O último dia do carnaval da Prefeitura de Natal que terminou em pancadaria cometida pela Polícia Militar na terça-feira (21) deixou marcas em três pessoas da mesma família. O músico Rogério Ceny, 23, estava se divertindo com o pai, irmão e mais duas pessoas quando o grupo apanhou da PM.
A festa acontecia no bairro Nossa Senhora da Apresentação, zona norte de Natal. Segundo os organizadores, os agentes bateram no público porque não queriam trabalhar na chuva e pediram que a festa fosse encerrada mais cedo.
“Já tinha rolado uma confusão lá, mas não tinha sido com nós, e a gente continuou bebendo”, conta Rogério. “Aí, quando começou a chuva forte mesmo, os policiais vieram andando do palco na nossa direção, e já foram empurrando. Quando o policial me empurrou, eu só disse: ‘calma’. E quando disse, ele foi todo ignorante e já começou a agredir a gente. Meu pai não quis deixar agredir meu irmão e ele começou a agredir meu pai. Meu irmão chegou a desmaiar e meu pai no chão”, relata.
O músico guarda três fortes marcas de cassetete nas costas. O irmão, Roberto Ceny, disse que o grupo só estava dançando e se divertindo com familiares e amigos antes de serem agredidos.
“Eles já chegaram batendo em nós. Na hora que eu caí no chão, eles continuaram dando, aí eu apaguei e ficaram dando nas minhas pernas”, diz Roberto.

Roberto tem 19 anos e trabalha numa sucata separando os materiais recicláveis. Por conta dos ferimentos na perna, não está podendo trabalhar. Ele levou pontos em duas partes diferentes da perna e está andando com ajuda de muletas. Possui ainda marcas das agressões no pescoço e braço.
Rogério diz que foi a primeira vez que presenciou o irmão naquele estado.
“Meu pai ainda falou comigo e disse que se não tivesse ficado por cima do meu irmão, tinham quebrado as pernas dele [Roberto], porque estavam batendo onde ficou ponteado. Quem tava passando pela gente, eles estavam batendo”, afirma.
Policiais ainda tentaram bater com cassetete no rosto, diz o pai
Além de Rogério e Roberto, o pai dos dois, Gilberto Silva, de 40 anos, também carrega as marcas da terça-feira de carnaval.
“A gente estava num bloco e foi tudo ótimo, o problema foi quando a gente chegou na festa que estava com o palco armado. Quando começou aquela chuva de 22h para 23h, os policiais já chegaram uma parte pelo lado direito e outra pelo lado esquerdo espancando todo mundo”, afirma Silva.
“Primeiro foi eu, depois um filho meu, na sequência eu estava levantando duas moças que eles tinham empurrado na lama. Quando olho pra trás, já estavam espancando meu outro filho”, diz.

Gilberto, que trabalha fazendo bicos, diz que um dos policiais ainda tentou bater com o cassetete no seu rosto, mas o homem conseguiu colocar as mãos à frente antes e não machucou diretamente o rosto. Ainda assim, está com o braço, a mão, perna, costas e perna inchadas.
Em nota, a Polícia Militar anunciou a abertura de um procedimento administrativo para identificar e punir os responsáveis pelas agressões contra o público. A corporação informou que, após a identificação, irá afastar os militares das funções operacionais, garantindo o direito da ampla defesa e do contraditório.