Assim como no restante do país, Natal é uma cidade onde as desigualdades sociais saltam aos olhos. O último modelo de uma Ferrari ou Mercedes para no mesmo semáforo onde miseráveis levantam suas plaquinhas de papelão pedindo comida, dinheiro ou emprego. Uma evidência confirmada pelo 9º Boletim Desigualdade nas Metrópoles, que revela que os 10% do topo da distribuição de renda na capital potiguar ganharam em 2021, em média, 23,9 vezes mais do que os 40% mais pobres. Em 2014, esse índice era de 15,1.
O período pesquisado coincide com o início dos ataques realizados às políticas públicas implementadas pelo PT (Partido dos Trabalhadores) e com a retirada da presidente Dilma Rousseff por meio de um golpe parlamentar iniciado em dezembro de 2015 e concluído em agosto de 2016. De lá para cá, esses dados que monitoram a distribuição de renda foram piorando, com o aumento da concentração no topo da cadeia social.
Em Natal, por exemplo, o coeficiente de Gini (que aponta o grau de desigualdade na distribuição de renda), passou de 0,529 para 0,588 entre os anos de 2014 e 2021. O índice mede a desigualdade na distribuição de renda entre os trabalhadores e vai de zero a um, sendo que quanto maior o número, mais alta a desigualdade.
Entre 2014 e 2021, houve um aumento generalizado da desigualdade de renda nas Regiões Metropolitanas. Em 2021, as metrópoles que registraram os maiores coeficientes de Gini e, portanto, maior desigualdade de renda foram as Regiões Metropolitanas de Aracaju (0,605), João Pessoa (0,589), Natal (0,588), Salvador (0,582) e Belém (0,582). Apenas as Regiões Metropolitanas de Manaus, Macapá, Teresina, Recife, Maceió, Porto Alegre e Distrito Federal registraram redução da desigualdade.
Natal até teve aumento na média de rendimentos entre 2014 e 2021, passando de R$ 1.335 para R$ 1.609. Porém, na região metropolitana da capital potiguar, a média de rendimento dos 40% mais pobres caiu de R$ 375 para R$ 325.
A pesquisa também aponta que problemas mais recentes durante o governo Bolsonaro, como cortes no auxílio emergencial, aumento no preço dos alimentos, inflação e a precarização do trabalho, agravaram a situação. O levantamento aponta ainda que o Brasil continua sendo reconhecido internacionalmente como um dos países de distribuição de renda mais injusta, o que resulta no enfraquecimento das instituições democráticas e na redução da capacidade de crescimento. A pesquisa foi realizada pelo Observatório das Metrópoles (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – INCT) em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL).
Taxa de Extrema Pobreza em Natal é de 8,7%

Os pesquisadores também observaram que depois de uma leve redução da extrema pobreza entre 2012 e 2013, o número de pessoas que vivem em domicílios com renda per capita inferior a R$ 160 por mês disparou e segue crescendo ao longo dos anos. Apesar de uma certa estabilidade entre 2013 e 2015 e entre 2018 e 2020, a taxa de pessoas em situação de extrema pobreza saltou entre 2020 e 2021, chegando a 6,3% da população das metrópoles brasileiras.
Em Natal, a taxa de Extrema Pobreza saltou de 3,8% para 8,7%. Em ordem crescente, essa taxa foi mais alta em São Luís (10,1%), João Pessoa (10,7%), Manaus (11,1%), Salvador (12,2%) e Recife (13,0%). Já as regiões nas quais essa taxa foi mais baixa, em ordem decrescente, foram Belo Horizonte (3,5%), Porto Alegre (3,4%), Curitiba (2,5%), Vale do Rio Cuiabá (2,4%) e Florianópolis (1,3%).