DEMOCRACIA

Lideranças Indígenas de Tapará são ameaçadas por não apoiarem candidaturas que não fazem a defesa de causas indígenas

Ameaça, agressão e discriminação. Os estágios da violência contra os povos indígenas autorizadas pelo governo de Jair Bolsonaro ganham um novo capítulo na reta final da campanha de segundo turno para presidência da República. Lideranças da Comunidade Indígena Tapará, no Rio Grande do Norte, estão sendo ameaçadas por não apoiarem candidaturas que não fazem a defesa de causas indígenas.

Quem fala o que quer, ouve o que não quer e outra este áudio que publicaram no seu grupo, provavelmente já se encontra com Wendel Lagartixa”, afirma trecho de ameaça feita por um policial via WhatsApp.

Uma das lideranças ameaçadas, que por proteção terá a identidade preservada, relata que “no dia 10, dois carros pararam em frente à minha casa, desceram dois homens causando medo e terror ao meu filho, minha nora e meu casal de netos. Preciso urgente de proteção. Minha família e minha Aldeia Lagoa do Tapará precisam de proteção”.

Além do boletim de ocorrência na delegacia de Mulheres de Natal, a Fundação Nacional do índio (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) já foram acionados, e o caso foi encaminhado à delegacia de São Gonçalo do Amarante. A Coordenação de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do município de São Gonçalo do Amarante e o Conselho Estadual de Políticas e Promoção da Igualdade Racial também foram mobilizados.

Desde 2019, a violência contra os povos indígenas tem crescido no Brasil, segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que acompanha os casos de violação de direitos. O relatório anual sobre violência contra povos indígenas aponta o aumento das invasões a terras indígenas (TIs): 305 ocorrências em 26 TIs, em 22 estados (2021), ante 263 ocorrências em 201 TIs, 19 estados (2020).

Isso porque, o governo Bolsonaro tem cumprido o que prometeu: não realizou nenhuma demarcação de terra indígena, acirrou os ânimos de fazendeiros que se sentiram autorizados a empregar a violência, desmontou programas de saúde dos povos indígenas, estruturou a Funai para atender interesses privados, autorizou em discursos e políticas públicas o abandono e genocídio dos povos indígenas.

As nossas vidas, nos últimos quatro anos, têm sido muito ruim: muito conflito, sofremos com as queimadas, com os abusos de poder e agora ameaças à vida. Não tem sido fácil, minha netinha não está indo para a escola”, afirma a indígena Tapará.

A comunidade Tapará pertence à tribo dos Tapuias-tarariús e fica na divisa entre os municípios de Macaíba e São Gonçalo do Amarante, região metropolitana de Natal. As 162 famílias já passaram por vários conflitos. O preconceito contra os povos é recorrente. E a não demarcação de terras indígenas é outro problema grave na região.

A “antipolítica indigenista” de Bolsonaro está expressa em suas falas como a de que o “indígena quer se integrar à sociedade”. Dessa forma, a liderança Tapará denuncia que as principais dificuldades enfrentadas “é não ter o território demarcado, política de saúde específica para o nosso povo e também educação escolar indígena. No nosso território tem uma escola que não atende nossas pautas, nossas culturas”.

O Rio Grande do Norte é o único estado do país ao não ter nenhum território indígena legalmente reconhecido.

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