O tema da violência policial nas periferias suscita o filme “A mãe” (2022), dirigido por Cristiano Burlan, que divide o roteiro com a potiguar Ana Carolina Marinho. Com estreia prevista para 10 novembro, o longa-metragem está entre os pré-selecionados para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional na 95ª Premiação Anual promovida pela Academy of Motion Picture Arts and Sciences – Oscar 2023.
O filme conta ainda com outras duas artistas do Rio Grande do Norte: as atrizes Badu Morais e Anna Zêpa.
Também concorrem à indicação “A viagem de Pedro”, de Laís Bodanzky; “Carvão”, de Carolina Markowicz; “Marte um”, de Gabriel Martins; “Pacificado”, de Paxton Winters; e “Paloma”, de Marcelo Gomes. A escolha definitiva será feita em 5 de setembro.
O roteiro começou a ser escrito em 2015 durante a produção do documentário “Elegia de um crime” (2018), sobre o feminicídio da mãe de Burlan. Esse trabalho fechou a Trilogia do Luto, que aborda também as mortes do pai e do irmão do cineasta.
“A gente tava ali imerso nessa história que também fala sobre a violência nas periferias, que também fala sobre a resistência e a força de uma mãe diante de um histórico de violência policial que também é o que acontece com o irmão do Cristiano que é vítima também da violência policial, vítima de um homicídio causado por uma milícia, comandada por policiais no Capão Redondo, periferia de São Paulo”, conta Ana Carolina, lembrando o contexto em que começaram a sonhar falar sobre a força das mães que sofrem com a letalidade policial.

O Movimento Mães de Maio – que se mobiliza por justiça e memória das vítimas de violência institucional contra comunidades periféricas – mais que inspira, participa da obra. A fundadora Débora Silva atuou e ganhou prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Cinema de Málaga, na Espanha.
O filme tem distribuição da SP Cine e também foi premiado no 50º Festival de Cinema de Gramado com estatuetas de melhor direção, melhor desenho de som, para Ricardo Zollmer, e melhor atriz, para a mãe protagonista, vivida por Marcélia Cartaxo (consagrada por Macabeia, em A Hora da Estrela).
No centro da trama está Maria, uma nordestina que vive na periferia e trabalha como camelô. Quando o filho desaparece, ela busca or informações e um traficante informa que o jovem foi morto pela polícia.

“Marcélia sempre foi o rosto pra assumir o corpo dessa protagonista A gente sempre escreveu pensando que ela seria a nossa atriz. E concebeu o roteiro pensando que a Maria encontraria a Débora Silva, que é essa militante, e que aconteceria no bairro Jardim Romano, que é um bairro onde eu atuo há 11 anos com meu coletivo de teatro”.
Ana Carolina Marinho é de Natal e começou no teatro aos nove anos de idade. Mora há onze anos em São Paulo, onde estudou Teatro na SP Escola de Teatro e cursos livres de Cinema, Montagem, Roteiro e Interpretação pra Cinema. Nessas aulas, conheceu Cristiano Burlan e começaram a parceria.
“A gente já realizou mais de cinco filmes, entre eles o ‘Estopô Balaio’, que é um documentário sobre o meu coletivo de teatro que eu faço parte e que tem onze anos de trajetória. A gente fez documentário ‘Elegia de um crime’; fez as ficções ‘Hamlet’, ‘Fome’, ‘Antes do fim’. A gente tem alguns roteiros também desenvolvidos, mas que ainda estão em fase de captação de recursos”, antecipa.