Apesar do nome, a Igreja do Rosário dos Pretos, no bairro da Cidade Alta, em Natal, é frequentada atualmente, majoritariamente, por pessoas brancas que moram na zona sul da cidade. A constatação levou a fotógrafa e documentarista Meysa Medeiros a pesquisar mais sobre o tema. Uma curiosidade que acabou resultando num ensaio fotográfico.
Em “Relicarium”, Meysa mergulha nesse universo da religiosidade da capital potiguar para resgatar memórias e origens. No jogo de sombras entre o preto e o banco, ela revela o lugar central dos negros que aqui moraram, mas que são esquecidos sistematicamente.

“Comecei a ler algumas notícias sobre a igreja e suas curiosidades. Ela, por exemplo, é a única onde ainda se faz pelo menos a metade da missa em latim. Notei que do público que frequentava o lugar, quase ninguém era da comunidade, mas pessoas de outros bairros mais ligados à zona sul de Natal e para quem vai na igreja e não sabe da história, não vê ligação com os escravos. Antes tinha as estátuas, mas que foram vandalizadas”, relata Meysa.
A fotógrafa se refere a um episódio ocorrido em setembro de 2021, quando estátuas foram encontradas no chão, no pátio de Igreja, o que levou muita gente a pensar que elas haviam sido vandalizadas. Mas, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as estátuas foram removidas da Igreja porque não faziam parte do patrimônio tombado.
Com um senso de pertencimento aguçado, Meysa sai daquela primeira visão de um turista que se encanta mais pela arquitetura e sacralidade das imagens, e foca na presença ausente dos negros que ocuparam ou deveriam ocupar aquele espaço. Ao todo, foram escolhidas 12 fotografias para a exposição que será realizada a partir do dia 20 de setembro e está sendo montada no Museu Câmara Cascudo com curadoria de Henrique José.
A Igreja dos Pretos está na lista de monumentos e espaços públicos tombados pelo IPHAN e pela Fundação José Augusto desde 1987, pela importância cultural para o Rio Grande do Norte. O lugar é a segunda igreja mais antiga da capital, tendo sido construída por pessoas escravizadas no início do século XVIII.
“Pensei em desenvolver um ensaio sobre a presença destes negros, afinal, foram eles que a construíram, através da irmandade dos pretos do rosário. Essa pesquisa ainda tá embrionária, fui meio que descobrindo coisas e acho que se continuar por 10 ou 20 anos, ainda haverá muito mais para saber sobre eles e a igreja”, avalia a fotógrafa.
A exposição faz parte do 2º Festival daFOTO! Potiguar, que integra o Coletivo daFOTO!, dentro da programação da 16ª Primavera dos Museus do Museu Câmara Cascudo. O trabalho foi viabilizado financeiramente através do edital de “Apoio Financeiro às Expressões Culturais Religiosas 2021, da Secretaria Municipal de Cultura (Secul-Fucarte), da Prefeitura de Natal.


SERVIÇO:
Exposição Relicarium
Quando: 20 de setembro à 1º de outubro
Onde: Museu Câmara Cascudo (Av. Hermes da Fonseca, 1398, Tirol)
Horas: 19h
Entrada: gratuita