Homem agride estudante trans dentro de sala na UFRN após discussão em grupo de mensagens
Natal, RN 16 de abr 2024

Homem agride estudante trans dentro de sala na UFRN após discussão em grupo de mensagens

18 de outubro de 2022
5min
Homem agride estudante trans dentro de sala na UFRN após discussão em grupo de mensagens

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Um estudante do curso de Filosofia da UFRN, identificado como Louzi Freire do Nascimento, agrediu um estudante trans não-binário após uma discussão em um grupo de mensagens. Bolsonarista, segundo contam os estudantes, Nascimento teria se revoltado com mensagens de alerta dos alunos no dia 6, quando uma onda de mensagens falsas sobre arrastões no campus e na cidade deixou os estudantes inseguros. 

O caso aconteceu na segunda-feira (10), durante uma aula da disciplina de Metafísica, mas ganhou visibilidade esta semana após os demais alunos exporem o rosto do agressor em murais e paredes da universidade. Os estudantes cobram uma punição ao agressor. A vítima foi Rapha Souza, 21, estudante trans não-binário que costuma utilizar o pronome masculino. 

“Nesse dia [6 de outubro], saíram falando que estava tendo assalto nos circulares e disseram até que agrediram uma menina”, explica Souza. “A gente falou no grupo: ‘vamos embora’. Aí esse menino, o agressor, ficou discutindo no grupo falando: ‘mas vocês ficam acreditando em fake news, falando que se acham superiores a ‘bolsominion’, mas vocês são piores. Acreditam em fake news do mesmo jeito’”, relata Rapha.

“Eu falei: ‘você queria que a gente ficasse lá esperando e correndo risco para saber o resultado, se era verdade ou não?’”, diz. Posteriormente, a Polícia Militar informou que dos 12 crimes que teriam ocorrido na capital potiguar ao longo da quinta (6), pelo menos 9 eram falsas ocorrências.

Com a troca de mensagens calorosas no grupo virtual, ambos se exaltaram, mas Rapha acreditou que o episódio tinha se encerrado. Na semana seguinte, dia 10, entretanto, ele foi surpreendido com uma agressão repentina causada por Louzi Freire.

“Quando foi na segunda de noite, eu fui pra aula. Cheguei atrasado, aí eu vi ele lá na frente e sentei atrás. No final da aula, eu fui pedir presença ao professor. Quando voltei, ele bloqueou a minha passagem e ficou na minha frente e falou: ‘e aí, vai mandar eu calar a boca ou não?’. E me deu um soco na cara”, conta Souza.

Logo após a agressão, o estudante caiu no chão e não compreendeu bem o que tinha acontecido.

“E quando eu levantei, ele não estava mais na sala”, diz.

Com o episódio, Rapha registrou um Boletim de Ocorrência (BO) e pretende anexar o documento a um chamado na Ouvidoria da UFRN, para que o agressor possa ser punido. Segundo ele, Nascimento não está mais frequentando as aulas. 

Nesta segunda (17), houve uma reunião entre a vítima e o Departamento de Filosofia da instituição, que sugeriu uma “reconciliação” entre os dois. Souza negou. O aluno diz que não voltou a ver o agressor, e que não se sente mais seguro em voltar às aulas.

“Eu nem entro mais na sala de aula. Fico lá fora, eu não consigo ficar confortável lá dentro. Quando eu fico lá dentro eu fico inquieto, fico roendo a unha”, conta Rapha. Segundo o estudante, a UFRN está prestando apoio, “mas quem mais faz o movimento são estudantes”.

O “movimento” a que ele se refere é uma mobilização independente feita pelos alunos do curso contra o agressor. Nesta segunda (17), graduandos de Filosofia anexaram cartazes pela instituição para denunciar o ocorrido. 

“Na noite de 10/10, em frente a toda uma turma de ingressantes do curso de Filosofia da UFRN, essa pessoa agrediu uma pessoa trans após discussão banal sobre fake news e ideologias políticas”, diz a mensagem. 

O Centro Acadêmico de Filosofia (Cafil) não se pronunciou publicamente nas redes sociais sobre a agressão. Mas, em mensagem privada direcionada aos alunos, cobrou punição “severa” a Louzi Freire do Nascimento.

“O Cafil trabalha prontamente, desde o momento do ocorrido, pelo acolhimento da vítima e pela justiça”, aponta trecho do recado. “O Cafil, próximo aos servidores competentes para tratar do caso, expressa a necessidade de uma punição severa, solicitando pena máxima, dado o contexto da agressão”, diz outro ponto. 

O que diz a UFRN

Em nota, a UFRN informou que instaurou uma comissão para apurar o caso e avaliar possíveis sanções contra o agressor.

“O Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ao tomar conhecimento sobre a discussão entre dois estudantes do Departamento de Filosofia, seguida de agressão por uma das partes, realizou reuniões com os envolvidos, chefia de departamento e coordenadores de curso”, diz a nota.

“Após avaliar a situação, a unidade acadêmica instaurou, na última segunda-feira, 17, um Processo Administrativo Disciplinar Discente (PADD), com a formação de uma comissão para apuração do caso e posterior decisão. Conforme o Regimento Geral da Universidade, caso haja parecer pela sanção administrativa, o pessoal discente é passível de advertência, repreensão, suspensão ou exclusão.”, completa.

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