Uefyerryeni: o que pensa quem está por trás do perfil criativo da UFRN
Natal, RN 28 de mar 2024

Uefyerryeni: o que pensa quem está por trás do perfil criativo da UFRN

23 de outubro de 2022
7min
Uefyerryeni: o que pensa quem está por trás do perfil criativo da UFRN

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O perfil @Uefyerryeni surgiu no Twitter como uma opção criativa para a comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Apesar de não oficial e gerenciado por um ou uma estudante que não revela sua identidade, a intenção é informar e, principalmente, criar um espaço de troca para a comunidade acadêmica.

As primeiras publicações foram feitas em setembro de 2018, a poucos dias do primeiro turno daquelas eleições gerais. Quatro anos depois, o criador diz que não tinha um plano definido e até pensou em apagar o perfil nas primeiras semanas. Mas veio a repercussão.

Com foco nos problemas vividos por estudantes e sempre comentando o cenário político, a página foi ganhando seguidores, hoje com 14,1 mil, enquanto a instituição tem 17,9 mil na mesma rede social, com o perfil @ufrnbr.

“As pessoas falavam sobre a UFRN, faziam perguntas, até mesmo ao perfil oficial e não havia conexão, resposta. A rede oficial nunca foi nesse sentido de responder, atender às demandas”, avaliou, ao criar o perfil.

A página virtual reflete as coisas nas quais o autor acredita e a sua admiração pela universidade. “É uma personagem, mas é uma iniciativa que me fez mudar muita coisa em minha vida. A forma como eu me comunicava, a forma como eu entendia a UFRN mudou muito. Sou apaixonado pela instituição, devo muito à UFRN. Talvez a minha maior declaração de amor a ela seja esse perfil”, confessa, destacando também que não é um estudante comum e que já passou por muita coisa lá.

A Uefyerryeni e a UFRN se misturam na fala do anônimo quando diz que aprendeu com a universidade (ou com o perfil?) que é mais rica a experiência do estudante que experimenta conhecer melhor a academia.

“(...) me fez entender que a gente precisa construir mais pontes, conversar de maneira mais ampla. Quem entra na UFRN e segue apenas seu caminho, não conhece a instituição, não conhece pessoas dos outros cursos. hoje eu vejo que ela pra mim foi essa ferramenta, um incentivo a me abrir mais para as pessoas. Tenho uma disposição maior de conversa, de entender, de responder. Falo da Uefyerryeni como outra pessoa, mas é claro que tem muito do que eu sou e também me ensinou muita coisa. É de fato a obra de uma vida, sem querer exagerar”.

Informação com a voz dos estudantes

“O objetivo sempre foi informativo. As demandas vão surgindo e eu vou conversando com a comunidade. É muito colaborativo porque as pessoas também trazem dúvidas. Muitas vezes vou conversar com alguém da instituição sobre alguma questão e trago o informe, de uma maneira muito leve”, conta, ao ressaltar que gosta de conduzir o perfil com humor, alegria e descontração, sem deixar caricato para garantir credibilidade.

Ele tenta fazer com que as pessoas se sintam parte, “porque é a vida delas ali”. “Muitas vezes é a informação que a vida delas depende pra funcionar, é o circular que não tá andando ou muda de trajeto,... Isso muda a vida das pessoas que estão ali dentro daquele universo”.

O administrador diz que tem humildade ao falar sobre o perfil, mas reconhece a dimensão dele e que isso o ajuda a ter ainda mais responsabilidade ao tratar dos temas da comunidade, mas não só dela.

Temas nacionais também são abordados também, já que a universidade pública é constantemente afetada por eventos externos.

“Ao longo desses quatro anos de Uefyerryeni percebi que a instituição é algo muito vivo, que tem muitas conexões. Às vezes algo fora dos seus muros, algo do outro lado do Brasil acaba reverberando aqui. Se você quiser entender a UFRN, tem também que entender o contexto municipal, estadual, federal, em todos os níveis”.

"Universidade cansada"

O admin avalia que a instituição está “cansada”, com a necessidade de ser transformada e que pessoas que têm vontade de promover essas mudanças pode não ter força suficiente para fazê-los sozinhas.

“A universidade é pesada demais para si. Por exemplo, há quanto tempo a gente fala sobre o assédio e o quanto isso precisa mudar? Mas o corporativismo que muita gente fala se conserva de uma maneira as coisas permanecem da forma que estão”.

Cortes do orçamento

A tesoura do governo Bolsonaro é afiada para a Educação e na visão da Uefy, a Reitoria não tem respondido à altura dos prejuízos: “Eu não consigo imaginar uma forma tão passiva de entender as coisas. O quanto de cortes essa universidade já sofreu e o discurso é sempre o mesmo. Parece que não existe um plano de desmonte. ‘Estão cortando, vai faltar isso, vai faltar aquilo, pronto’. Então assim, é difícil”.

A UFRN perdeu somente em 2022, quase R$ 32 milhões. Foram mais de R$ 23 milhões do seu orçamento, após um corte de aproximadamente R$ 12 milhões no início do ano, e outro de valor semelhante no último mês de junho. Em outubro, foi anunciado o contingenciamento de R$ 8,8 milhões, que seriam utilizados em orçamento de custeio, para contratos como terceirização e energia elétrica.

“As pessoas fora daqui não entendem a UFRN. E quando acontece algo como a pandemia, ela se torna um espaço de estudo, combate e ações efetivas. Teve produção de álcool, testagem de covid, sequenciamento genético de variantes do vírus, enfim”, compara o desinvestimento à importância do trabalho desenvolvido na instituição.

Se a universidade é um organismo vivo, precisa crescer – conclui, destacando que é necessário continuar investindo em pesquisa e hoje em dia muito mais em assistência estudantil.

“Atendimento médico, dentário, isso já existiu um dia na UFRN. Hoje em dia é muito difícil conseguir. Atendimento de saúde mental. As pessoas estão adoecendo mentalmente. Estudar não é fácil. Principalmente quando você está se dedicando a algo que vai definir o resto da sua vida. Eu não imagino o que pode acontecer daqui a alguns anos no contexto político que a gente tá, o que a UFRN vai fazer, vai baixar a cabeça de uma vez e se enterrar em seu próprio legado ou vai ter uma mudança. Desconfio muito das coisas”, lamenta.

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