Educadores e alunos potiguares torcem por revogação do novo ensino médio: “ensino piorado”
Natal, RN 25 de abr 2024

Educadores e alunos potiguares torcem por revogação do novo ensino médio: “ensino piorado”

28 de fevereiro de 2023
5min
Educadores e alunos potiguares torcem por revogação do novo ensino médio: “ensino piorado”

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Entidades e setores de esquerda têm pressionado o Ministério da Educação (MEC) de Camilo Santana para revogar o novo ensino médio. Aprovado em 2017 durante o governo Michel Temer (MDB), o modelo foi implementado a partir de 2022, mas professores e estudantes veem um aprofundamento da desigualdade no acesso ao ensino.

A reforma instituiu um currículo dividido em duas partes. Uma é comum a todos, e outra é formada pelos chamados itinerários formativos, em que os alunos escolhem uma área. As opções envolvem Matemáticas e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e ensino técnico profissionalizante.

Para Aparecida Fernandes, professora do IFRN, a medida amplia o fosso entre ricos e pobres. 

“Por exemplo, quando se fala em itinerários formativos que o aluno tem que escolher, como é que você escolhe dentro da exclusão? As escolas privadas têm um itinerário formativo dentro da própria escola. Os alunos não vão deixar de ter aulas de história, de geografia, de matemática, de física, de química. Os alunos da escola pública vão. Então como que eu não tenho acesso ao mínimo do que foi produzido de conhecimento geral produzido pela humanidade, pela história da ciência, pelo conhecimento?”, aponta.

“Se eu não tenho acesso ao mínimo, com que condições eu escolho? Ele é um modelo excludente, e esse processo de exclusão só se aprofunda para aqueles que estudam nas escolas públicas do país”, continua.

Arthur Santos, morador de Extremoz, na Grande Natal, e diretor de políticas educacionais da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), enxerga uma “implementação desastrosa”.

“De nada adianta mudar o currículo, fazer boas propagandas, mas não corrigir demandas que existem há décadas na educação brasileira, como a má infraestrutura das escolas, a falta de professores e de qualificações continuadas, um plano de assistência e de permanência estudantil, a oferta de estágios para os estudantes de curso técnicos”, afirma.

Santos vê o modelo dos institutos federais como um possível exemplo a ser seguido.

“Mas os defensores empresariais da reforma preferem ignorar essa estrutura, que poderia ser usada de modelo para o ensino médio estadual, pelo fato de que se precisa ter mais recursos para financiar um ensino médio de qualidade com formação continuada para os professores, instalações adequadas, políticas de permanência, incentivo à projetos de extensão, entre outras medidas”, comenta.

Recém-formado no curso técnico de administração do CEEP - Hélio Xavier de Vasconcelos, o estudante de 18 anos diz que o governo estadual implantou o Novo Ensino Médio Potiguar (“que avalio ser uma tentativa de amenizar os prejuízos trazidos pelo NEM Nacional”), mas que ainda segue as propostas da medida adotada pelo governo Temer.

“Nas escolas que conheço, os itinerários formativos tratavam de temas como educação sexual, primeiros socorros, astronomia, mas não é oferecido nenhum tipo de recurso para essas aulas existirem, impossibilitando bastante o ensino-aprendizagem de maneira libertadora”, diz.

Coordenador geral em Natal do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), Leonardo Guimarães diz que, no IFRN, a reforma ainda não foi aplicada. Com o atraso no calendário acadêmico gerado pela pandemia, os alunos só entrarão no semestre 2023.1 em março.

“Não houve nenhuma indicação de que se vai se implementar agora, mas há uma discussão dos núcleos centrais estruturantes e as disciplinas sobre mudança de currículo. E aí creio eu que, caso não haja revogação, o IFRN será obrigado a implementar. Mas creio eu também, e torço, que esse novo ensino médio seja revogado e que se faça um debate sobre como deve ser o ensino médio, um ensino médio que favoreça as classes populares, os estudantes de escola pública, e não favoreça a desigualdade do ensino brasileiro”, espera.

Para a coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado (Sinte-RN), Fátima Cardoso, critica a limitação da matriz curricular. 

“O aluno não vê todas as fases do ensino médio. Naquele itinerário ele pode ver uma disciplina, mas em seguida pode não vir mais e fica deslocado do contexto social. É um ensino que as elites querem passar para que o filho do trabalhador seja um empregado sempre. Ele não tem a perspectiva de ingressar na vida acadêmica e perde a sua identidade como uma pessoa que está dentro de uma sociedade de classe”, comenta.

Cardoso vai além e diz que vê o modelo como um “ensino propedêutico piorado”.

“Ele não traz uma mediação conceitual entre os conteúdos, a sua contextualização, e aquilo que se relaciona com a própria vida dos sujeitos. É um ensino propedêutico piorado”, opina.

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