DEMOCRACIA

Deputado gaúcho expõe falas preconceituosas contra o Nordeste em vídeo nas redes sociais

Reprodução/Facebook Mauricio Marcon

Por Luan Conceição

O Deputado Federal Mauricio Marcon (Podemos/RS) utilizou as suas redes sociais em 5 de fevereiro para transmitir uma live, na qual fez colocações preconceituosas sobre a Região Nordeste e, em especial, ao estado da Bahia. Em uma transmissão ao vivo, realizada em seu Instagram oficial, o parlamentar, que foi eleito para ocupar uma cadeira da Câmara dos Deputados na eleição de 2022, aproveitou o momento para estereotipar o nordeste e o povo nordestino, tratando a região como alienada e desinteressada politicamente:

“O público do Sul e Sudeste se importa demais. Me cobra. Isso é ótimo. No Nordeste isso não existe, até pela pobreza”.

O parlamentar ainda aproveitou para fazer mais um comentário preconceituoso e de mal gosto, dessa vez, contra a Bahia, maior estado da região:

“É um Haiti. Não tem explicação. É uma pobreza, tudo pichado, sujo. E era uma área turística. A gente fica imaginando onde não é [turístico]. Então a vida é muito diferente”.

O parlamentar foi criticado por diversos internautas e até mesmo por autoridades, pelas ofensas proferidas à região. Através de seu Twitter, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, repreendeu o parlamentar:

“Caro Deputado Marcon: instrua-se, eduque-se, retenha essa baba ofídico-peçonhenta que emana da tua boca, seiva da violência que grassa em nosso país. Conheça direito a Bahia, o seu peso histórico, a sua estupenda arte, as suas magníficas igrejas e a sua gigantesca e decisiva contribuição para a formação da nacionalidade brasileira ”.

O Deputado Estadual Leonel Radde, também do Rio Grande do Sul, usou as redes sociais para anunciar que entrou com um Boletim de Ocorrência contra o Deputado Federal por conta das ofensas proferidas contra nordestinos e aproveitou para criticar diretamente Mauricio Marcon, chamando-o de racista e fascista.

Após as críticas e denúncias, Mauricio compareceu à Câmara dos Deputados, onde tratou a discussão como um mal entendido e utilizou o espaço para pedir desculpas e se justificar pelas suas falas:

“Peço desculpa ao povo da Bahia, que eventualmente tenha tomado isso como uma agressão, […] fiz só uma menção como turista, senhor Presidente, eu acho que a gente tem que cuidar do turista, porque ele traz renda, traz emprego pra cidade. […] jamais vou atacar povo nenhum, isso não é do meu estilo, já critiquei inclusive a limpeza da minha cidade.”.

As falas de Mauricio não são isoladas e comumente são normalizadas e disseminadas no Brasil. Após os resultados das urnas no primeiro turno, ficou clara a reprovação do Governo do ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL) na região nordeste. Com o segundo turno e a vitória de Lula, que venceu com ampla vantagem na região, a rejeição de Bolsonaro ficou ainda mais evidente.

Desde então, a narrativa de que o povo nordestino foi “culpado” pela eleição do Presidente Lula, por não ter votado da mesma maneira que o Sul e Sudeste, tornou-se muito forte nas redes sociais, acarretando em diversos atos de xenofobia contra a região. Foi necessária a interferência da justiça de diversos estados e ainda das próprias redes sociais, para investigar e punir os responsáveis pelos xingamentos e ameaças que vinham sendo proferidos. Na época, a Presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, criticou os ocorridos:

“É esse o Brasil que o povo quer? Do discurso do ódio? Nordeste é orgulho!”.

Falas como a do parlamentar, colaboram para a endossar ainda mais esse tipo de discurso preconceituoso e estereotipado da região nordeste, já tão enraizado no imaginário nacional. De acordo com a antropóloga Adriana Dias, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o Rio Grande do Sul, onde Maurício Marcon foi eleito, é o segundo estado brasileiro com maior número de simpatizantes do neonazismo.

Ainda de acordo com a sua pesquisa, a presença do neonazismo no Brasil, se intensificou por diversos fatores na última década, entre eles, o próprio preconceito político contra o nordeste. Durante as eleições de 2010, as discussões entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) sobre os mais diversos temas da sociedade, como aborto e casamento homoafetivo, teriam fortalecido o discurso ultra-conservador que é utilizado por estes grupos. Como a região Nordeste tendeu a apoiar o PT nas últimas eleições estaduais e federais, passou a ser vista como alvo por esses criminosos. De lá para cá, o número de cédulas e simpatizantes nazistas espalhadas pelo Brasil cresceu. Um relatório do Observatório Judaico de Direitos Humanos no Brasil, publicado em 2022, revelou que o número de episódios envolvendo práticas e saudações nazistas cresceu cerca de 408% entre 2019 e 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro.

Vale sempre lembrar: a xenofobia é crime, pela lei Nº 9.459, de 1997.

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