Com eleição de Fátima e Lula, PT pode repetir no RN dobradinha que só conseguiu em 10 estados  
Natal, RN 18 de abr 2024

Com eleição de Fátima e Lula, PT pode repetir no RN dobradinha que só conseguiu em 10 estados  

1 de outubro de 2022
9min
Com eleição de Fátima e Lula, PT pode repetir no RN dobradinha que só conseguiu em 10 estados   

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O Rio Grande do Norte pode entrar para o seleto grupo de estados governados pelo Partido dos Trabalhadores com o presidente da República filiado à legenda. Durante os 13 anos em que Lula e Dilma ocuparam o Palácio do Planalto, entre 2003 e 2016, o PT só governou 10 dos 27 entes da federação (26 estados, além do Distrito Federal): Piauí (Wellington Dias), Bahia (Jaques Wagner e Rui Costa), Sergipe (Marcelo Déda), Ceará (Camilo Santana), Pará (Ana Júlia Carepa), Acre (Tião Viana e Binho Marques), Mato Grosso do Sul (Zeca do PT), Distrito Federal (Agnelo Queiroz), Minas Gerais (Fernando Pimentel) e Rio Grande do Sul (Tarso Genro).

No mesmo período, o Rio Grande do Norte foi administrado por Wilma de Faria (PSB, entre 2003 e 2010), Iberê Ferreira de Souza (PSB, em 2010), Rosalba Ciarlini (DEM, entre 2011 e 2014) e Robinson Faria (PSD, entre 2015 e 2018).

Os petistas foram aliados dos governos Wilma, Iberê e até a metade da gestão Robinson, cujo rompimento se deu em razão do apoio dele e do filho Fábio Faria, na época deputado federal, ao golpe que retirou Dilma Rousseff da presidência.

As chances de uma dobradinha inédita entre Fátima Bezerra e Lula são reais. As pesquisas de intenção de voto apontam para uma vitória do PT no Rio Grande do Norte já no 1º turno. O ex-presidente Lula, que também lidera todas as pesquisas, cresceu ainda mais nas últimas semanas e também pode definir a eleição já neste domingo (2).

Além do Rio Grande do Norte, o PT só lidera o pleito em mais dois estados: Ceará, com Elmano Freitas, e São Paulo, com Fernando Haddad. Porém, as pesquisas mais recentes indicam 2º turno tanto no CE como em SP.

Durante os governos petistas na presidência, Fátima consolidou uma trajetória no legislativo federal. Foi deputada federal por três mandatos consecutivos, de 2003 a 2014, e senadora da República entre 2015 e 2018, antes de ser eleita governadora do Rio Grande do Norte, em 2018.

Fátima enfrentou oposição federal

Governadores do Nordeste falam à imprensa após reunião com o presidente Jair Bolsonaro. Foto: Fabio Pozzebom 

No Executivo, Fátima enfrentou dois tipos de oposição institucional: a do próprio presidente Bolsonaro, que se manteve em pé de guerra com a maioria dos 27 governadores, especialmente os da região Nordeste; e uma oposição declarada de dois ministros do próprio Estado – Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Fábio Faria (Comunicações).

O nível de animosidade entre o Executivo estadual e o governo federal foi tão flagrante nos últimos quatro anos que a governadora do RN, principal autoridade política do Estado, nunca foi sequer convidada para participar de solenidades, inaugurações de obras e ações da União no Rio Grande do Norte.

Mesmo com “o presidente jogando no outro time”, como ressaltou a campanha da candidata à reeleição, Fátima conseguiu colocar em dia os salários dos servidores, uma dívida de R$ 1 bilhão herdada do antecessor Robinson Faria, responsável por um calote de quatro folhas salariais no funcionalismo.

A campanha de Fátima também fez o eleitor potiguar refletir sobre o futuro do Estado com Lula na presidência da República.

“Se conseguimos fazer o que fizemos com uma dívida de 1 bilhão só com os servidores e um presidente jogando no outro time, imagine o que podemos fazer com 1 bilhão de reais a mais e com Lula na presidência”, repetiu Fátima, como um mantra, durante a campanha cujo slogan “O melhor vai começar” sugeria um futuro ideal ao lado do ex-presidente.

Lula vai potencializar projetos estruturantes para o RN, crê cientista social

Para o cientista social Willington Germano, a vitória de Lula significará em nível global o resgate do respeito e do prestígio do país junto a outras nações do mundo, além do fortalecimento de entidades como. o Brics, o Mercosul e o Unasul.

"O Brasil perdeu protagonismo no contexto internacional e voltará a ser respeitado. O arco de alianças que Lula formou vai fortalecer essa reconstrução", destacou.

Já em nível estadual,  uma eventual dobradinha com Fátima Bezerra vai fortalecer políticas de inclusão, já reconhecidas como motor de desenvolvimento econômico e humano no país.

