TRANSPARÊNCIA

Produção da empresa que quer substituir Petrobrás no RN apresenta tendência geral de declínio

A produção de óleo e gás da 3R Petroleum no RN registrou um pequeno crescimento, mas prossegue com tendência geral de declínio. Segundo a edição de dezembro do Boletim Mensal da Produção de Óleo Gás, publicado nesta quarta-feira, 8, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis – ANP, os volumes extraídos pela empresa nos campos petrolíferos em que detém concessão ou participação oscilou positivamente em cerca de 200 barris de óleo equivalente (óleo e gás) por dia (boe/d). Saiu de 4.800 boe/d em novembro-22 para 5.007 boe/d em dezembro-22. No entanto, em dezembro-21, a produção nessas mesmas áreas era de 7.199 boe/d, ou seja, no período de um ano, o volume extraído caiu mais de 30%!

Hoje, a produção da empresa que pretende substituir a PETROBRÁS no comando da indústria petrolífera do Estado, caso consiga concretizar junto à estatal a transação de compra e venda de 22 campos terrestres e marítimos agrupados no chamado Polo Potiguar, é realizada em três áreas: Polo Macau, Polo Areia Branca e Polo Pescada. No Polo Macau, adquirido junto à PETROBRÁS e operado pela 3R desde maio de 2020, a produção entre novembro e dezembro oscilou positivamente em 4,6%, com queda de 34,7% no período de um ano.

No Polo Areia Branca, cuja concessão foi adquirida pela 3R após a compra da Duna Energia (ex-Central Resources), empresa então controlada pelo Banco BTG Pactual, houve queda de 1% entre novembro e dezembro, com crescimento de 5,3% no período de um ano. Já no Polo Pescada, com três campos marítimos em águas rasas, onde a 3R Petroleum detém 35% de participação, aguardando decisão da ANP sobre a compra dos 65% restantes, houve queda de produção de 7,3% entre novembro e dezembro, e de 5% na comparação com dezembro de 2021.

A empresa

Na mídia potiguar, o histórico da hoje denominada 3R Petroleum Óleo e Gás S.A. tem início em novembro de 2018, quando esta ainda tinha o porte de microempresa. Sem experiência de gestão de campos petrolíferos ou de recuperação de produção em áreas consideradas maduras (que já passaram pelo pico de produção), a então denominada 3R Petroleum foi anunciada pela PETROBRÁS como vencedora do certame pela aquisição de 34 campos petrolíferos no Polo Riacho da Forquilha (RN), com uma oferta de US$ 453,1 milhões.

O Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras do RN (SINDIPETRO-RN) foi o primeiro a denunciar. No mesmo dia em que a aprovação foi divulgada pela PETROBRÁS, a entidade publicou matéria em sua página eletrônica na internet estranhando a decisão e cobrando explicações. Em seguida, vários veículos da mídia corporativa repercutiram e aprofundaram a denúncia, trazendo opiniões de especialistas do setor, e o pagamento da primeira parcela, no valor de US$ 34 milhões, previsto para o início de dezembro, nunca chegou a acontecer.

Em fins de janeiro de 2019, a mídia corporativa ainda indagava à PETROBRÁS e à 3R Petroleum, sem sucesso, as razões da não assinatura do contrato. Em 25 de abril, em um comunicado denominado FATO RELEVANTE, a estatal anunciou a venda da concessão de Riacho da Forquilha para outra empresa, por US$ 384,2 milhões, e, de forma lacônica, informa que a nova empresa fora “selecionada após a desclassificação da 3R Petroleum”.

A volta

A volta da 3R Petroleum ao noticiário potiguar não tardou. Em 9 de agosto de 2019, novo Fato Relevante publicado pela PETROBRÁS anuncia a empresa como vencedora do certame para a aquisição do Polo Macau. Uma concessão com sete campos petrolíferos, e produção, à época, de 5,8 mil barris de óleo equivalente por dia (boe/d), sendo que um desses campos era compartilhado pela estatal com a petrolífera portuguesa PETROGAL.

Ainda segundo esse Fato Relevante, o contrato do Polo Macau foi assinado com a SPE 3R Petroleum S.A. (hoje 3R Macau S.A), subsidiária integral da, já então, 3R Petroleum e Participações S.A. – antiga 3R Petroleum que fora transformada em sociedade por ações em maio de 2019. Já a SPE 3R Petroleum, uma “sociedade de propósito específico” que passou a deter a concessão do Polo Macau, foi constituída menos de um mês antes do anúncio da venda dessa área.

Realizada em 17 julho, a operação envolveu a compra da Bunaken RJ Empreendimentos Imobiliários S.A. pela 3R Petroleum e Participações S.A., seguida da alteração da denominação social dessa empresa para SPE 3R Petroleum S.A.. Fato intrigante é que a própria Bunaken Empreendimentos Imobiliários havia sido constituída um pouco antes, em 11 de abril, conforme Ata publicada, a pedido, na edição de 17 de julho do Diário Oficial do Estado do RJ.

Revisitar

Nos últimos dias, provavelmente referindo-se ao Polo Potiguar, veículos da mídia corporativa norte-rio-grandense tem atribuído ao novo presidente da PETROBRÁS, Jean Paul Prates, declarações de que o contrato de compra e venda com a 3R Petroleum deverá ser “revisitado”. Em vídeo institucional distribuído à categoria petroleira nesta quinta-feira, 9, o coordenador geral do SINDIPETRO-RN, Ivis Corsino, declarou não ver nenhum problema nisso. Ao contrário.

Convencido da existência de equívocos e vícios nos processos de venda de ativos da PETROBRÁS no RN, Corsino informa que “o Sindicato tem ações judiciais e denúncias protocoladas junto ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério Público Federal”, e defende que “uma nova gestão, até por dever legal, deve auditar esses procedimentos e dar o tratamento adequado”. “Quem não deve, não teme”, afirma o dirigente sindical, citando o conhecido ditado popular.

Qualificação

O questionamento de aspectos relacionados à legalidade jurídica dos processos de venda de ativos pela PETROBRÁS não é a única preocupação do SINDIPETRO-RN. Segundo o diretor de Comunicação da entidade, Orildo de Lima e Silva, que também é presidente da Associação dos Geólogos do RN, o que está em jogo nessa história “é a exigência de qualificação minimamente necessária para operar dezenas de campos petrolíferos maduros e capacidade de investimento para manter a produção em níveis satisfatórios, explorando novas áreas”.

“Ainda que a 3R Petroleum e suas subsidiárias hoje possuam alguns profissionais e técnicos qualificados – vários fugindo da situação de desemprego, ou alguns aposentados, egressos da própria Petrobrás –, não podemos correr o risco de entregar 2/3 da produção estadual de petróleo e gás para uma empresa de papel, sem experiência no setor, e que nem sequer vem conseguindo resultados satisfatórios nas áreas em que opera”, alerta o diretor.

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