Por Karen Sousa
Enfeites, fantasias, fitas e tecidos coloridos, carros alegóricos sendo finalizados: os últimos detalhes e ajustes estão sendo feitos para garantir o carnaval na Ribeira, bairro que também se prepara para receber as escolas de samba de Natal. Com uma produção que pode levar entre cinco meses a um ano para ser finalizada, as escolas potiguares mantêm a esperança de alcançar o primeiro lugar no desfile do dia 25 de fevereiro.
Ao procurar nos dicionários da língua portuguesa, uma escola de samba pode ser definida como uma associação popular, uma espécie de agremiação ou até como uma sociedade musical, mas para Lenilson ‘Didi’ de Sousa, a Balanço do Morro pode ser descrita em uma palavra: família. Ele é um dos fundadores da escola junto do irmão Lucarino Roberto, a quem se refere como saudoso.
“Nós fizemos o primeiro desfile faltando 45 dias para o carnaval, com 70% dos componentes da escola todos da família, e nós ganhamos o carnaval. De lá para cá foi só vitória”, conta Didi Sousa e ressalta que, dos 57 anos da Balanço do Morro, 28 vezes ela foi campeã, se tornando a escola de samba com mais títulos de primeiro lugar na história de Natal.
Ele também não deixa de citar o trabalho, esforço e investimentos presentes na vida diária da escola para completar a organização que levou mais de um ano. Mas todo o empenho tem resultados satisfatórios para a equipe e, mesmo se ela não for campeã, Didi diz que é um bom processo e também se alegra com o segundo lugar.
“É muito bom. É uma coisa que a gente traz no sangue e se sente bem em fazer, com toda a família envolvida. Tá no sangue e não pode parar”, afirma.
Apesar disso, existe uma dificuldade em levar uma escola de samba à festa na rua sem muitos apoios. Para a Balanço do Morro não é diferente, mas dessa vez a equipe tem patrocínio do grupo Guararapes e da família de Nevaldo Rocha, empresário e fundador da Riachuelo falecido em 2020, que é lembrado e homenageado no enredo da escola esse ano. Didi inclui agradecimentos ao falar do apoio que Nevaldo Rocha sempre deu à escola.
“Eles estão nos apoiando, é por isso que nós estamos fazendo esse carnaval. E sei que minha escola está belíssima, ela vai sair linda”, declara Didi. E para a escola sair bonita na rua com os mais de 800 componentes no desfile, é necessário, ao menos, 20 pessoas por dia para trabalhar na confecção e montagem de fantasias e carros alegóricos.

Cada centavo conta para colocar o carnaval na rua
Os membros da equipe têm refeições fornecidas pela escola, mas, segundo Didi, também não é fácil garantir a alimentação de todos, mas são as doações que tornam isso possível, juntamente com ações como aluguel do espaço. “A gente faz uma festa por mês para angariar o dinheiro, nosso movimento é o ano todo”, explica.
Para Alessandra Araújo, diretora geral da escola Malandros do Samba, intitulada pela equipe como pioneira no Rio Grande do Norte, a dificuldade de oferecer uma apresentação de qualidade para o público vai além do financeiro e do físico, mas também é necessário ter preparo psicológico.
“Para se colocar uma escola de samba na avenida tem o gasto de material, tem que ir em busca de patrocínios, tem que fazer evento para arrecadar fundos e, principalmente, o desgaste na reta final”, diz Alessandra.
Mas, no fim, tudo vale a pena e a equipe vive junto a satisfação de desfilar com a escola. A diretora conta que, diariamente, estão no barracão cerca de 40 pessoas, mas na avenida esse número é ainda maior, com uma faixa de 1500 componentes. E foi com a ajuda desse pessoal que a Malandros do Samba passou quatro meses para produzir o material usado no desfile.

Alessandra conta, ainda, que no dia da festa sempre vem um grande público prestigiar as escolas, mas sente que muitas pessoas que moram na cidade criam um preconceito com as agremiações natalenses. “Acho que tem sim, por não ser uma estrutura como no Rio de Janeiro ou como em São Paulo. Tem pessoas que não vão nem para conhecer”, relata.
Didi da Balanço do Morro concorda, ele defende que apesar do público ser composto tanto por potiguares como por turistas, existe um preconceito a ser superado. “Eu acredito que ainda tem gente preconceituosa, mas isso é de superar. O carnaval é cultura.”, enfatiza.
Entre uma Ribeira e uma Sapucaí
Mesmo não participando de um dos maiores carnavais do mundo, as escolas de samba de Natal dedicam-se o ano todo para a realização de um desfile tão bonito quanto o do Sambódromo da Marquês de Sapucaí. E apesar da competição na avenida, pessoas como Didi da Balanço do Morro e Alessandra da Malandros do Samba realizam, juntos, o sonho de levar a escola à rua sem esconder o orgulho no rosto.
Programação
O desfile acontece na Avenida Duque de Caxias, na Ribeira, no dia 25 de fevereiro. O evento se inicia às 19h com apresentações das escolas dos grupos A, B e C.