Três ações de bloqueio de rodovias por grupos bolsonaristas, contrários ao resultado das eleições, foram realizadas no Rio Grande do Norte. As interdições foram feitas entre a noite desta segunda (31) e a manhã de terça (01) em Mossoró, Itajá e Parnamirim. As informações são da Polícia Rodoviária Federal, que concedeu uma entrevista coletiva para detalhar as ocorrências.
O principal bloqueio aconteceu na BR 101 em Parnamirim, localizada na Grande Natal. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, o bloqueio começou por volta das 23h25 desta segunda-feira (31), no KM 104 da rodovia, e seguiu até o fim da manhã desta terça (01). Segundo afirmou Luiz Pinheiro, superintendente da PRF no Estado, tentativas de diálogo foram travadas, mas os manifestantes se mostraram resistentes e foi preciso acionar a Tropa de Choque.
“Desde o primeiro momento foi buscado o diálogo. Nós temos protocolos operacionais que são cumpridos, tem toda uma tecnicidade envolvida nisso, e realmente só foi utilizada a força de choque em razão da necessidade e das condições permitidas”, justificou.
Segundo relatos, os adeptos do presidente Jair Bolsonaro ainda arremessaram pneus contra os policiais. “O trabalho agora é de manutenção do espaço conquistado, de contenção do pessoal que ainda permanece com um ânimo de obstruir a rodovia. Temos meios e formas de revezar as equipes enquanto for necessário, então a PRF não vai abandonar o ponto enquanto houver resistência e intuito de bloquear a rodovia”, informou Pinheiro.
Antes disso, a primeira tentativa de fechar a passagem de veículos foi em Mossoró. “Durante a madrugada, foi feita uma tentativa de bloqueio. Nossas equipes conseguiram debelar”, disse o superintendente.
Já na manhã desta terça, manifestantes bolsonaristas queimaram pneus na altura do Km 119 da BR 304, em Itajá. Segundo o superintendente, a corporação foi ao local, mas ao chegar os manifestantes já haviam ido embora. O incêndio foi controlado com a ajuda do Corpo dos Bombeiros e o fluxo na via foi normalizado.
Nenhuma pessoa chegou a ser presa. Mas, as detenções não estão descartadas caso haja desobediência em novos atos, de acordo com o policial. “Caso tenha reincidência na tentativa de bloquear a rodovia, tem o tipo penal de desobediência que pode ser feita a prisão dos envolvidos e condução até a Superintendência da Polícia Federal”, alertou.
Governo instalou Gabinete de Gestão Integrada para conter bloqueios; preocupação era com passagem de ambulâncias, diz secretário
Para o titular da Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), Coronel Araújo, o principal cuidado do Governo foi garantir a passagem de ambulâncias.
“A grande preocupação nossa é que lá era uma BR de entrada e saída de Natal. Muitos veículos estavam chegando e muitas ambulâncias indo ao Hospital Deoclécio Marques ou vindo ao Hospital Clóvis Sarinho. Pessoas dentro da ambulância, correndo risco de vida dessas pessoas no socorrimento”, advertiu. “Mas com a ação integrada de todas as forças de Segurança Pública conseguimos desobstruir e os veículos seguiram normalmente”.
Em meio ao bloqueio de rodovias federais e estaduais realizadas por militantes bolsonaristas, o Governo do Rio Grande do Norte instalou um Gabinete de Gestão Integrada para coordenar as ações de segurança.
“Desde a noite de ontem (31), das primeiras movimentações, a governadora ligou determinando que instalássemos o Gabinete de Gestão Integrada. Nós fizemos o contato com todas as instituições que pertencem à segurança pública do Estado do Rio Grande do Norte”, disse Coronel Araújo.
Assim, segundo o secretário, as forças estaduais também estão aptas a atuar. “A Polícia Militar está autorizada através de decisão judicial a atuar na BR como apoio à PRF e também nas vias urbanas, dentro das cidades, caso aconteça algum movimento junto a superintendência de trânsito do município”, apontou.
PRF defende blitze realizadas no domingo de eleição
A ação de militantes extremistas aconteceu após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais, ocorrido no domingo (30). Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 50,9% dos votos e venceu a disputa contra o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que teve 49,1% dos votos.
No dia da eleição, blitze ao longo do Brasil, especialmente no Nordeste, causaram polêmica e acenderam alerta. Na região em que Lula concentra mais votos, a PRF realizou uma série de operações nas rodovias. O órgão multiplicou as abordagens a ônibus e descumpriu uma ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que proibiu a realização de qualquer operação pela PRF contra veículos utilizados no transporte público de eleitores.
Para o chefe da Comunicação Social da PRF no Rio Grande do Norte, inspetor Alexandre Galvão, as ações no Estado aconteceram dentro da legalidade.
“O ministro Alexandre de Morais não proibiu a PRF de fiscalizar. Ele proibiu de fiscalizar transporte de passageiros, para que isso não viesse atrapalhar o pessoal de votar, não a Polícia de fiscalizar. O próprio Alexandre de Moraes, numa entrevista no domingo ainda, falou que a Polícia Rodoviária Federal estava fiscalizando de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, que verifica a condição de veículo, pneu, cinto de segurança”, justificou.
Ainda no domingo, a Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) no RN arquivou denúncia sobre supostas operações irregulares da PRF em seis municípios: Apodi, João Câmara, Campo Grande, Campo Redondo, Paraú e Ceará Mirim.