A assistente social Dávida Oliveira, funcionária da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Mossoró, publicou um vídeo nas redes sociais em que afirma que foi demitida da instituição por motivos políticos. O motivo seria a leitura de uma nota de pesar escrita pela governadora Fátima Bezerra (PT) durante a missa de sétimo dia de uma assistida que faleceu.
A garota, apelidada de “Sandrinha”, faleceu na segunda-feira (17), e teve a missa de sétimo dia realizada em uma igreja de Mossoró neste domingo (23). “Ela era atendida pela instituição há 28 anos e participava de forma assídua, sempre muito presente. E a gente cria muitos vínculos com os assistidos, com as famílias”, afirma Oliveira, em conversa com a reportagem.
Na missa, a assistente diz que foi como uma amiga pessoal da família e que, como os familiares estavam enlutados, a missão de ler o texto ficou com Dávida. “Eles não tinham condição de ler e me pediram para ler. Eu disse que sim, não teria nenhum problema em relação a isso”.
No final da noite, segundo a funcionária, ela recebeu uma mensagem do presidente da APAE Mossoró, Abraão Dutra. “No domingo, mais de 21h, o senhor presidente mandou uma mensagem perguntando quem tinha recebido a mensagem da senhora Governadora, que ele não tinha tomado conhecimento”, lembra.
“Eu respondi a ele que quem recebeu a mensagem foi a família, e que a família não necessitaria pedir consentimento ou autorização para receber uma mensagem que foi direcionada como algo pessoal. E que eu havia lido porque fui solicitada como amiga para fazer essa leitura”, conta.
O conteúdo da carta, afirma, não tinha conotação política. “Era se solidarizando com a situação, falando o quanto Sandrinha era uma pessoa cativante, amável, e que a admirava Sandrinha”.
No vídeo gravado por Dávida, ela narra como teria ocorrido a demissão: “o presidente veio no corredor me gritando, solicitando a chave da minha sala e pedindo para eu retirar minhas coisas imediatamente.”
“Quando a gente exerce um trabalho de muito amor, muita responsabilidade, a gente recebe amor e carinho das pessoas também”, disse a assistente social à reportagem, sob lágrimas. “Eu me doava e me doo dentro da causa, porque eu tenho um filho autista. Então a gente se reconhece na luta das pessoas e na dor do outro.”
Procurado, o presidente da APAE Mossoró, Abraão Dutra, negou que a demissão da funcionária tenha acontecido pela leitura da carta de Fátima Bezerra. Segundo Dutra, a APAE terá eleições para a próxima diretoria em novembro e Dávida Oliveira já teria se colocado como candidata à presidência. O estatuto, segundo o presidente, não permite que uma funcionária seja candidata e, por isso, ela teria que ser demitida.
Por outro lado, Abraão disse que a assistente social “já vinha com uma postura que eu não concordava como presidente”, que “não tem nada a ver com essa leitura [da nota de pesar]”. A atitude, de acordo com ele, seria “principalmente misturando política com a instituição”.
“O estatuto das APAES não permite que se misture política com a instituição. Ela é uma instituição não-governamental, apolítica”, afirmou.
Confira o vídeo gravado pela assistente social:
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