CULTURA

Barrados na feirinha de Mirassol, sebistas relatam abandono da Prefeitura de Natal

Tal como um bom livro esquecido em uma estante qualquer, subutilizado e sem o devido valor, sebistas relatam descaso e abandono por parte da Prefeitura de Natal. Tradicionalmente convidados a participarem da feirinha da Árvore de Mirassol, neste ano foram impedidos de expor e comercializar seus livros no espaço, que foi aberto na última sexta-feira (25) e segue até o dia 6 de janeiro com shows, artesanato e gastronomia.

Em conversa com a SAIBA MAIS, o dono de um tradicional sebo da cidade – que não quer ser identificado – descreveu a “situação constrangedora” que viveu com seus colegas ao chegarem na feirinha de Mirassol para montar seus expositores.

Chegamos lá na sexta-feira com o nosso material e confiando que estava tudo certo, como nos anos anteriores. Mas não foi bem assim”, introduziu o assunto.

Segundo ele, que estava com outros três sebistas, não havia espaço reservado para o grupo e, sequer, foram tratados de maneira cordial.

Eu já tinha descarregado mercadoria, maior constrangimento! Todos nós, que estávamos lá, pagamos transporte, organizamos nosso acervo. Isso é um desrespeito, e a cultura não precisa disso! Voltei para casa desgostoso da vida e ainda não engoli essa situação”, lamentou.

O sebista conta que, apesar de participarem da feirinha da Árvore de Mirassol há três anos, sempre foi numa “condição atípica”, ou seja, apenas como convidados. Diferentemente dos artesãos, por exemplo, que contam com um edital específico da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas) para seleção dos empreendedores, os sebistas precisavam recorrer a apoios políticos para conseguirem expor no espaço.

Sempre foi bem precário. Era na raça e na coragem que a gente ia”, lamentou explicando que, este ano, por contarem com o apoio de um parlamentar que não é próximo ao prefeito Álvaro Dias (PL), receberam outro tratamento.

Inclusive, quando estávamos lá, chegou a ordem de um outro vereador, da base do prefeito, para incluir mais três artesãos de última hora”, relatou.

Um outro sebista – que também não quer ser identificado – contou que, mais do que barrados, eles foram “convidados a se retirar”.

Foi um constrangimento total! É inaceitável que questões de divergência política sejam mais relevantes que o nosso trabalho. A gente quer respeito como profissionais de livros, como sebistas. Mas, para eles, nós somos marginais, uma cultura underground”, acrescenta.

Procurada pela SAIBA MAIS, a Semtas – responsável pela gestão da feirinha – disse que o motivo para os sebistas não poderem expor no local é a “falta de espaço”. De acordo com a assessoria da secretaria, este ano o número de artesãos passou de 60 para 80, além do pavilhão de gastronomia, que também foi ampliado. Isso teria inviabilizado a participação dos sebistas.

Questionada do porquê, mesmo com a ampliação, não ter havido reserva de vagas para o segmento de livros, a secretaria disse que os sebistas foram convidados a expor na Feirinha de Ponta Negra, mas recusaram o convite.

De forma alguma eles foram excluídos. Foi só uma questão de estratégia e logística”, disse a Semtas por meio de sua assessoria.

Mas, para os sebistas, essa foi uma desculpa para remediar a falta de prioridade e a “forma desrespeitosa” com que foram tratados.

A gente não quis [ir para Ponta Negra] simplesmente porque lá não tem estrutura, é um projeto experimental e, além disso, é apenas de quinta a domingo. Em Mirassol, é de segunda a segunda. Nosso material é volumoso, pesado e não tem condições de ficar montando e desmontando”, retrucou.

A verdade é que, nessa gestão, nada acontece por mérito da cultura, ela nunca falou por si. E o que a gente quer é ocupar o nosso espaço por direito, e não por apadrinhamento político”, concluiu o sebista.

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