“Pessoa extraordinariamente sábia e humana”, conta arcebispo metropolitano de Natal nomeado pelo Papa Bento XVI
Era junho de 2012 quando Dom Jaime Vieira Rocha encontrou-se pessoalmente com o então Papa Bento XVI, em Roma, para ser nomeado arcebispo metropolitano de Natal. Da reunião com o papa emérito, que faleceu neste sábado (31), aos 95 anos, ficou a impressão de serenidade e sabedoria do religioso.
“Recebi o pálio das mãos dele na Basílica de São Pedro com muita honra. Era uma pessoa que demonstrava muita serenidade, trato humano e um profundo conhecimento teológico. Ele era um dos maiores teólogos da atualidade e deixa uma grande obra”, relata Dom Jaime, por telefone, à Agência Saiba Mais.
Durante o encontro de 2012 com Joseph Ratzinger, nome de batismo de Bento XVI, o arcebispo metropolitano de Natal conta que recebeu orientações para dar mais atenção à juventude, o que passou a fazer com mais dedicação depois de seu retorno à capital potiguar.
“Ele atendia muito bem aos bispos, sempre com um mapa e uma enciclopédia para saber onde ficava a Catedral de Campina Grande [na Paraíba] e de Natal. Dialogou com o mundo da ciência e tinha como lema a frase “cooperatis veritá”, que é cooperar com a verdade. Era um papa profundo em tudo que dizia e também tinha muito zelo pelo que fazia”, avalia Dom Jaime.
No último dia 28, o Papa Francisco pediu orações para Bento XVI, que vivia em um modesto cômodo de um mosteiro no Vaticano e estava muito doente. O funeral do papa emérito será realizado no dia 5 de janeiro e será presidido pelo Papa Francisco, na Praça São Pedro. Em Natal, também serão realizados ritos de reverência a Bento XVI, mas o arcebispo da capital potiguar ainda aguarda orientações do Vaticano.
“Aguardamos orientações da Santa Sé porque os ritos próprios quando falece um papa emérito são diferentes. Mas toda a Igreja, desde já, reza para que Deus o acolha em sua paz”, explica Dom Jaime.
A renúncia
Em 11 de fevereiro de 2013, Bento XVI surpreendeu a todos com uma renúncia ao papado. Na época, foi cogitado que um dos motivos seria a decepção resultante de escândalos sexuais na Igreja Católica, porém, anos depois, também foi considerada a possibilidade de que a saúde frágil tenha levado o religioso à decisão.
“Ele era muito consciente de seu papel e verdade que teve muita coragem ao assumir a renúncia do comando da Igreja. Viu que não conseguiria sozinho enfrentar a crise que a Igreja estava passando. Foi uma decisão muito elogiada e importante para a instituição. Eram problemas de pedofilia e também não podemos relevar ou deixarmos de nos referir a uma instância e fonte de muita tensão para a Igreja e a sociedade, que são as redes sociais. Foi uma grande revolução que impôs suas consequências, sendo vista como sofrimento, mas também, realismo”, pondera o arcebispo metropolitano de Natal.