A arte, luta e vitória de mães solo
Natal, RN 25 de abr 2024

A arte, luta e vitória de mães solo

27 de fevereiro de 2023
6min
A arte, luta e vitória de mães solo

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Por Karen Sousa

Ter responsabilidades dobradas faz parte da rotina de mães solo. Quando essa realidade também tem a administração do próprio negócio, exige uma dose de  coragem a mais para enfrentar desafios. O meio artístico do RN está cheio de exemplos de mulheres empreendedoras que conseguem superar os obstáculo que surgem em seus caminhos.

A agitação da rotina como mãe e o gerenciamento das atividades do trabalho é um desafio gigante, diz Jenifer Freitas, fundadora da Luare, empresa de papelaria personalizada. “Além de tudo isso, é preciso lidar com as necessidades do meu filho em sentido físico, emocional e financeiro”, ressalta.

Jenifer, assim como algumas outras mães solo, cuida sozinha do filho de cinco anos de idade e integra na vida pessoal os princípios da sua loja - autoconhecimento, posicionamento e organização. Mas confessa que nem sempre é o suficiente para dar conta das demandas gerais.

Mas a criação da Luare é, por si só, uma grande conquista para ela. A iniciativa surgiu em 2022, quando ela foi diagnosticada com transtorno depressivo-ansioso, e foi mais que uma superação, se tornou o principal meio de suprir as necessidades da família. Jenifer revela que tinha aversão ao empreender, mas foi no empreendedorismo que encontrou a flexibilidade e a possibilidade de trabalhar estando sempre perto do filho.

Jenifer produz o design dos produtos e realiza a distribuição. Foto: Arquivo Pessoal.

“Também, depois que você se torna mãe, a reinserção no mercado de trabalho é muito difícil, principalmente sendo mãe solo. Os recrutadores sempre lançam a questão de se o filho adoecer, quem fica com a criança, com certeza não fazem esse tipo de pergunta para um candidato homem”, adiciona.

Para Ione Alencar, a criação do atelier de arte sacra Terços e Santos também foi uma forma de superar a ociosidade. Ela conta que antes mesmo do falecimento do marido, precisou assumir a função de mãe e pai da filha única, pois precisava cuidar do esposo que se recuperava de um acidente vascular cerebral. A artesã relata que o cuidado com o marido era a sua vida diária e, após dois anos de sua morte, a rotina ficou vazia.

Ela não esconde que existiram muitas dificuldades e obstáculos, mas nunca desistiu. “Sempre gostei de trabalho manual, mas eu nunca tinha feito um trabalho religioso, então para mim foi um desafio, mas eu vejo isso como um presente de Deus na minha vida. Eu não tinha nenhuma perspectiva de trabalho”, narra.

Foi na arte sacra que Ione encontrou a motivação artística. Foto: Ione Alencar.

A arte acaba sendo terapêutica. Ione diz que sua ocupação hoje é como uma terapia. Antes não se imaginava trabalhando com arte sacra, mas atualmente não se vê sem ela: seu artesanato é uma extensão de si mesma.

O sentimento de vitória está mais que presente na sua vida diária, Ione reafirma que a arte foi uma bênção para ela, assim como para as outras mães empreendedoras, a quem ela dá o título de vencedoras e dedicadas.

“Quando a arte é feita com muito amor, carinho e dedicação, isso passa para o seu trabalho”, indica Ione.

Jenifer Freitas concorda e expõe a satisfação em poder oferecer produtos únicos feitos pelas próprias mãos e personalizados de acordo com o desejo do cliente. “Hoje eu quero que a Luare, além de empresa, seja uma referência de autoconfiança e autoconhecimento, pois minha própria empresa faz isso por mim. Sou muito verdadeira no que faço e faço com muito amor”, declara.

“Acredito que quando criamos produtos ou serviços que envolvam arte, estamos lidando com as emoções de cada indivíduo”, destaca Jenifer.

Entre dificuldades e vitórias

A fundadora da Luare conta que teve apoio de um grupo criado para dar suporte às mulheres empreendedoras e que auxilia na expansão dos negócios e no empoderamento, mas essa realidade é diferente para Ione Alencar, que não encontrou apoio além do incentivo da família. Hiara Oliveira, artesã de bordados e ponto-cruz, também relata que não teve apoio.

Apesar da responsabilidade em dobro que ela tem, Hiara considera a rotina de empreendedora como simples, pois consegue organizar o próprio horário de trabalho e distribuir as atividades de acordo com as demandas recebidas.

A artesã aprendeu a bordar ainda criança e revela amar o que faz, além de ter desenvolvido ainda mais habilidades na atividade, sendo parte de sua vida diária.

No entanto, as dificuldades também estão presentes. “É um ramo de muita luta, porque muitas vezes o artesanato não é muito valorizado”, confessa.

Pode ser um caminho com adversidades, mas as motivações dessas mães empreendedoras são ainda maiores que os problemas com os quais elas precisaram lidar. No artesanato, Jenifer Freitas, Ione Alencar e Hiara Oliveira colocam uma parte de si, com amor pelo que fazem e a dedicação de conseguir mudar o dia de alguém a partir da arte. E elas sentem que, com isso, toda a trajetória vale a pena.

Saber que cada pessoa confiou nas minhas mãos para levar amor a outros me motiva a continuar. Isso faz parte da minha cura e por maiores que sejam as dificuldades, as recompensas são valiosas”, conclui Jenifer.

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