Saúde tem cura
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Saúde tem cura

4 de julho de 2022
4min
Saúde tem cura

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Por Avânia Dias de Almeida

O filme “Saúde tem Cura'', de Sílvio Tendler, foi produzido no decurso da pandemia da COVID-19, no qual, pretensiosamente, traz como pano de fundo as lutas dos sanitaristas pela construção de um Sistema Universal de Saúde no Brasil, que mais a frente seria chamado de Sistema Único de Saúde, a mãe de todes, o SUS.

Ao alcance da vista e também da compreensão, por ter sido pauta recente em todos os lares brasileiros, o SUS é apresentado de forma monumental, em sequências e lances de imagens e relatos de profissionais de saúde no enfrentamento à pandemia.

As palavras de ordem clamadas na 8º Conferência Nacional de Saúde ecoaram fortes na obra de Sílvio. A contemporaneidade das vidas salvas, recentemente, tanto pela organização rápida dos serviços públicos de saúde e sua capilaridade em cada canto do Brasil, se junta ao longevo histórico de milhões de tantas outras vidas preservadas em atendimentos simples e complexos nas últimas três décadas.

É possível que algumas pessoas não saibam que antes da consolidação do SUS como política de Estado, só uma pequena parte dos brasileiros conseguiam atendimentos de saúde, pelo então Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), voltado para apenas os empregados formais contribuintes. Os demais cidadãos viviam sem proteção do Estado.

Lembro das noites frias que passamos nas calçadas do antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que estava na época em transição para ser Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no início da década de 90, em Currais Novos/RN. Minha mãe, eu e minha irmã íamos pernoitar numa fila para tentar uma ficha de atendimento, se por sorte sobrasse. A tiracolo sempre tinha uma garrafa de café quentinho, um pacote de bolacha seca, e cobertores. Pra mim era uma alegria, uma verdadeira aventura sair de casa para passar a noite fora ouvindo as conversas dos adultos da fila…

Mas quando penso na minha mãe, lavadeira e dona de casa, com duas filhas pequenas saindo à boca da noite para enfrentar uma noite em claro, em busca de um atendimento médico, quase sempre já estando acometida por alguma doença, percebo que era um contexto desumano, perverso e cruel. Ela era muito forte em lidar com isso. Infelizmente muita gente não teve essa resistência.

Voltando para o ano de 2022, precisamos mostrar a todes, mas especialmente à galera jovem, que apesar de possuirmos um sistema de saúde universal, integral, equânime, descentralizado, regionalizado, hierarquizado e com participação social, ainda estamos a todo tempo precisando garantir sua existência na agenda pública dos governos executivos, ademais nas pautas do legislativo e decisões do judiciário.

A manutenção do Sistema Único de Saúde está nas mãos de cada pessoa que irá às urnas no dia 03 de outubro deste ano, em nome das mais de 600 mil vidas brasileiras perdidas para a COVID-19, por consequência da falta de condução de Bolsonaro e seu desgoverno, que de modo negacionista atrapalhou e atrasou as ações necessárias para o enfrentamento da maior crise sanitária já vista no Brasil e no mundo. Não podemos esquecer do poder que temos de virar esse jogo. Pelas vidas que se foram, e pelas que estão por vir. Recomendo a provocativa obra de Sílvio Tendler para o almoço de domingo.

Avânia Dias de Almeida é sanitarista, trabalhadora e militante do SUS.

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