Anvisa autoriza UFRN a plantar e cultivar cannabis com fins de pesquisas científicas
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Anvisa autoriza UFRN a plantar e cultivar cannabis com fins de pesquisas científicas

16 de dezembro de 2022
4min
Anvisa autoriza UFRN a plantar e cultivar cannabis com fins de pesquisas científicas

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Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) a realizar o cultivo controlado e processamento da planta cannabis para fins de pesquisa científica. Com isso, a Universidade passa a ser a a primeira instituição do país a conquistar a liberação. O Instituto do Cérebro (ICe-UFRN) conduzirá os projetos de pesquisa para avaliação da eficácia e da segurança de combinações da substância.

Apesar dos avanços nas pesquisas conduzidas em todo o mundo, no Brasil ainda não havia instituições de ensino e pesquisa que pudessem realizar o cultivo de cannabis para geração de dados científicos.

A autorização foi aprovada, por unanimidade de votos, nessa última quarta (14). A UFRN vem trabalhando no processo para aprovação da liberação há cerca de dois anos junto à Anvisa, órgão conhecido pelos rigorosos processos de controle sanitário.

Representa um passo importante para o avanço das pesquisas desenvolvidas na UFRN e um marco histórico para a ciência brasileira”, avalia o reitor da UFRN, José Daniel Diniz Melo.

A Anvisa autorizou que a UFRN possa importar, armazenar e germinar sementes da planta cannabis, além de cultivar, por meio de sistema controlado, na modalidade indoor (ambiente fechado). A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária levou em consideração o estabelecimento de requisitos de segurança e controle adequados para a realização das atividades que envolvam o cultivo controlado pela UFRN.

Durante o período de avaliação, além de realizar a comprovação documental, a Universidade recebeu visita às instalações do Instituto do Cérebro (ICe-UFRN), para verificar as condições de infraestrutura e a capacidade técnico-científica. O Instituto do Cérebro (ICe-UFRN) conduzirá projetos de pesquisa pré-clínica para avaliação da eficácia e segurança de combinações de fitocanabinóides, no manejo de sinais e sintomas associados a distúrbios neurológicos e psiquiátricos.

Já conheço o trabalho da UFRN, acompanho a vida acadêmica e sei da força da Universidade no Nordeste e em todo país. A expectativa era muito boa, mas hoje foi muito importante conhecer o trabalho feito aqui porque a Anvisa dialoga, constantemente, com as universidades e os institutos de pesquisa, visto que nosso trabalho é forjado na ciência”, comentou o diretor da Anvisa, Alex Machado Campos, durante a visita, em outubro deste ano.

Trataremos aqui de ciência, mais especificamente de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Não estamos falando de importação de conhecimento, mas sim de sua geração, de inovação, de pesquisa e desenvolvimento nacionais”, comentou o relator da matéria para avaliar a liberação na Anvisa, Alex Campos.

Visita realizada em outubro deste ano, com as presenças de Claudio Queiroz, Daniel Diniz, Alex Campos e Kerstin Schmidt – Foto: Wallacy Medeiros
Visita realizada em outubro deste ano, com as presenças de Claudio Queiroz, Daniel Diniz, Alex Campos e Kerstin Schmidt I Foto: Wallacy Medeiros

Ciência

As plantas de cannabis produzem, como metabólitos secundários, um conjunto de compostos conhecidos como fitocanabinoides. Essas moléculas possuem afinidade farmacológica por muitos receptores biológicos, modulando a bioquímica e a excitabilidade de diversos tipos celulares, especialmente no sistema nervoso.

O professor do ICe-UFRN, Claudio Queiroz, explicou que os estudos clínicos já demonstraram segurança e eficácia de um desses fitocanabinoides, o canabidiol (CBD), no controle de crises refratárias. Entretanto, os mecanismos neurofisiológicos responsáveis pelos efeitos terapêuticos do CBD são ainda desconhecidos.

Além disso, pouco se sabe sobre o efeito dos fitocanabinoides sobre outros tipos de epilepsias, bem como o potencial de outros fitocanabinoides, como o CBN e o CBG, que não possuem propriedades psicoativas, sobre a excitabilidade neuronal e a frequência de crises”, ressaltou.

O professor do ICe-UFRN considera que para responder a essas perguntas é necessário o cultivo da planta, para ter acesso aos compostos nas concentrações e proporções controladas para as investigações. Ainda segundo Queiroz, a autorização da Anvisa trará grandes contribuições por possibilitar a ampliação de conhecimento sobre a produção, pela planta, de fitocanabinoides, bem como por permitir a realização de pesquisa básica e testes sobre os efeitos desses fitocanabinoides, quando administrados isoladamente ou combinados, em modelos animais de epilepsia, autismo, zumbido, estados afetivos e funções cognitivas, avaliando sua segurança e eficácia.

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