CULTURA

Escola Batuque Ancestral desfila pela primeira vez no grupo especial em Natal

Por Karen Sousa

Para lembrar a ancestralidade e a cultura negra foi que a Batuque Ancestral foi criada. A escola de samba veio das rodas de samba que aconteciam no Bar da Nazaré, na Cidade Alta e, neste sábado (25), realiza o sonho de desfilar pela primeira vez no grupo especial no carnaval de Natal. A escola foi à avenida em 2019 e em 2020, se tornando campeã do grupo B.

Após dois anos sem festejo, o amor pelo carnaval e pelo samba foi renovado no coração da equipe, que fez o tempo de espera valer a pena. Fundada em 2018 e caçula entre as escolas de samba, a Batuque Ancestral iniciou a organização em dezembro e está nos ajustes finais dos adereços, pretendendo revolucionar o carnaval de 2023 levando o protagonismo da população negra periférica e da religião de matriz africana.

“Nossa ideia era criar uma escola que falasse de representantes negros dentro da sua origem e de toda nossa ancestralidade. Acreditamos que as escolas de samba têm que falar do nosso povo, pois a luta e a resistência pela existência têm que ser mostradas numa avenida: onde o povo realmente está”, explica Carlos Britto, da diretoria da Batuque Ancestral.

Tássio Fialho, também diretor da escola, concorda e diz que a história da povo negro é apagada durante todo ano, mas no carnaval ela é enaltecida com a roupagem do colonizador, e que é objetivo elevar a voz dessa população marginalizada. “Nossa função é preservar a cultura que tentam apagar e atuar junto à comunidade fortalecendo os laços comunitários com cultura, lazer, renda e trabalho, identidade e inclusão social”, completa.

Ambos contam que foram movidos pelo amor que se envolveram com a escola. Enquanto Carlos Britto relata que a cultura e a paixão pelo samba corre em suas veias desde os sete anos de idade e, com isso, participou da fundação da escola, o carioca Tássio Fialho mostra que desfilar uma vez na Batuque em 2019 não foi o suficiente, o que ele queria era estar no processo contínuo de construção da escola.

Dedicação, comprometimento e motivação definem o trabalho na escola de samba. Foto: Tássio Fialho.

A emoção é única e, muitas vezes, fogem do vocabulário as palavras para expressar o que significa o sentimento de ver a escola pronta para desfilar no grupo especial, contam os diretores. “Trabalhamos arduamente nos bastidores para levar para a avenida o melhor espetáculo. É um processo cansativo e às vezes frustrante, principalmente pela dificuldade dos recursos financeiros e de incentivo, mas por acreditarmos no que fazemos, colocamos nosso sangue, suor e lágrimas – de felicidade também – no projeto do carnaval”, conclui Tássio.

Para estar na organização da escola é necessário ter comprometimento e preparação para algumas dificuldades. Carlos explica que, em 2023, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liern), em conjunto com a Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), conseguiu o aumento da subvenção para auxiliar nas despesas das escolas, mas que é com ajuda de amigos e membros da equipe de organização que a Batuque pode ir à avenida.

Motivações iguais, lugares diferentes

Tássio conta que sabe bem a realidade das grandes escolas de samba do Rio de Janeiro, e que, apesar do financiamento ser ainda maior, o amor pelo samba e pela agremiação não tem diferença. “Há quem diga que as escolas de samba daqui do RN ficam muito aquém do Rio de Janeiro, mas quando a gente vai comparar as dos grupos prata e bronze, que são grupos menores, os desfiles são iguais: o amor, a dedicação, o sentimento de estar na avenida é igual e não muda em nada”, evidencia.

A Batuque Ancestral enfatiza que, independente do lar a qual a escola de samba pertença, as adversidades estarão presentes. E, apesar disso, as equipes sempre estarão unidas e preparadas para lidar com elas e passar por cima dos problemas com os carros alegóricos, enfeites e adereços coloridos que são planejados o ano inteiro, com o amor e a esperança de ganhar o primeiro lugar.

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