OPINIÃO

A barbárie conformada

Por Lázaro Amaro

Manifesto aqui minha solidariedade e minha tristeza à família dessa jovem Adriana, do Encanto, no Alto Oeste do Estado, morta nesse final de agosto, mais uma vítima de feminicídio, crime que tanto se repete ainda, entre nós. Chamo-me, porém, à reflexão.

A sociedade proposta na Constituição da República não pode se satisfazer com o devido processo legal, já tão pouco respeitado por nossas instituições, enquanto obediência intransigente e rigorosa ao ordenamento jurídico pátrio, em especial aos princípios que norteiam os direitos do cidadão em face do estado, quando enfrenta uma ação deste contra si, ainda mais quando se trate de processo criminal. Noutros termos, não poderá jamais ser suficiente apenas processar, condenar e fazer cumprir pena o autor do crime, com atenção às garantias. É impossível realizar a Constituição sem a transformação da cultura, dos costumes, dos valores, com muito mais que urgência. É impossível existir um estado democrático de direito sem que a solidariedade seja uma de suas fundações. É necessário arrostar o que se ensina na escola e também o que se aprende em casa e nas ruas, e, agora, o que se aprende pela internet. Um feminicídio não é apenas a interrupção de uma vida preciosa pelo ódio e pelo egoísmo do macho possessivo e possesso. Trata-se de uma brutal violência contra todas as mulheres, porque resulta de uma construção social opressiva que é o patriarcalismo judaico-cristão. Todas as pessoas são livres para crerem no sobrenatural e para escolherem a forma que pensam que ele tem.

Mas ninguém tem o direito de adotar regra de vivência que contrarie a liberdade, a vida e a justiça. E, mais grave, nem os pais têm o direito de ensinaro que bem quiserem a seus filhos. Ninguém tem o direito, por exemplo, de ensinar os filhos a praticarem crimes. Tantas mortes deveriam ser respondidas também com enfrentamentos na fonte dos conflitos e nos textos dos casamentos, em vez de apenas conformarmos a barbárie à lei que não chora.

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