Por Karen Sousa
Os brechós e bazares promovem uma cultura de reutilização e circulação de roupas de forma mais consciente e acessível. São vendidos artigos já usados, incluindo roupas, calçados, bijuterias e objetos de decoração. Na capital do Rio Grande do Norte, essa comercialização apresenta crescimento e serve, muitas vezes, como uma fonte de renda.
É essa a realidade de Juliana Moura, estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que encontrou no Brechó Luz uma oportunidade de trabalho. A iniciativa existe há quase três anos e hoje realiza as vendas principalmente na plataforma do Instagram.
“Ele começou com a sugestão de uma conhecida, pois tenho muitas peças e estava precisando de uma renda extra, ela me sugeriu abrir um brechó”, conta Juliana e adiciona que todas as roupas apresentadas no brechó não são compradas, mas doadas ou desapegos do próprio guarda-roupa, incluindo roupas novas e usadas.
O Brechó Luz, que tem esse nome para enfatizar a luz emanada pelas pessoas, conforme diz Juliana, tem uma boa demanda, mas modifica ao longo do ano. “Não temos uma renda exata, pois varia muito, mas nos meses de dezembro e janeiro as vendas caem”, relata. Para ela, os meses de melhor saída estão entre março e junho.
Além de ajudar nas despesas principalmente como estudante, Juliana acredita que o que faz é uma grande contribuição diante do desperdício ligado ao alto consumo de roupas. “Eu vejo o brechó como agente importante no combate ao acúmulo de lixo e ao consumo desnecessário”, defende.
“Muitas vezes as pessoas acabam gastando muito com peças de lojas e compram só por hábito”, opina Juliana.
O acúmulo de lixo é evidenciado em cerca de 300 hectares do deserto do Atacama, no Chile, cobertos por resíduos constituídos, principalmente, por vestimentas e acessórios usados. A montanha de lixo inclui roupas descartadas de diversos países e continentes. Uma só peça pode levar, em média, 50 anos para se decompor.
“Quando pensamos em empresas fast-fashion ou lojinhas locais que tem o intuito de passar o que está em alta e aumentar o consumo, é muito difícil ter uma circulação consciente”, explica Sulla Miranda, estilista do segmento jovem urbano e básico da Riachuelo. Ela esclarece que o fast-fashion é o padrão de produção motivado pela alta demanda e segue o ciclo de consumo e descarte rapidamente.
“Temos um processo linear, onde o capitalismo e a prática do mais uso é elevado e sem preocupação de descarte ou informação para gerir melhores práticas de moda circular”, afirma. A cultura se difere da realidade vivida nos brechós, onde a ideia é encontrar um caminho diferente para roupas que seriam jogadas fora.
“Não estamos produzindo mas buscando um novo circuito para reaproveitamento de peças que ainda podem ser utilizadas”, relata a estilista.
Sulla revela que também costuma comprar roupas de brechó e que é um hábito que está, cada vez mais, tentando implementar com efetividade em sua vida, com o objetivo de reduzir o consumo inconsciente.
Para Andréa Herculano, stylist em um ateliê de confecções e dona do Dope Brechó, o hábito foi além de comprar roupas já usadas. “Sempre consumi de brechós e bazares, o consumo de peças de segunda mão é um estilo de vida para mim. Sendo apaixonada por moda e ‘second-hand’, tive a ideia de abrir meu próprio brechó, porém exclusivamente on-line”, conta.

As roupas adquiridas pelo Dope são, geralmente, compras realizadas em outros bazares, os chamados ‘garimpos’, mas também são recebidas doações ou compradas roupas dos próprios clientes do brechó. “Como a curadoria é feita também para atender a procura de peças específicas desejadas pelos consumidores, compramos apenas o que está dentro dessa demanda, evitando assim que as peças fiquem por muito tempo em estoque e consequentes prejuízos”, explica.
Andréa acredita, também, que o trabalho dos brechós envolve muita conscientização e educação sobre consumo. “Se a compra vier apenas pelo ‘ter’ sem consciência, então dificilmente haverá mudanças com relação à desperdícios e resíduos têxteis que provocam tantos danos ambientais e sociais”, destaca e adiciona que os consumidores devem ter atenção na aquisição de vestimentas.
Sulla Miranda concorda que uma consciencialização e reeducação podem ser chaves que abrem portas para novos hábitos e práticas mais sustentáveis. A redução da produção de peças e distribuição feitas pelos bazares e brechós colocam essas ações no processo de moda circular, identificada como uma iniciativa válida e positiva, relata ela. “Porém, não adianta você comprar muito só por ser bazar, sua prática continua sendo a mesma sem percepção dos problemas que está causando com o consumo desenfreado de produtos que já não tem necessidade”, completa.
Conheça as redes sociais dos brechós.
Brechó Luz: @usebrecholuz
Dope Brechó: @_dopebrecho
Brechó Cor de Magia: @cordemagia
Brechó Solar: @breechosolar
Brechó B: @brechobnatal
Sunflower Brechó e Ateliê: @sunflower_brechooo
Sua Moda Bazar: @suamodabazar