não é um problema, já que a aliança com o bolsonarismo no Rio Grande do Norte teria sido feita com a anuência da Executiva Nacional e do presidente nacional do partido, Paulinho da Força.
“Está tudo bem conduzido. A gente negociou a nossa oposição no Rio Grande do Norte com a [Direção] Nacional, e a nível nacional também está tudo tranquilo, tudo combinado”. De acordo com Fábio Dantas, Paulinho da Força não criou empecilhos à chapa potiguar.
“De jeito nenhum, muito pelo contrário. Ele tem aqui o fortalecimento da chapa federal, e a prioridade dos partidos não é governador. É a chapa à deputado federal”, disse.