Manifestantes prometem fechar trânsito e pedem explicações à Prefeitura de Natal sobre reforma na Ponte de Igapó
Natal, RN 20 de abr 2024

Manifestantes prometem fechar trânsito e pedem explicações à Prefeitura de Natal sobre reforma na Ponte de Igapó

15 de setembro de 2022
9min
Manifestantes prometem fechar trânsito e pedem explicações à Prefeitura de Natal sobre reforma na Ponte de Igapó

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Preocupados com o fechamento da Ponte de Igapó para a realização de obras que devem durar cerca de 18 meses (1 ano e meio), numa das principais ligações entre as zonas nortes e sul da cidade, moradores que passam pelo local todos os dias vão fazer um protesto nesta sexta (16).

Essa é a via de acesso para muitas pessoas, não só do município de Natal, mas também das cidades circunvizinhas. O prefeito de Natal, Álvaro Dias, não chamou a população para conversar sobre os impactos negativos dessa interrupção. Sabemos da necessidade de se fazer essa obra, mas como vivemos em uma democracia, não dá para transformar a vida das pessoas sem ao menos fazer um estudo de impacto, junto a toda a comunidade. Álvaro Dias segue autoritário, tomando decisões a partir, apenas, da sua própria análise”, critica a professor Rayane Valentim, que também vai participar da manifestação.

No planejamento da obra está prevista a reestruturação da avenida Felizardo Moura, pavimentação, drenagem, criação de calçadas e ciclovias, além de adequação do Viaduto da Urbana, com a construção de uma trincheira no bairro Nordeste, na Zona Oeste da capital.

De acordo com o Secretário Adjunto de Infraestrutura de Natal (Seinfra), foram planejados alguns desvios e intervenções parciais na Ponte de Igapó, que podem ser alterados durante a execução da obra.

Ainda estamos estudando a melhor solução e a que menos impactará a população. A melhor forma possível será feita. Com a intervenção de uma via... e deixando o outro lado liberado... intervenções parciais... nada disso está fechado. E os ajustes necessários serão feitos com o andamento dos serviços. Iremos atuar inicialmente na Felizardo Moura e, após sua conclusão, que deveremos entrar na execução da trincheira”, detalha Rafael Gurgel, Sec. Adjunto da Seinfra.

A intervenção na avenida Felizardo Moura pela prefeitura está programada para começar nesse próximo domingo (18). Postes já foram realocados no local essa semana pela Companhia Energética do RN (Cosern). Cerca de 75 mil veículos passam pelo local diariamente, além das 45 linhas do transporte coletivo, que levam e trazem cerca de 45% dos passageiros que utilizam o sistema público de transporte.

Os desvios planejados até agora não agradaram a quem precisa passar pelo local diariamente e já enfrenta engarrafamentos, antes mesmo das intervenções.

Só eu conheço três pessoas que já pediram demissão, pois não haverá a mínima condição de sair da Cidade da Esperança e ir trabalhar no Igapó pela ponte nova. O gasto de gasolina não compensa. Ele [o prefeito] liberou a via apenas para ambulâncias. Quer dizer que para chegar a um hospital nas Quintas, a pessoa tem que sair de São Gonçalo do Amarante, pelos Guarapes para cortar toda uma cidade? A pessoa morre ou não?”, questiona Rayane Valentim.

Avenida Felizardo Moura I Foto: Prefeitura de Natal
Avenida Felizardo Moura I Foto: Prefeitura do Natal

Nova pandemia...

O professor de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e especialista em trânsito, Rubens Ramos, alerta que o longo período de intervenção pode resultar em efeitos econômicos para a região semelhantes aos que ocorreram durante a pandemia da covid-19, quando comércios fecharam e houve aumento da taxa de desemprego.

Não há justificativa para uma intervenção durante todo esse tempo. Essa é uma obra que deveria ser executada em dois meses, com regime de trabalho de 24 horas porque meio milhão de pessoas serão afetadas. O pavimento da Felizardo Moura entre a Urbana e a Mário Negócio tem cerca de 1,8 quilômetros de extensão. É uma coisa simples em termos de obra de pavimentação. Com a tecnologia que temos hoje, coloca-se uma espécie de tapete geotêxtil, depois uma camada de base e asfalto, é muito mais rápido”, calcula Rubens Ramos.

Para exemplificar como a intervenção na Felizardo Moura seria demorada, Ramos detalha que as trincheiras construídas para a Copa de 2014 foram executadas em apenas seis meses.

