A necessária paciência para entender a montagem do futuro governo
Natal, RN 20 de abr 2024

A necessária paciência para entender a montagem do futuro governo

29 de dezembro de 2022
4min
A necessária paciência para entender a montagem do futuro governo

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Num processo de transição inédito na história republicana desse país, as nomeações para o novo gabinete de ministros têm sofrido, ao longo das horas, dias e semanas, instabilidade e, em alguns casos, são recebidas com fúria, decepção e um profundo pesar, pelos segmentos mais progressistas, especialmente aqueles mais próximos do Partido dos Trabalhadores (PT). Agora é a vez do Ministério das Comunicações.

Num primeiro momento até surtar de ódio, devido aos movimentos que Lula faz para compor seu ministério, é perfeitamente compreensível. Já ouvi comentários sobre a “traição de Lula”, antes da posse, algo absolutamente sem sentido, mas que é movido a sensações vindas do fígado, que sofreu nesses últimos 6 anos, em que os movimentos sociais e a própria classe dos trabalhadores sofreram literalmente o “pão que o Diabo amassou”.

Precisamos, entretanto, entender o chão em que estamos pisando. Esse chama-se GOVERNO DE COALIZÃO, algo que se produziu entre 2003 e 2016, e que retorna sob novas e pioradas condições. Se há um GOVERNO DE COALIZÃO é porque uma força política não conseguiu estabelecer sua hegemonia.

Uma coalizão para governar se dá depois de um processo eleitoral, quando a força política vencedora das eleições, se depara com um cenário onde não há uma hegemonia e sim uma situação minoritária dessa força política. Lula obteve 51,0% dos votos e isso o está levando a presidência da república. Bravo! Foi uma vitória histórica. Lula venceu o Leviatã, não o Mandrião. Lula venceu o aparelho de Estado (incluindo aí a sociedade civil) e conseguiu porque fez uma amplíssima aliança eleitoral, principalmente no segundo turno.

É preciso sempre lembrar que a Federação Brasil da Esperança teve 14,0% dos votos e elegeu 80 deputados (68 do PT, 6 do PCdoB e 6 do PV) e o partido que teve mais votos foi o Partido Liberal (PL) um agrupamento de bolsonaristas e da extrema-direita, que 19,3% dos votos e elegeu 99 deputados, ou seja, A Federação ficou, até o momento, 15,6% das cadeiras da Câmara de Deputados. No Senado não foi diferente. A Federação conta com 9 dos 81 senadores, ou seja, 11,1% das cadeiras. Esse é o mundo real.

A real política é que estamos numa democracia liberal representativa, onde as forças, para exercerem o poder, disputam espaço no parlamento (Câmara e Senado). Mas, e as ruas? Elas, nesse tipo de sistema político, exercem o poder de pressão, se estiverem organizadas, e é ressalte-se que o formato dessa democracia nunca colocou, em situação de igualdade, no processo eleitoral, as mesmas condições de disputa. Esse é o mundo real.

O quadro atual é muito simples (e complexo ao mesmo tempo): há uma força política, ancorada no fascismo, cuja representação política é a maior da Câmara de Deputados e no Senado, que são violentas, golpistas e que recebem vasto recurso financeiro e certamente irá infernizar o novo governo nos próximos quatro anos.

Há uma força política chamada Lula que, por sua trajetória e pelo sebastianismo próprio das nossa política, se tornou o principal aglutinador das forças democráticas, para impedir a fascistização desse país, liderada pela quadrilha fascista que, nesse momento, está em fuga. Foi Lula que foi capaz de juntar água e óleo. Nessa ampla composição, que agora se concretiza na formatação do gabinete, a esquerda é minoritária.

Na montagem do governo o PT, como partido hegemônico da esquerda, é o fio condutor do processo, quem está a frente dessa formatação é Lula, historicamente pragmático, principalmente depois de 2003. E suas escolhas não são exatamente as que refletem o anseio dos movimentos sociais, dos partidos progressistas, dos sindicatos e das corporações. Esse é o mundo real.

Se alguém tem raiva devido ao fato de Lula fala com a União Brasil, que é a fusão do antigo Democratas, DEM, de direita e do falido PSL, que era depósito de fascistas bolsonaristas e que foi chutado pelo Boca Podre. Pois é: essa União Brasil é o terceiro maior partido da Câmara de Deputados, com 59 deputados e tem 10 senadores. Isso não é pouco e se Lula se aproximou desse partido, de direita, é porque enxerga nele uma variável de governabilidade.

Portanto é necessário que a esquerda compreenda o processo em si, e não uma ou outra indicação, que pode surpreender negativamente. Esse é o mundo real.

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