Aposta para impulsionar reeleição de Bolsonaro, voto evangélico não terá a mesma força de 2018, avalia cientista social
Natal, RN 18 de abr 2024

Aposta para impulsionar reeleição de Bolsonaro, voto evangélico não terá a mesma força de 2018, avalia cientista social

28 de agosto de 2022
5min
Aposta para impulsionar reeleição de Bolsonaro, voto evangélico não terá a mesma força de 2018, avalia cientista social

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Demonizar a esquerda e amedrontar os fiéis. A tática utilizada na campanha de Jair Bolsonaro (PL) em 2018 em torno da pauta religiosa volta ao seu palanque na tentativa de reduzir a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontada pelas pesquisas de opinião, e levar a disputa à presidência da República para o segundo turno. A questão é: conseguirá novamente quase 70% dos votos evangélicos que teve na eleição passada, segundo estimativa do Datafolha? Para o cientista social Orivaldo Lopes Júnior, não.

Contudo, o professor, titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com a defesa da tese "Parcerias do Conhecimento: Epistemologia dos Estudos da Religião e do Mito", avalia que o voto evangélico ainda terá muita força na campanha de Bolsonaro à reeleição no Planalto.

Não adianta pensar que vai se conseguir romper a barreira dos 50%. Porque é muito difícil atravessar os policiais de fronteiras, que são os pastores que estão ali nas porteiras”, afirma.

Isso porque, para Orivaldo, representando um terço do eleitorado, as lideranças evangélicas são muito atuantes e estão colhendo o resultado de anos de ativismo religioso.

Eles [pastores] gozam ainda de autoridade ideológica sobre os membros das igrejas. São gestores do capital simbólico e econômico das igrejas. Se eles repassam fake news pelas redes sociais, pelo WhatsApp, eles acabam batizando as fake news como verdade, porque vem com a força da autoridade”, pontua.

O exemplo desse uso de notícias falsas com apelo moral como ferramenta estratégica nas eleições está na afirmativa do deputado Marco Feliciano à imprensa na largada da campanha.  Mesmo sem nunca ter sido assinalado pelo ex-presidente Lula, em discursos ou mesmo no exercício dos seus dois mandatos, o parlamentar tem falado aos fiéis sobre as consequências de uma vitória do PT e mentiu ao dizer que Lula fecharia igrejas evangélicas caso voltasse à presidência da República:

Falamos no risco de perseguição. Uma perseguição que pode culminar no fechamento de igrejas”, disse o deputado.

O PT rebateu a fala de Feliciano e ingressou com uma ação na Justiça para que o deputado apresente provas de sua acusação.

Sem mecanismos de controle, as fake news são disseminadas na tentativa de reverter a tendência de crescimento de Lula entre os evangélicos. Em maio, segunda pesquisa Datafolha, a dianteira de Bolsonaro em relação a Lula era apenas de 3 pontos. Com a investida nas pautas conservadoras, o presidente Jair Bolsonaro ampliou sua vantagem sobre o ex-presidente Lula no eleitorado evangélico, que agora é de 17 pontos percentuais, segundo a última pesquisa do Datafolha sobre a disputa ao Planalto, divulgada no último dia 18 de agosto. No segmento, o atual mandatário saltou de 43% para 49% das intenções de voto no último mês, enquanto Lula oscilou negativamente de 33% para 32%.

Os números refletem as apostas de Bolsonaro uma vez mais no eleitorado evangélico. No final de julho, em seu discurso de lançamento da candidatura, Bolsonaro fez sete menções a Deus – sua esposa, a protestante Michelle Bolsonaro, o invocou outras 27 vezes no palanque. Na ocasião, Michelle apresentou o marido como um "escolhido de Deus" que tem um "projeto de libertação para a nossa nação".

O cientista social avalia que para reagir a essa ofensiva de fake news e conquistar o voto evangélico, o PT precisa “furar a porteira, pulando a cerca através das redes sociais, das relações familiares, religiosas e outras redes que não digitais, mas redes de contatos. Trazendo dentro dessas redes outro discurso. Um discurso marcado pela alegria, pelo amor, pelo respeito, diferentemente desse discurso de ódio, de rancor, de maldade, de maldade concentrada do bolsonarismo”.

Além disso, Orivaldo considera importante “fortalecer movimentos evangélicos de contestação, como a frente dos evangélicos pelo estado de direito que já existe há seis anos e que tem crescido muito pelo país, o núcleo de evangélicos do PT, e uma série de outras redes que existem por aí, como comitês evangélicos prós Lula”.

O PT criou neste ano núcleos evangélicos em 21 estados – enquanto busca diferenciar sua abordagem sobre a interface entre política e religião em relação à de Bolsonaro. No lançamento de sua campanha, Lula afirmou que Bolsonaro tentar manipular a fé de evangélicos, mas avaliou que ele era "possuído pelo demônio". Em suas redes sociais tem se apresentado como “candidato do povo brasileiro”, e afirmado que quer “tratar todas as religiões com respeito. Religião é para cuidar da fé, não para fazer política”.

“O Lula está completamente correto ao dizer que Bolsonaro está endemoniado. Está sim, está endemoniado não por um demônio, do tipo passado na televisão, mas pelo demônio do poder, da corrupção, da destruição das relações, da destruição da natureza, destruição das famílias. Apesar de ele ter um discurso de família, mas as suas atitudes destroem a família”, afirmou Orivaldo Júnior.

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