- Para o Rio Grande do Norte, a possibilidade de ter um governo como Lula significa continuar o processo de reconstrução do Estado. Fátima começou esse processo sob o fogo cruzado do bolsonarismo e com uma pandemia. A pandemia que foi tratada por Bolsonaro como uma política de morte. E além do autoritarismo e do arbítrio de Bolsonaro, Fátima ainda contou com uma bancada legislativa desfavorável. A expectativa agora, se confirmadas as vitórias de Fátima e Lula, é que os projetos estruturantes para o Estado sejam implementados agora, como as políticas educacionais. Muita gente diz que Fátima só colocou o salários dos servidores em dia. Absolutamente ! Ela atuou em todos os campos. E acredito que Lula vai fortalecer essas políticas inclusivas, hídricas, de meio ambiente, de enfrentamento às desigualdades sociais, de enfrentamento à fome, vai criar políticas de geração de emprego. Então tenho certeza que todos esses projetos serão potencializados pelo governo Lula", disse.

Willington Germano, cientista social

“O Nordeste deixou de ser uma região dependente de coronéis para dar suporte a políticas progressistas”, avalia economista da UFRN

Festa da inauguração da transposição do rio São Francisco no município de Monteiro (PB), em 2017. Foto/ Ricardo Stucker

A força de Lula no Nordeste não é por acaso. Políticas econômicas e de inclusão sociais foram fundamentais para mudar a realidade e os números da região.

De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, O Nordeste alcançou, entre 2003 e 2013, um crescimento de 4,1% ao ano, maior do que o crescimento médio do país, de 3,3%. Só em 2012, por exemplo, a economia da região cresceu o triplo da brasileira.

Em 2014, o Nordeste também passou a ser a segunda maior em consumo, atrás apenas do Sudeste, e corresponde a 13,8% da economia nacional.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), entre 2001 e 2012, o nordestino teve o maior ganho de renda entre todas as regiões, o que fez com a participação da base da pirâmide social caísse de 66% para 45%.

O economista e cientista social da UFRN Wellington Duarte destaca que o boom do Nordeste durante o governo Lula tem relação direta com as políticas de inclusão social criadas nos governos de Lula e Dilma:

- Se você pegar a política de cisternas, o bolsa família e a transposição do rio São Francisco... são exemplos de políticas fundamentais para a nossa economia. O Vale do São Francisco parece um oásis hoje, tem região plantando uva! As políticas mudaram aquela realidade. E acredito que, como o próprio Lula já disse, essas políticas sociais serão retomadas e vamos recuperar isso. Acredito numa retomada porque Lula sabe o papel do Nordeste no Brasil. O Nordeste deixou de ser uma região dependente dos coronéis, principalmente nos anos 1960/70, para ser uma região que dá suporte a políticas progressistas. Só espero que agora tratemos a educação com esmero para que não ocorra o que houve em 2018, quando elegemos quem hoje está aí”, disse.

O presidente Lula já anunciou que se vencer a disputa vai cobrar dos governadores eleitos pelo menos três projetos de obras públicas para que o governo federal ajude a tirar do papel. Olhando para o Rio Grande do Norte, o economista destaca que o Estado potiguar tem tudo para voltar a crescer, especialmente se focar nas políticas de infraestrutura. E cita a retomada do Minha Casa, Minha Vida como projeto essencial para ajudar nessa nova fase de desenvolvimento:

- O primeiro governo Fátima foi de arrumação, ela pegou o Estado quebrado. Agora tem tudo para investir em obras públicas, com a retomada do Minha Casa, Minha Vida, uma política fundamental para a construção civil, além de outras ações e projetos na área de infraestrutura”, disse.

Dobradinha do PT nos Estados com Lula e Dilma na presidência

Presidente: Lula
Mandato: 2003 a 2006
Governadores do PT: Jorge Viana (Acre), Wellington Dias (Piauí) e Zeca do PT (Mato Grosso do Sul)

Presidente: Lula
Mandato: 2007 a 2010
Governadores do PT: Binho Marques (Acre), Jaques Wagner (Bahia), Ana Júlia Carepa (Pará), Wellington Dias (Piauí) e Marcelo Déda (Sergipe)

Presidenta: Dilma Rousseff
Mandato: 2011 a 2014
Governadores do PT: Tião Viana (Acre), Jaques Wagner (Bahia), Agnelo Queiroz (Distrito Federal), Tarso Genro (Rio Grande do Sul) e Marcelo Déda (Sergipe).

Presidenta: Dilma Rousseff
Mandato: 2015 a 2018
Governadores do PT: Tião Viana (Acre), Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará), Fernando Pimentel (Minas Gerais) e Wellington Dias (Piauí)

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