Organizações lideradas por negros e negras no RN vencem edital nacional de combate ao Racismo
Natal, RN 23 de abr 2024

Organizações lideradas por negros e negras no RN vencem edital nacional de combate ao Racismo

7 de setembro de 2022
5min
Organizações lideradas por negros e negras no RN vencem edital nacional de combate ao Racismo

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O Rio Grande do Norte emplacou duas organizações de ativistas negros e negras no edital de Enfrentamento ao Racismo lançado pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos e divulgado nesta terça-feira (6). A Associação Negros Feliciano do Alto e o Coletivo Assessoria Ciranda se juntam a outras 20 entidades de 15 estados do país selecionadas no prêmio. Cada uma das organizações receberá R$ 50 mil para investimentos no fortalecimento e sustentabilidade das entidades.

Fundada em 2007 no quilombo do Sobrado, no município de Portalegre, a Associação Negros Feliciano do Alto (ANFA) tem como áreas de atuação o combate ao racismo e à violência contra a mulher. Da ANFA surgiu uma ramificação, um coletivo de mulheres, batizado de Amélia, que se organiza através de uma pequena fábrica de costura e debate o machismo na própria comunidade em rodas de conversa na região. Portalegre fica na região Oeste e é o município potiguar que concentra o maior número de quilombos, quatro no total.

Fábrica de costura foi criada pelas mulheres da comunidade quilombola do Sobrado, em Portalegre (RN) / foto: divulgação

Membro quilombola da associação, Aércio de Lima recebeu a notícia de que a organização havia sido selecionada pela agência SAIBA MAIS. Surpreso, pediu um tempo para avisar aos moradores quilombolas e disse que a comunidade ficou em festa quando soube:

- A gente não esperava, é surreal ! É um edital que vem fortalecer a luta do enfrentamento ao racismo e nossa associação já vem trabalhando em cima disso desde 2007. Também trabalhamos o combate ao machismo, através de rodas de conversa. Hoje nossa comunidade sabe o que é a importância de enfrentar tanto o machismo como o racismo. Estamos muito felizes”, afirmou.

A utilização dos recursos é flexível, segundo o edital. Na planilha enviada, a ANFA incluiu investimentos na reforma da estrutura física da associação, compra de computadores e telefones celulares, móveis para escritório e passagens para eventuais viagens, além de outras despesas administrativas.

Assessoria Ciranda vai fortalecer formação de lideranças em comunidades tradicionais e o combate ao racismo nas escolas

Coletivo Assessoria Ciranda nasceu em 2019 e tem atuação na Bahia e no Rio Grande do Norte / foto: divulgação

Com foco na atuação e militância no combate ao racismo e na defesa dos direitos humanos, o coletivo Assessoria Ciranda nasceu em 2009 na Bahia e chegou pouco depois ao Rio Grande do Norte. A organização, que não tem sede física, atua em três eixos: a defesa dos povos e comunidades tradicionais; combate ao racismo e a desigualdade de gênero; e o desenvolvimento econômico, através da inclusão produtiva.

O coletivo é formado por 10 membros, divididos entre Salvador e Natal. Um das pautas principais vem sendo o curso para promotores e defensores populares, que forma lideranças locais para atuação nas próprias comunidades de povos tradicionais. Um embate importante que vem sendo travado pelo grupo no Estado é pela redução dos efeitos que a instalação de torres eólicas tem gerado em pequenas comunidades.

Membro do coletivo Assessoria Ciranda, João Paulo Diogo destaca a utilização pelo grupo da advocacy, uma estratégia de atuação que vai desde a elaboração das políticas públicas, passa pela luta pela inclusão dos recursos no orçamento até a tomada de decisão pelo público alvo.

- A gente trabalha com aquela ideia de que “quem dorme com os olhos dos outros não acorda a hora que quer”. O natural é a gente ser convidado a receber a política pública, mas usando o advocacy somos responsáveis pela elaboração até a execução”, diz.

Diogo conta que os recursos do edital serão usados no fortalecimento dos cursos de promotores populares pelos direitos dos povos e comunidades tradicionais, além de acelerar um projeto que já conta com uma metodologia desenvolvida pelo grupo no combate ao racismo e à violência de gênero no ambiente escolar.

“É no ambiente escolar onde temos os primeiros relacionamentos amorosos e a ideia, com essa metodologia que criamos em Salvador e agora vamos trazer para o Rio Grande do Norte, é trabalhar com os jovens para esclarecer sobre relações abusivas e de agressão. É um projeto que trabalha estratégias de prevenção à violência contra a mulher, uma estratégia de combate. Queremos chegar antes do racismo e dessa violência”, explicou.

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