A esquerda e a gestão pública de esquerda no Brasil
Natal, RN 24 de abr 2024

A esquerda e a gestão pública de esquerda no Brasil

27 de janeiro de 2023
4min
A esquerda e a gestão pública de esquerda no Brasil

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Ser gestor de esquerda no Brasil não é fácil. Principalmente se este gestor estiver imbuído de um ideário socialista. É claro que vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores de esquerda socialista atuam num ambiente completamente formatado para não deixar enraizar o pensamento de esquerda, mesmo as mais moderadas. E tem os que atuam dentro dos quadros do aparelho estatal, em qualquer esfera, pois, quando lá adentram se transformam em correia de transmissão de um aparelho que se alimenta exatamente do sistema no qual esses gestores, em tese, criticam.

Mas o gestor (prefeito, governador ou presidente da república) tem de operar não apenas dentro desse aparelho, mas gerir ele e obviamente esse processo tem repercussões dentro das organizações de esquerda que atuam dentro desse sistema.

O presidente, por exemplo, tem de ceder parte do seu poder, colhido nas ruas, ao parlamento (Câmara de Deputados e Senado), sob pena de ver sua atuação travada nas votações. O presidencialismo de coalizão gerou esse monstrengo brasileiro e, convenhamos, não é devido ao número de partidos, como muitos alardeiam, mas pela própria construção do modelo de gestão capitalista que enche o parlamento com seus representantes.

Se o presidente não for capaz de entender que sem coalizão ele não governa, terá o mesmo destino de Dilma Rousseff, deposta num golpe orquestrado dentro da Câmara de Deputados e cimentado pelo Judiciário, via Lava Jato, pela mídia e pelas forças militares. Aliás, não podemos esquecer da renúncia de Collor, resultado da sua empáfia política que, sem um partido de sustentação, foi varrido pelos parlamentares.

Já os governadores se deparam com o passado desse país. O aparelho estatal estadual é bem mais anacrônico, do que a esfera federal, já que a estrutura do Judiciário e das assembleias legislativas foram forjadas dentro das oligarquias, que controlam invariavelmente os meios de comunicação locais. Qualquer governador que queira ter um minuto de sossego, deve ter a maioria da Assembleia Legislativa, e aí a coisa pega. Os grupos, mais do que os partidos, dominam a política local e as negociatas são normalizadas como se fosse algo natural.

Esses grupos, que representam não apenas as velhas e carcomidas oligarquias e famílias, que se reproduzem como erva daninha, tendem a transformar as assembleias são, em grande parte, um valhacouto de filhos dessas oligarquias e famílias, cuja única força está no voto de cabresto, que mudou de forma, mas não de conteúdo. No Brasil a compra de votos tem raízes profundas e se adapta a cada momento da nossa história.

Se o governador ou governadora tomar a decisão de governar, esses coronéis e seus puxas-sacos tendem a transformá-los em alvo constante das redes de mentiras fabricadas por essas pequenas elites e simplesmente ele passa a ser um gestor aprisionado pelo passado. Ou negocia ou fica congelado.

Já os prefeitos, principalmente os que estão fora dos grandes centros urbanos, onde há um aparente espaço democrático, nos médios e pequenos municípios, o prefeito é um “empregado” das elites locais e sua vida política é forjada dentro das saletas dos espaços dessas oligarquias e seu alinhamento se dá por mero oportunismo, uma espécie de sobrevivência administrativa e quanto mais o município for pequeno, mais o prefeito se mostra vassalo.

E os prefeitos têm nas suas Câmaras Municipais verdadeiras “casas de negócios”, onde os vereadores literalmente vendem seus mandatos e o fazem de forma tão escancarada que os prefeitos têm de verificar, a cada momento, em que posição está o vereador, para garantir sua sobrevivência política.

Assim é o Brasil.

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