A Copa do Mundo é nossa!
Natal, RN 28 de mar 2024

A Copa do Mundo é nossa!

20 de dezembro de 2022
4min
A Copa do Mundo é nossa!

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O título deste texto, quem tem acima de 45 anos sabe, é de uma marchinha ufanista dos anos 1970 para celebrar os feitos da seleção brasileira em copas mundiais de futebol. No tempo em que eles existiam em profusão, claro. Temos de Pelé, Rivelino, Vavá, Garrincha, Gérson, Carlos Alberto. Efetivamente a Copa do Mundo foi nossa - enquanto brasileiros - por três vezes em apenas doze anos (1958, 1962 e 1970). Não se trata de uma nostalgia que tanto critico, mas de fatos e como jornalista e ser humano, jamais brigo contra eles.

Diz a letra na canção bem "patriota" (na verdade a letra fala mais "a taça", termo usado à época e não "a copa", como seria atualmente) que somos melhores que os outros países, afinal, "com brasileiro não há quem possa". Mas não tem sido assim, pelo menos nos últimos vinte anos. Tem quem possa sim. Mais exatamente França, Holanda, Bélgica e Croácia, que nos eliminaram nas quartas de final em 2006, 2010, 2018 e 2022, respectivamente, e Alemanha, que nos impingiu aquele traumático 7x1 na semifinal em 2014.

Então, por que o título insistir que a Copa do Mundo é nossa? Porque é nossa de todos nós que amamos o futebol, aquele esporte coletivo, bem jogado, aplicado, determinado, com garra e sangue nos olhos. Como jogou a campeã Argentina. A Copa do Mundo é de todos nós que queríamos (mais que isso, achamos que merecia) Messi campeão do mundo. O argentino que jogou quase uma vida pelo Barcelona já havia ganhado tudo e terminou o torneio como capitão da seleção campeã, vice artilheiro, melhor jogador e liderando quase todos os índices individuais (junto com o fenômeno francês Kylian Mbappe). Igualou o deus portenho Diego Maradona e se colocou no panteão dos deuses do futebol.

A Copa do Mundo também é nossa de quem acompanhou a trajetória da seleção da França, que perdeu quatro titulares às vésperas do torneio (Pogba, Tolisso, Kanté e Benzema, este o melhor jogador do mundo no ano) e depois na primeira partida mais um titular (o lateral Lucas Hernandes). Ainda assim se reinventou e em uma campanha memorável vendeu caro a perda do título, fazendo com os portenhos a melhor final de Copa que vi na vida (e para muita gente a melhor final de toda a história do torneio).

Aliás, a partida entre argentinos e franceses nos fez perceber coletivamente que o Brasil não teria chances contra um ou outro. Na verdade, não passaria na semifinal contra os portenhos. Faltou à seleção brasileira o que sobrou aos dois finalistas: estratégia, foco, liderança em campo, um técnico de verdade e garra. Enfim, quase tudo. Como nas copas passadas, quando assistimos Roberto Carlos ajeitar meião enquanto Henry fazia gol; Felipe Melo pisando no tornozelo de Robben e sendo expulso; Thiago Silva chorando na hora da disputa de pênaltis; Marcelo virando de costas no momento em que De Bruyne chutava para fazer gol. A Copa do Mundo não teria como ser nossa em nenhuma dessas partidas, dessas situações.

E na Copa do Mundo que terminou neste domingo e que mais uma vez não foi nossa, no sentido patriota do termo, tivemos até fatores extra-campo que não vimos nos torneios passados, ao menos. Em 2022 teve craque do time declarando apoio a despresidente genocida, o mesmo jogador que sonegou milhões de reais à Receita Federal; também tivemos jogadores comendo carne folheada a ouro (direito deles, já que estavam em folga e têm dinheiro para isso, mas como não vi jogadores de outros países fazendo o mesmo, faço o registro da fala de foco). Teve dancinha, tik tok, etc e tal. Nada disso faz perder o jogo, eu sei. Mas toda derrota é perversa. E uma eliminação tola traz à tona coisas corriqueiras que passariam batidas em caso de triunfo. Os jogadores ganham fortunas defendendo times poderosos da Europa, sabem como isso funciona, ou pelo menos deveriam saber. Quem sabe em 2026 a Copa do Mundo não volta a ser nossa, com um técnico que realmente comanda e equipe e jogadores que mantenham o foco no que parece importante naquele espaço de menos de um mês: justamente vencer o torneio.

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