As trincheiras da copa foram feitas em seis meses, porque são necessários 9 meses agora? É preciso acelerar as obras, não se pode impor um colapso por tanto tempo, uma inconsequência, além de risco de impacto na cidade, que é grande e imprevisível. Pessoas perderão emprego, comércio...não é uma estrada no meio do nada, não é como a reforma de uma casa que você faz aos poucos”, alerta Rubens Ramos.

“O serviço não afeta apenas quem mora e trabalha na região, mas a cidade inteira. Se durar todo esse tempo, Natal será outra, vai ser outra pandemia do ponto de vista da mobilidade das pessoas para o trabalho. É fora do normal em termos de engenharia, não é uma empresa de fundo de quintal, mas com conhecimento técnico e capital financeiro para conseguir executar a obra. É para entrar, agir e resolver, não pode ser como foi a obra da Jerônimo Câmara, que durou 8 anos, e da Capitão Mor-Gouveia, que não foi concluída até hoje”, critica o professor da UFRN.

Estudos desconhecidos...

Reestruturação da avenida Felizardo Moura I Imagem: cedida pela STTU
Reestruturação da avenida Felizardo Moura I Imagem: cedida pela STTU

Outro questionamento levantado pelos moradores e pelo especialista em trânsito da Universidade Federal é o acesso aos estudos de impacto econômico e ambiental da obra. Eles são obrigatórios para execução desse tipo de serviço pelo poder público.

A Seinfra já tem a licença de instalação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) para execução da obra, concedida em 19 de agosto. Mas, até o momento, os dados desses levantamentos não foram divulgados pela Prefeitura de Natal.

O estudo de impacto ambiental e econômico uma exigência. É preciso dizer quanto vai gastar e quais serão os benefícios para fazer a conta e avaliar se vale a pena fazer essa obra, senão, o dinheiro público será empregado em outro local. Se isso não é feito, há um grande risco de imprevistos e aditivos, que podem aumentar os custos. Os estudos não são feitos apenas porque é lei, mas porque há um propósito nisso”, explica Rubens Ramos.

A Agência Saiba Mais tentou ter acesso aos estudos e fez a solicitação à Semurb nesta quarta (14), mas, até o início da tarde desta quinta (15), o pedido não havia sido atendido.

Muita obra para pouco trânsito?

Os serviços serão executados pela empresa GCR Construções S/A, uma subsidiária da potiguar EIT, que tem tradição na execução de obras de engenharia e que fez estradas e a reforma da Via Costeira.

Rubens Ramos ainda avalia que a construção da trincheira torna o viaduto da Urbana desnecessário e provoca um acúmulo de obras que torna o ambiente em seu entorno degradado.

A trincheira embaixo do viaduto da Urbana é desnecessária e seria inútil sem demanda de trânsito. O ideal seria substituir o viaduto, que é horrível em termos de engenharia, tráfego e ambiente no seu entorno. A trincheira teria menos impacto e o trânsito voltaria para o chão, resolveria o problema e acabaria com aquela gambiarra, porque há quatro fluxos no viaduto...é uma salada. Na minha opinião, com a trincheira, deveriam demolir o viaduto. Mas, mantê-lo e também ter a trincheira com rotatória, é excessivo. Essa é uma solução para melhorar aquele ambiente, que está totalmente degradado hoje”, avalia o professor, que calcula que a demolição do viaduto levaria cerca de um mês.

De acordo com o secretário Adjunto da Seinfra, os estudos apontaram que a melhor solução seria a construção da trincheira com a manutenção do viaduto e da rotatória da Urbana. Mas, como o levantamento não foi realizado pela Seinfra, ele não poderia opinar sobre a questão, que já está definida.

DESVIOS

Com o bloqueio da Felizardo Moura a partir de 18 de setembro, para quem trafega no sentido Aeroporto-Ceará-Mirim, o desvio será pelo acesso sul do aeroporto em direção a zona sul de Natal e região metropolitana. Já no sentido Extremoz-Litoral Norte, o desvio será pela avenida Moema Tinoco em direção à Ponte Newton Navarro.

No caso de quem tiver origem na Tomaz Landim, o desvio será pela avenida Dr João Medeiros Filho em direção à Zona Sul.

Desvios recomendados pela STTU durante bloqueio da Felizardo Moura I Imagem: cedida pela STTU
Desvios recomendados pela STTU durante bloqueio da Felizardo Moura I Imagem: cedida pela STTU

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