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Rogério Marinho omite prédio em declaração de bens feita ao TSE, aponta jornal O Globo
23 de agosto de 2022
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Candidato ao Senado e principal nome do Bolsonarismo no Rio Grande do Norte, o ex-ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho (PL) não informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um imóvel residencial registrado em seu nome e localizado na região central de Natal. A informação foi publicada pelo jornal O Globo nesta segunda-feira (22).
O jornal conseguiu uma certidão do cartório do 7º Ofício de Notas de Natal mostrando que o ex-ministro e sua esposa são proprietários de um prédio residencial no bairro Cidade da Esperança, na capital potiguar. A escritura diz que o bem está alugado para um casal de dentistas desde agosto de 2013.
Em declaração de bens apresentada ao TSE, Rogério Marinho disse ter apenas um apartamento, avaliado em R$ 1,2 milhão, e não cita qualquer outro imóvel. Vale ressaltar que em apenas quatro anos, o patrimônio financeiro do potiguar Rogério Marinho (PL) aumentou em mais de R$ 1 milhão (R$ 1.001.254,1), de acordo com as declarações de bens apresentadas por ele junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre as eleições de 2018 e de 2022, mesmo sem contar com esse prédio apontado pela reportagem do jornal O Globo.
Rogério afirma que vendeu prédio em 2018 e compradora diz que "esqueceu" de fazer transferência
A reportagem do jornal O Globo conversou com o candidato bolsonarista. À reportagem, Rogério Marinho disse que, apesar de constar em seu nome, o imóvel foi vendido há seis anos e que, por esse motivo, não foi declarado ao TSE. "Não é meu. O cara (comprador) não passou (o prédio) para o nome dele. Vendi há seis anos. O cara não passou para o nome dele, mas está vendido", afirmou o ex-ministro, por telefone, acrescentando: "Vou tentar localizar o comprador para que (ele) dê declaração de que comprou. Estou no interior e hoje é o primeiro dia de campanha".
No texto, o jornalista Patrik Camporez explica que cerca de 30 minutos após o primeiro contato com a reportagem, o ex-ministro de Bolsonaro pediu mais tempo para viabilizar os comprovantes de venda do imóvel. Após ser cobrado novamente, o ex-ministro apresentou uma declaração escrita de próprio punho pela suposta compradora. Em uma página de papel, Glória Virgínia de Souza Ribeiro, uma moradora da capital do estado, declarou ter adquirido o prédio de Rogério Marinho em 2018. O documento tem a data do dia em que a reportagem procurou o ex-ministro, 16 de agosto de 2022, e não consta com autenticação cartorial ou selo oficial.
A reportagem de O GLOBO conseguiu contato com Glória Virgínia. Apesar de não lembrar o valor da compra nem saber quais são os atuais inquilinos do imóvel, ela afirma que comprou o bem em 2018 — assim como ela declarou no documento encaminhado por Marinho à reportagem. Glória Virgínia é moradora de Natal e diz trabalhar com a compra de terrenos e imóveis. Glória Virgínia diz que não transferiu o prédio para seu nome porque “esqueceu”.
"Eu comprei esse imóvel mais ou menos em 2018. Eu me descuidei e não passei a titularidade para mim. Acabou passando despercebido. O IPTU não foi transferido para meu nome, também, mas eu sou a dona. Na casa moram pessoas, não sou eu, mas continuo com a casa", disse.
IPTU do prédio também está no nome de Rogério Marinho
O repórter conta que na folha de papel entregue ao GLOBO, consta o número da inscrição do imóvel junto à Prefeitura. De acordo com dados da prefeitura de Natal, as parcelas do IPTU do imóvel referentes a este ano constam registradas no nome de Marinho. Questionado novamente sobre isso, o ex-ministro disse que “a responsabilidade de passar o imóvel para o nome do comprador é de quem comprou”. "É um fato que milhões de transações são feitas em nosso país e não são passadas em cartório", completou.
Em nota enviada após a publicação da reportagem, a defesa de Marinho alegou que a "declaração de bens de prestada à Justiça Eleitoral atende rigorosamente ao disposto no artigo 27, I da Resolução 23.609-TSE" e afirmou que, "se o bem foi vendido e o fato foi confirmado pelo vendedor (candidato) e ela compradora do imóvel, Rogério Marinho não poderia tê-lo declarado à Justiça Eleitoral, sob pena de, aí sim, está faltando com a verdade".
O advogado do ex-ministro ainda disse que "se a compradora do imóvel não transferiu a propriedade do bem a tempo e a modo e nem o IPTU, esta responsabilidade não pode ser atribuída ao candidato, como feito na matéria, porque é a Lei quem obriga o comprador a assim proceder".
Rogério Marinho trocou de cor e dobrou patrimônio em quatro anos
Em apenas quatro anos, o patrimônio financeiro do potiguar Rogério Marinho (PL) aumentou em mais de R$ 1 milhão (R$ 1.001.254,1), de acordo com as declarações de bens apresentadas por ele junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre as eleições de 2018 e de 2022. Mesmo se não tivesse qualquer despesa e não gastasse com nada nesse período, o valor acumulado é maior do que a soma de todos os salários que ele recebeu durante os últimos quatro anos, nos quais ocupou os cargos de Secretário Especial da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia e Ministro do Desenvolvimento Regional.
Por meio de nota, Rogério Marinho negou que seu patrimônio tenha aumentado nos últimos quatro anos. Pelo contrário, o ex-ministro afirma que ele diminuiu.
“Em 2018 eu tinha duas casas que não possuo mais, restam um terreno transformado em cotas e um apartamento financiado em 30 anos na Caixa Econômica Federal, faltando 18 anos para quitá-lo. Além da dívida deste financiamento, possuo ainda algumas aplicações compatíveis com a minha renda. A diferença entre valores declarados entre 2018 e agora se dá unicamente pela evolução no pagamento do financiamento e pela atualização dos valores dos bens que eu já possuía “.
ALém do patrimônio, Rogério Marinho também mudou de cor para as eleições de 2022. Até 2018, para a Justiça Eleitoral, o ex-ministro se reconhecia como pardo. No registro de candidatura para as eleições de 2022, em que concorre a uma vaga no Senado, ele se declarou branco.
Marinho já disputou nove eleições no Rio Grande do Norte, para cargos como vereador e prefeito de Natal, deputado federal e, agora, senador. Até 2012, a informação sobre sua autodeclaração de cor/raça não constava nos registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já em 2014, quando concorreu à Câmara Federal, Marinho se autodeclarou pela primeira vez como pardo, que se repetiu na sua tentativa fracassada de reeleição em 2018.