Antônio Luís Rodrigues, de 48 anos, que vivia em situação de rua, morreu na madrugada desta sexta (27), no Hospital Tarcísio Maia, em Mossoró, depois de quase dois dias internado para tratar queimaduras provocadas por óleo quente. Ele deu entrada no Hospital na última terça (24) depois de ter sido atacado com óleo quente numa das ruas do centro da cidade.
A Polícia Civil investiga se Antônio foi atingido de propósito. O inquérito foi aberto pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) como homicídio doloso, que é quando há intenção de matar. A Ordem dos Advogados do Brasil em Mossoró se manifestou sobre o caso e vai acompanhar a investigação “junto à Delegacia de Homicídios, solicitando das autoridades competentes a rigorosa apuração e identificação dos envolvidos para que sejam responsabilizados conforme determina a Lei”.
O caso da morte do morador de rua em Mossoró também foi citado pelo Padre Júlio Lancelotti, conhecido pela atuação em causas humanitárias e defesa dos desfavorecidos, como mais um caso de aporofobia, que é o termo usado para explicar a aversão à pobreza.
A deputada estadual Isolda Dantes (PT), que é de Mossoró, cobrou punição aos culpados e classificou o crime como “crueldade”. O vereador Pablo Reis (PSB), que também é da cidade, se manifestou e disse que o caso vai ser acompanhado pela Frente Parlamentar de Combate à Fome e Desigualdade Social.
“A maior contradição de todas é que boa parte das pessoas em situação de rua se localiza num dos lugares mais representativos de Mossoró, numa praça cercada pela catedral, pelo maior banco da cidade e pela sede do poder legislativo. Quantos olhos passam ali e se fecham em vista da situação?”, questionou.
Índio Galdino
O caso da morte do homem em situação de rua em Mossoró atingido por óleo quente em uma praça pública lembra que, há quase 26 anos, em abril de 1997, o cacique da tribo Pataxó Hã-hã-Hãe Galdino Jesus dos Santos, 44 anos, foi queimado vivo enquanto dormia em um ponto de ônibus em Brasília.
O indígena tinha ido ao Distrito Federal para participar das manifestações relativas do Dia do Índio, em 19 de abril. Ele estava hospedado em uma pensão, mas se perdeu na volta para o local e quando conseguiu encontrar o endereço, por volta das 3h da madrugada, foi impedido de entrar, por isso, tinha buscado abrigo no ponto de ônibus.
Galdino foi morto por cinco jovens da classe média alta de Brasília que moravam no Plano Piloto e voltavam de uma “noitada”. O grupo parou o carro e ateou fogo no índio com álcool para “brincar”. Os jovens, Antônio Novely Vilanova, na época com 19 anos, Max Rogério Alves, 19, Tomás Oliveira de Almeida, 19, Eron Chaves Oliveira, 18 e G.A.J., 17, fugiram do local, mas foram identificados porque uma testemunha seguiu o grupo e anotou a placa do carro.
O cacique teve queimaduras de segundo e terceiro graus em 95% do corpo. Ele foi internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), mas faleceu no dia 22 de abril de 1997 de insuficiência renal provocada pela desidratação do corpo.
Na época os jovens tentaram justificar o crime dizendo que achavam que o índio “era um mendigo”. Aqueles com mais de 18 anos foram condenados a 14 anos de prisão, mas não chegaram a passar muito tempo encarcerados. Atualmente, eles são funcionários públicos com altos salários e um deles chegou a ocupar um alto cargo na Polícia Rodoviária Federal a mando de Bolsonaro.